Os primeiros 15 dias da dupla MM – Miki Breier e Maurício Medeiros – à frente da Prefeitura de Cachoeirinha foram considerados pelo chefe do Executivo como positivos. Miki, o prefeito, e Maurício, o vice, na verdade, ainda estão concluindo a “montagem” da estrutura administrativa.
Para isso os dois se debruçaram nestas duas primeiras semanas sobre muitos papéis e fizeram reuniões para analisar o quadro herdado do antecessor, Vicente Pires. O maior dilema dos dois é administrar a folha do funcionalismo que, no ano passado, foi paga com atraso – e parcelada – na maior parte do tempo.
O segundo maior problema é solucionar as pendências acumuladas com fornecedores e prestadores de serviços. Por exemplo, a questão da limpeza urbana. A dívida com a empresa que presta o serviço foi renegociada e parcelada, e a limpeza urbana – recolhimento de lixo e entulhos – voltou a ser feita.
Na pindaíba
O próprio prefeito – do PSB – Miki alerta, ao comemorar o pagamento integral da folha de dezembro no dia 4 de janeiro, aos quase quatro mil funcionários da Prefeitura, que a situação é difícil e talvez isso não se repitra nos próximos meses por conta da falta de grana em caixa.
— Conseguimos pagar em dia, mas isso só foi possível por conta da arrecadação do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) — disse.
E advertiu:
— A situação financeira da Prefeitura não é tranquila. A diminuição na arrecadação não é um fenômeno só em Cachoeirinha, mas praticamente no Brasil inteiro, e isso impacta diretamente nos compromissos que temos.
Caixa preta
Miki continua sendo “bom moço” e evita aprofundar qualquer tema que possa alimentar uma indisposição com seu correligionário, o ex-prefeito Vicente Pires. Principalmente se o tema for a dívida herdada, uma “caixa preta” que a dupla MM não abre e não revela o montante nem sob tortura.
Embora diga que ainda estão sendo juntadas as peças necessárias para o somatório total, sabe-se, por exemplo, que a Prefeitura que têm a sétima economia do Estado deve mais de R$ 25 milhões para fornecedores e prestadores de serviços. Números extra-oficiais e que podem ser ainda maiores.
— A gente não fez ainda o levantamento total e estamos vendo, em cada área, o que pode ser feito — desconversa o mandatário.
Sexto parcelamento
O socialista admitiu entretanto uma preocupação especial com o Instituto de Previdência dos Servidores de Cachoeirinha. O rombo a ser coberto estaria na casa dos R$ 60 milhões e, segundo Miki Breier, a administração municipal tem que pagar seis parcelas mensais, de seis refinanciamentos diferentes feitos para regularizar o Iprec.
— A dívida com o Iprec é muito grande e o prefeito Vicente, no final, fez um novo parcelamento. Agora temos seis parcelamentos só com o Instituto de Previdência e isso também coloca o Município, sob o ponto de vista dos financiamentos, numa questão delicada — escorregou alfinetando Vicente sem querer alfinetar ninguém.
Uma terceira preocupação do governo MM é tirar a Cachoeirinha do Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (CAUC), que é o SPC das prefeituras. Sem falar em valores, Miki disse que no máximo nesta semana a Prefeitura deve voltar a ter o “nome limpo” na praça.
Com isso será possível requerer empréstimos e repasse de verbas pelos governos estadual e federal para a execução de obras. O prefeito não antecipou quais empreendimentos estão sendo planejados, mas disse são financiamentos a serem obtidos da União.
: Dupla MM – Miki e Maurício – fez o lançamento do novo slogan da Prefeitura de Cachoeirinha
Cara da cidade
Óbvio que 15 dias é tempo mais do que exíguo para que as mudanças comecem a ser percebidas pela comunidade. Então, prefeito, quando é que começa a mudar a “cara da cidade”?
— Acredito que a “cara” de Cachoeirinha vai ser mudada aos poucos. Por exemplo, quando a gente abre o gabinete em duas quartas-feiras para receber a população e quase 100 pessoas foram falar com o prefeito para levar sugestões e apresentar demandas, quando a gente faz o “Prefeitura com a Gente” no bairro (sábado passado foi na Praça da Juventude, na Granja Esperança), ou quando conversamos com o secretariado mostrando uma nova forma de governar, isso já dá uma “cara” um pouco diferente — disse Miki Breier.
E completou:
— Claro que, sob o ponto de vista das obras que a cidade tanto precisa, quem sabe ao final de 100 dias a gente já tenha uma visão um pouco diferente, realizando aquilo que pretendemos.
O prefeito disse:
“O risco de termos que atrasar ou parcelar os salários existe e isso pode ser já a partir de fevereiro e vai se estender ao longo de 2017. Este vai ser um ano, talvez, um pouco pior que 2016”.
Cinto apertado
Antes mesmo de assumir a principal cadeira de Cachoeirinha, Volmir José Miki Breier, eleito em 2 de outubro passado com 34.369 votos (57,77%) anunciou a redução das secretarias – de 19 para 12 pastas – e a adoção de um modelo de gestão que prevê a revisão dos contratos então existentes.
— Estamos revendo todos os contratos e vamos cortar alguns, aqueles que forem possíveis, sem trazer prejuízos aos serviços mas fazendo com que possamos economizar.
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Nos bairros
Sábado passado o governo municipal promoveu a primeira edição do “Prefeitura com a gente”, na Praça da Juventude que fica na Granja Esperança. Todos os secretários foram intimados para conversar com a população, ouvir as demandas públicas e, obviamente, explicar as razões para a não realização de obras de imediato.
A ideia é que a cada 15 dias um bairro de Cachoeirinha seja contemplado com o “Prefeitura com a gente”, o que não significa comprometer a administração junto às pessoas diante do eventual não atendimento das suas reivindicações, na opinião do prefeito Miki.
Na ocasião o prefeito e o vice também fizeram o lançamento do slogan da nova administração municipal: “Cuidar de todos muda tudo”.
— A marca que estamos lançado significa que queremos cuidar das pessoas. Dos que moram, dos que circulam por Cachoeirinha e dos que empreendem na cidade — explicou.
Risco calculado
O secretário de Governança e Gestão da Prefeitura, Juliano Paz, admite que a repactuação das dívidas herdadas pode comprometer a administração que começou dia 1º de janeiro ao ponto de passar boa parte dos quatro anos do mandato apenas pagando contas.
— Esse risco existe, mas estamos trabalhando para pagar a curto prazo aquelas dívidas mais imediatas e urgentes, e parcelando da melhor maneira possível aquelas que são maiores e cujos credores aceitem nossas propostas de negociação — explicou.
: Secretário Juliano Paz admite risco de comprometer o governo se ficar quatro anos apenas pagando contas
A renegociação das pendências é a forma que o novo governo encontrou para colocar as finanças em dia e, ao mesmo tempo em que quita os débitos, busca dinheiro novo e trata de investir em obras e ações mais urgentes à população. É um complicado jogo de xadrez.
— É bem difícil a situação, mas nós vamos chegar lá — disse o secretário Juliano Paz, mostrando-se otimista.