O Diego Nunes, do Memória Cinematográfica, relembra para o 3º Neurônio do Seguinte: a carreira da bailarina brasileira Mercedes Batista
Mercedes Baptista (1921-2014) foi uma importante bailarina brasileira, nascida em Campos de Goytacazes, no Rio de Janeiro. Sua primeira aparição artística foi no carnaval de 1939, quando participou do concurso Rainha do Bloco Tico Tico, promovido pela revista infantil de mesmo nome. Mercedes foi eleita segunda princesa do pleito. De família pobre, começou a trabalhar muito cedo como bilheteira de cinema. A menina, que quando escapava da bilheteria, ia espiar a sala de projeção, sonhava em ser uma artista como àquelas que via nas telonas.
Em 1945 entrou para a Escola de Dança de Eros Volusia, e depois, em 1948, passou no concorrido concurso do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se a primeira bailarina negra a integrar o grupo. O diretor Yuco Lindberg a escalou como protagonista do bailado Dança de Yracema, com coreografia de Laura Figueiredo, talvez seu mais destacado trabalho no Municipal.
: Mercedes Batista como Yracema
Em seguida, ingressou no grupo Teatro Experimental do Negro (TEN), de Abdias Nascimento, ao lado de Ruth de Souza, Haroldo Costa e Santa Rosa, tornando-se uma militante pela igualdade dos artistas negros no teatro brasileiro. No inicio dos anos 50 ganhou uma bolsa de estudos para estudar com a dançarina americana Katherine Dunham e ao retornar ao Brasil montou seu próprio grupo, que mesclava o clássico com danças afro-brasileiras. Em 1953 fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, mas também apresentou-se na TV Tupi do Rio e no Teatro de Revista, em espetáculos como è Tudo Juju Frufru (1958), com a famosa travesti Ivaná.
: Gafieira Estudantina Musical, com Valter Ribeiro
Em 1963 firmou parceria com o carnavalesco Fernando Pamplona e criaram o enredo Chica da Silva, da escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Mercedes fez a coreografia da comissão de frente. A escola não só foi campeã, como o enredo virou um espetáculo de Carlos Machado, com Isabel Valença como Chica, e a com a própria Mercedes e seu corpo de bailes. Em 1966 sua escola fechou por problemas políticos e a artista foi para Portugal, onde apresentou o espetáculo Tropicalíssima (1969). A escola seria remontada na década de 80.
Em 2008 foi homenageada com o samba enredo da Acadêmicos do Cubango (grupo de acesso das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) . No cinema, Mercedes Baptista apareceu nos filmes: Vai Que é Mole (1960), Manaus, Glória de Uma Época (Und der Amazonas schweigt, 1963) e Os Vencidos (1963). Também foi coreógrafa da produção alemã Manaus Glória de Uma Época e Samba em Brasília (1960).
Trailer do filme Manaus, Manaus Glória de Uma Época (1963)
A artista faleceu em 18 de agosto de 2014, aos 93 anos. Em outubro de 2016 uma estátua em sua homenagem foi inaugurada no Largo de São Francisco da Prainha, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro.
Diego Nunes, formado em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo, é pesquisador da memória cultural e artística, e sua paixão é o cinema. Além disso, atua como diretor cultural da Pró-TV, Museu da TV Brasileira, e no departamento de arquivo da Rede Record de Televisão.
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