Ao seu jeito, o ‘Grande Eleitor’ passeava agora há pouco de cadeira em cadeira flexionando a cabeça em deferência a cada mulher, homem e criança, cumprimentando, abraçando, beijando, posando para selfies, num sorriso intermitente.
– Tudo tem o seu tempo, há tempo para tudo debaixo do céu – recitou Eclesiastes 3:1, indicador levantado ao cruzar com o Seguinte:, um Daniel Bordignon realizado pela sublimação de seus meticulosos afagos políticos dos últimos dias.
Sua experiência, entre avanços e recuos, variações da força da popularidade de quem tem voto, trouxeram à convenção do PDT que lançou Rosane Bordignon a prefeita e Alex Peixe a vice, a surpresa da confirmação do apoio de Dimas Costa, vereador mais votado da oposição e ainda do PSD (que em minutos indica Dilamar Soares como vice de Anabel Lorenzi) – saudado por Rosane como “alguém que eu lembrava como um menino e se transformou no melhor vereador de Gravataí e, se a história fosse diferente, poderia estar aqui em meu lugar”.
E mais a filiação de Bino Lunardi, candidato de mil votos pelo PT e, ainda, a inimaginável adesão de Lu, esposa de Valter Amaral, neste momento homologado candidato a prefeito na convenção do PT.
– Dizem que a Rosane está mal. Que achas, não está melhor que eu? – perguntou, sabendo a resposta, após o discurso da esposa, que surpreendeu aos que há muito não conviviam com a professora e ainda traziam na memória a luta dela contra depressão.
Ali estava a Rosane grevista dos anos 80, dirigente do Cpers, a presidente do PT que, entre os anos 90 e 2000 enquadrava o todo poderoso prefeito Bordignon e mandava-o sair da reunião do partido como um filiado qualquer.
Ali estava uma mulher na plena forma, superando seus fantasmas sem fachadas, enfrentando crises familiares comuns a mães, pais e filhos, energizada e apaixonada.
– Queremos debates! – exibia-se o prefeito eleito com 45.473 votos na eleição anulada por sua inelegibilidade, orgulhoso por mostrar às pessoas que a convivência entre os dois, da vida entre quatro paredes e nas divisórias de vidro da vida pública, tinha-os tornado muito parecidos.
Quem ouviu Rosane, parecia ouvir um Bordignon ‘de saias’.
– A rosa do PDT não simboliza a fragilidade da mulher. Ela é empunhada, como uma bandeira, e é segura com a mão esquerda – disse a candidata, compartilhando o orgulho de ser da Internacional Socialista, de “lutar pelos pobres” e “pela justiça social em todo planeta”, e em sua fala trazendo para a eleição de Gravataí a disputa entre “visões de mundo” que dividem o país e aparecem todos os dias em nossas timelines de facebook.
Num clássico ‘nós contra eles’, falou de Brizola, Lula e Dilma, pediu a saída do PDT do governo Sartori e seu parcelamento de salários, chamou Temer de traidor, golpista. Exaltou a vitória, armados de garfos e facas de cozinha, de simples cidadãos da Nicarágua contra os poderosos Estados Unidos.
Citou o Vietnã, Cuba.
– Nosso governo não terá nenhuma dúvida entre fazer obras no Dom Feliciano ou no Rincão da Madalena. Sabemos quem mais precisa de nós, sabemos quem representamos – discursou, sob os olhares de um Bordignon extasiado, que ouviu-a dizer, ao lado da vice-presidente nacional do PDT Miguelina Vecchio, do presidente estadual Pompeo de Mattos e do também ex-petista e anunciado como candidato a governador em 2018, Jairo Jorge, que como ela estivera ao lado dele por 30 anos, agora ele estaria ao lado dela.
– Não consigo mandar no Daniel, nem ele em mim. Mas temos uma aliança por uma causa. Como alguém que se elege com 35 mil votos, dobra a votação e, em pesquisa, é escolhido por 56% da população como o melhor prefeito da história, superando uma pessoa respeitada como Dorival de Oliveira, não seria chamado para ajudar a governar? – desafiou, dizendo que “95 mil pessoas não votaram em Marco Alba” e “45 mil pediram Bordignon de volta”.
– Pois justiça será feita e as pessoas vão votar Bordignon de novo! – provocou, sob comoção dos apoiadores, braços levantados entre Bordignon, Peixe e o presidente do partido Cláudio Ávila.
Quem testemunhou viu que o ‘poste’ é de carne, osso, tem algo a dizer e representa muita gente.