Ideológica Anabel Lorenzi é, pelo menos em sua persona de facebook. Basta correr a timeline para, principalmente nas entressafras de campanhas, permitir aos mais reacionários clicar nos botões Uau ou Grr a cada pensamento da professora.
Quando candidata a deputada estadual, na ‘eleição que não terminou’ e agora no ‘veraneio das urnas’, a ex-vereadora resguarda-se um pouco mais, como é natural quando se representa não mais uma opinião pessoal, mas um projeto.
Mas, corajosa e, saudações, honesta com seus seguidores, nunca apagou uma publicação sequer, mesmo quando pediram que o fizesse. Se apoia Jean Wyllys, posta. Se simpatiza com Fidel, posta também. Azar se chamarem-na de ‘esquerdopata’ ou até ‘petralha’.
Mas a sobrevivência das ideologias é dura fora do mundo virtual. Na caminhada para ser eleita prefeita, Anabel vive outra vez o dilema. Se no ‘primeiro turno’ o casamento de conveniência com o vice-prefeito de Marco Alba (PMDB) Francisco Pinho (PSDB) assustou os mais puristas, as alianças do ‘segundo turno’ seguem o mesmo padrão.
O PSD, partido com o qual acertou que, chegando à Prefeitura, dividirá o governo com seu PSB, é mais do que uma interrogação ideológica. É reticência.
Nacionalmente, tem como pai e expoente o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Conservador de direita, dissidente do DEM, é o ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) que com o impeachment pegou com Michel Temer (PMDB) a ponte para o futuro, e para a permanência no Ministério, e que se notabilizou na Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações ao despertar os paneleiros virtuais do Anonymous ao mencionar a possibilidade de limites à internet dos 100 milhões de usuários brasileiros, em seus celulares, casas ou casebres.
No Rio Grande do Sul, além do até agora opaco vice-governador José Cairoli, mais homem de negócios do que político, o partido escala-se na popularidade de um ídolo dos gramados, o goleiro Danrlei de Deus que, em matéria de ideologia, sabe-se apenas que cobrava o tiro de meta com o pé direito.
Na aldeia, além do presidente João Portella, um privatista simpático ao Escola Sem Partido, o PSD prometeu e não entregou para Anabel um constrangido Levi Melo, cara pintada do Parcão que, após desistir do vice, abriu caminho para Dilamar Soares. O vereador, como não seria diferente a um maçom, sempre esteve, tanto quando foi líder do governo Marco Alba, como antes, no PT, mais à direita do centro do que a socialista.
Dia desses, até levou-a a um almoço, no shopping, com Ernani Piccoli, entusiasta do ideário liberal, para convencer o engenheiro a participar da campanha.
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Mas a esquizofrenia ideológica não contamina só a chapa. Neio Lúcio Pereira, da casta do politburo do PCdoB (partido que é um aliado natural, mesmo que de uma esquerda para uns pragmática, para outros adesista, por antes de estar com Anabel ter participado do governo Marco e apoiado a candidatura impugnada de Daniel Bordignon), foi o responsável por anunciar aos internautas da aldeia a coligação com o PSC, que conduzido por Paulo Moreno deixa a campanha pela reeleição de Marco.
Aos desavisados, é um comunista apresentando como aliado o partido pelo qual foi eleito, e fez das suas, Jair Bolsonaro, superlativo do contrário de tudo que Anabel acredita.
Talvez amarrada pelas conveniências, somente uma tímida postagem no facebook da candidata saudou a adesão do Partido Social Cristão, na noite desta terça.
Ao menos até agora, como meme da miscelânea ideológica, pode-se dizer que Anabel apresenta à aldeia uma candidatura MarxDonald´s.