por dentro da Chape

Pegamos carona até Chapecó

O jornalista Sandro Rosa Vinciprova, o Sandro Vinciprova para os colegas, ou Sandrinho para amigos mais próximos e familiares, fez na semana passada uma imersão no mundo verde de Chapecó e da sua Chapecoense.

O portoalegrense de 38 anos que mora em Gravataí desde 2004, marido da Alethea e pai do Lucca, de quase dois anos, ficou quatro dias na cidade que se tornou o centro das atenções do mundo e que fica no Oeste catarinense.

Foi prospectar histórias para uma publicação especial do Jornal Ibiá, de Montenegro, onde ele trabalha desde novembro de 2014 depois de passar mais de seis anos do antigo Grupo CG e ter atuado nos grupos Sinos e RBS.

— Sou jornalista por insistência. Prestei vestibular para Medicina e Engenharia Mecânica. Mas não tive êxito. Sempre gostei de ouvir rádio, de  pilha, em AM, adorava notícias e futebol, e ler — conta, no começo desse bate-papo com o Seguinte:.

— Além disso, tenho uma prima jornalista, a Roselaine Vinciprova, de Cachoeirinha — acrescenta o profissional, formado em julho de 2006 na Unisinos, explicando como despertou seu interesse pelo Jornalismo.

 

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Confira a conversa com o Sandrinho!

 

O que fostes fazer em Chapecó?

— Uma reportagem especial sobre o recomeço da Chapecoense e como a cidade se recupera da tragédia.

Isso vai render um suplemento especial? Quando sai?

— É uma reportagem especial de oito páginas em um caderno publicado que já está circulando, foi publicado quarta-feira.

 

: Suplemento especial do Jornal Ibiá, de Montenegro, com as reportagens de Sandro Vinciprova

 

Quando fostes para Chapecó?

— Fui no dia 15 e retornei nos primeiros minutos do dia 19. Foram nove horas de viagem, de ônibus. Para passar o tempo aproveitei para ler jornais, livros, notícias e acessar as redes sociais no celular. E descansei, é claro.

Existe mesmo um clima de comoção na cidade?

— Digamos que o clima é de recuperação. O pior do baque já passou. É um povo apaixonado por futebol e pela Chape, que faz de seu estádio, a Arena Condá o seu ponto de encontro. 

Qual o peso que a tragédia com a Chapecoense ainda tem na cidade?

— A tragédia colocou a cidade e o clube no mapa do mundo, literalmente. Por mais estranho que seja o turismo cresceu. Brasileiros e estrangeiros têm buscado o Oeste catarinense para conhecer o clube e a cidade, deixando por lá muitas divisas em uma comunidade rica e forte economicamente.

A cidade ainda está coberta com o verde da Chape?

— Sim, é possível ver a camisa da Chape em todas as ruas, assim como bandeiras e adesivos em diferentes lugares. É impressionante a demonstração de paixão pelo time na cidade.

As pessoas são receptivas, comentam a tragédia com facilidade?

— O povo de Chapecó é educado, receptivo e extremamente hospitaleiro. Todos estão sempre dispostos a ajudar quem chega por lá, a trabalho ou a passeio. A tragédia é comentada por todos, basta puxar uma conversa, embora não haja um clima de baixo astral, ajudado pela volta do time ao futebol. A Chapecoense empatou em 2 a 2 com o Palmeiras no Jogo da Solidariedade, sábado (21/1). E no domingo que vem (29) estreia no (Campeonato) Catarinense, em casa, contra o Inter de Lages. A Chape é a atual campeã estadual.

É fato que a tragédia e a presença de milhares de pessoas – imprensa, autoridades, turistas… – incrementaram o comércio de Chapecó?

— Correto. Profissionais do mundo inteiro acompanharam os dias anteriores à reestreia e ao próprio jogo. Somente no sábado, na Arena Condá, havia 241 profissionais credenciados do Brasil e mais nove países, incluindo o Catar. E muitas destas empresas de comunicação de fora mandaram mais de um profissional.

Quem, significativo, tu conheceu lá?

— Poderia citar o técnico Vagner Mancini, profissional gabaritado, com passagens como técnico, inclusive pelo Grêmio, e campeão da Copa do Brasil, como jogador. O atacante Wellington Paulista, de 33 anos, com passagens por vários clubes brasileiros, inclusive o Inter. Com ambos tive a oportunidade de conversar durante a (entrevista) coletiva.

