Morreu ontem, dia 3 de janeiro, a atriz Vida Alves, uma batalhadora da preservação da memória da televisão nacional.
Pioneira da televisão, era presidente da Pró-TV (Associação dos Pioneiros da Televisão), um museu com objetivo de preservar a história da TV Brasileira, surgida em 1993, no enterro do diretor Cassiano Gabus Mendes.
Vida nasceu em Itanhadu, Minas Gerais, em 15 de abril de 1928. Filha do engenheiro Heitor Alves, que também era poeta (batizando os filhos de Helle, Vida, Homem, Poema e Ritmo).
Com seis anos de idade perdeu o pai, e mudou-se com a família para São Paulo, na casa da avó materna. Aos 10 anos de idade, a menina que gostava de brincar de teatro participou de seu primeiro programa de Rádio, sendo entrevista por Nicolau Tuma na Rádio Educadora Paulista.
Logo começou a trabalhar no programa radiofônico Clube do Papai Noel, de Homero Silva, na Rádio Difusora de São Paulo, era cantora mirim, e imitava Carmen Miranda.
Começou a receber cachê quando ingressou no elenco das rádio novelas, fazendo o papel de um menino na novela radiofônica A Vingança do Judeu, na Rádio São Paulo, daí não parou mais.
Em 1944 ingressou no elenco fixo da Rádio Panamericana, sendo dispensada em seguida. Passou por diversas emissoras como a Cosmos, Cruzeiro do Sul, Standard Propaganda e Rádio Cultura, até chegar à Rádio Tupi, contratada por Walter Foster. Seu teste de voz foi feito pelo então técnico de som Lima Duarte.
Um dia Vida Alves jogava peteca com os colegas de emissora em um terreno no Sumaré ao lado da rádio, quando Assis Chateubriand se aproximou com engenheiros medindo o local.
Quando perguntaram o que estava acontecendo, Chatô disse que ali construiriam a primeira emissora de televisão da América Latina. Walter Foster perguntou: “e onde jogaremos peteca?”.
A televisão foi inaugurada em 18 de setembro de 1950. Vida não participou do show inaugural, pois estava grávida de quase nove meses, e naquela época mulheres grávidas não podiam aparecer publicamente, não era de bom tom.
Poucos dias depois, deu à luz a sua primeira filha, e fez sua estreia na TV, em um número musical com o cantor mexicano Carlos Ramirez.
Logo Vida Alves tornou-se uma das atrizes mais requisitadas da televisão, sendo protagonista da primeira novela exibida, Sua Vida Me Pertence (1951), onde no último capítulo, protagonizou o primeiro beijo da nossa televisão, no colega Walter Foster.
Ainda não existia o vídeo tape, e tudo era ao vivo, portanto não existem registros do momento, nem fotos, já que o fotógrafo da TV Tupi achou que não era apropriado registar tal momento, e tirou somente a foto antes e depois do beijo.
Mas ela não era só atriz, escreveu e dirigiu programas, novelas e apresentou programas femininos. Também criou o primeiro programa interativo da TV, O Tribunal do Coração, onde o espectador votava por carta o desfecho do julgamento apresentado na semana anterior.
Vida usou como base para os roteiros sua experiência como advogada, tendo se formado em 1947 na faculdade de direito do Largo São Francisco.
Em 1966 Vida protagonizaria outro beijo polêmico, ao dar o primeiro beijo homossexual da TV, na atriz Georgia Gomide, na encenação da peça Calúnia no Grande Teatro Tupi.
Em 1978, após a morte do marido, a atriz deixou a televisão, dedicando-se a vida de palestrante e dando aulas de oratória e como falar em público. Mas nunca perdeu contato com os antigos colegas dos primeiros dias da TV.
Em 1993 deu os primeiros passos para a criação da APITE, Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira, hoje Pró-TV.
Participou de quatro filmes? Chuva de Estrelas (1949), Quase no Céu (1949), Paixão Tempestuosa (1954) e A Pequena Orfã (1973).
Vida Alves morreu aos 88 anos.