 

: À esquerda Sandro, registrando a cidade. Ao lado, Wellington Paulista, atacante da Chape

 

Sobre os jornalistas estrangeiros, ainda são muitos por lá?

— São. Na semana que estive lá, por conta do jogo contra o Palmeiras, havia muitas equipes do exterior. Como disse antes foram nove países que mandaram profissionais. Tive bastante contato com os franceses da TV 2 Pública, que estavam em Chapecó desde segunda, e do canal DW, da Alemanha, que chegaram na quarta anterior ao jogo. Foram credenciados profissionais da Inglaterra, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Turquia, Argentina, Suécia e Catar.

Com quem tu conversou dos que estavam no avião?

— Foram 21 entrevistas em três dias úteis, sendo 11 pessoas nas ruas para uma enquete. Conversei com muita gente, do vice-presidente do clube ao prefeito da cidade. Dos sobreviventes, entrevistei o zagueiro Neto e o narrador Rafael Henzel.

O que mais te marcou, profissionalmente, nessa passagem por Chapecó?

— A oportunidade de trabalhar como enviado especial em um fato mundial. Estive ao lado de colegas do mundo, todos fazendo a mesma pauta, mas cada um com o seu olhar e o seu foco. Além disso, eu representava o único veículo de porte menor, mas mesmo assim, e em momento algum, fui discriminado. Pelo contrário, tive uma atenção elogiável de simplesmente todo mundo.

E o que mais te atingiu, emocionalmente?

— A força, a bravura e a vontade de viver do zagueiro Neto que jamais deixou de manifestar sua fé em Deus. Ele ainda se recupera dos graves ferimentos que sofreu – quebrou os dois pulsos, teve lesões no joelho – e tinha se recuperado de uma lesão na cervical no Catarinense. Depois da tragédia, quando retornou para casa, sequer conseguia tomar banho sozinho. Precisava da ajuda da mulher que lhe banhava enquanto ficava sentado em uma cadeira no box. Uma frase dele que me marcou foi: "Um homem sem fé é um homem fadado à morte".

 

: Zagueiro Neto, o mais requisitado para entrevistas, ainda está se recuperando das lesões sofridas

 

E qual a boa história que tu pode contar?

— Nossa, muitas! Primeiro do prefeito Luciano Buligon, torcedor fanático da Chape. A capinha do iPhone dele tem o escudo da Chape atrás. O político viaja com a delegação nos jogos e por pouco não esteve no trágico voo. De personalidade forte, fazia discursos emocionados nos voos na volta dos jogos. O povo de Chapecó, por ser apaixonado pela Chape, e ser um cidade de 210 mil habitantes, sabe e conhece a rotina dos jogadores. Sem muitas opções de lazer, é muito comum a torcida encontrar e conviver com seus ídolos nas ruas, em praças, restaurantes e comércios, gerando uma afinidade incrível. O que acaba sendo incomum em se tratando de um time de Série A de Brasileirão, em que há toda uma blindagem para restringir o acesso de torcedores e impresa.

De tudo que tu viu e ouviu, qual a tua conclusão sobre o que aconteceu?

— É difícil tirar uma conclusão além do que já se sabe. O piloto foi irresponsável ao fazer um voo sem combustível, diferente. E que não houve falha mecânica.

Chapecó é mesmo uma outra cidade depois da tragédia?

— Sem dúvida. A Chape não cabe mais na cidade. Por causa do que aconteceu o clube ganhou dimensões mundiais e será sempre, ou pelo menos por muito tempo, destaque na imprensa do mundo. Antes mesmo da tragédia o clube trabalhava para dobrar a capacidade do estádio, dos atuais 20 mil para cerca de 40 mil, em um investimento de R$ 21 milhões. A origem dos recursos são emendas parlamentares, já que o estádio é municipal.

O bairrismo do chapecoense é um exemplo para outras cidades?

— Claro, com certeza. Ao mostrar como um povo unido, que pega junto e ama o clube, fez da Chape, que sequer tinha divisão no futebol brasileiro, uma equipe da Série A e campeã da Copa Sul-Americana.

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