a palavra

Tudo o que eu disse

A palavra é instrumento de trabalho para jornalistas e poetas.

 

Menosprezar um artista por suas escolhas políticas, ou por seu gênero, ou por qualquer outra condição é, sem dúvida, perder conhecimento; é deixar de usufruir de sua criação estética.

 

Vi ali estudantes que, em razão da dura realidade que vivem, pensavam na experiência literária como mera inutilidade. Ao final do diálogo, porém, muitos foram à biblioteca procurar livros de poesia.

 

Dificilmente temos acesso a obras literárias de autores africanos, mas é preciso que se diga que há riquíssimas produções, especialmente da África que fala em português.

 

Abismo é quando se desconhece o quanto de enriquecedor há na cultura, na literatura, na história e na arte africana.

 

E essas fantasias advêm do tamanho de nosso desconhecimento, tanto sobre a própria cultura oriental, quanto sobre os próprios aspectos que nos aproximam, como o fato de sermos, Timor-Leste e Brasil, ex-colônias portuguesas.

 

Para uma empresa, pessoas são números. Pessoas escrevem currículos, números são contratados. Números são demitidos. Pessoas explicam ao filho que uma segunda-feira não é feriado só porque estão mais cedo em casa.

 

Quando chegou à pracinha, olhou para os lados, evitando o olhar atravessado de algum vizinho – pai, avô ou tio de uma criança de domingo festivo. Mas a repreensão já estava lá, na forma de um enorme cadeado preso às correntes do balanço.

 

A violência que nos assola, a indiferença e a intolerância que marcam nossa geração passam por esse silêncio a que relegamos a voz da poesia e das crianças, da arte e da cultura.

 

O tradutor é como um vidro: se faz um trabalho bom, ninguém enxerga, ninguém comenta; se faz um trabalho ruim, é como se o vidro estivesse sujo, todo mundo sabe (ou, pelo menos, imagina) que houve algum problema.

 

No sonho, eu subia ao ônibus. A barriga imensa, sete meses de gestação, a dificuldade de passar na roleta. Entreguei uma nota de dez reais ao cobrador, que me deu o troco em notas de um real.

– Mas notas de um real já não são mais aceitas! -, recusei.

 

Entre localizar uma gestante e ceder o lugar, não há apenas a ausência de um olhar: falta o olhar sensível, da gentileza. Falta pensar no outro como alguém que me afeta. Falta afeto.

 

Um castelo de cartas, a boca do vento nas harpas, o real no meio da travessia, as palavras voláteis, a neurose de nem sempre saber viver ao vivo: tudo isso e muito mais é o ofício da escrita.

 

Não tenho resposta. Tenho taças, terremotos, moscas e ventiladores. Formigas também. E, vez por outra, faço todos esses conviverem em alguma coisa que escrevo.

 

A fronteira, o limite e a geografia fazem parte de uma organização externa e coletiva que não pode – e não deve – impedir o convívio plural e pacífico de que, em toda nossa humanidade, somos capazes.

 

Mesmo que se pense na obra literária como objeto puramente estético, que pode ser lido independentemente de seu tempo, não há como negar (eu, pelo menos, associo-me a essa ideia) que ela é fruto de uma relação com seu contexto histórico-social. Ainda que por meio da ficção, registra modos de viver.

 

Era apenas um varal.

Mas pelo peso que sustentava, pelas roupas que aumentavam de tamanho a cada ano, sabia que o primeiro bebê havia crescido. E que outro viria, a julgar pelas pecinhas pequenas que surgiram novamente sob o sol, exalando o cheiro de sabão neutro glicerinado.

 

Vamos trabalhar, estudar, passear, cuidar dos filhos. Às vezes, vem aquela lembrança – flor amarela e medrosa – mas seguimos, é preciso. Seguimos imóveis em nossa mobilidade diária. Mortos de medo na vida aprisionada que nos cabe.

 

Não se faz educação sem diálogo. Nesse caso, a diferença entre a forma e conteúdo tem, sim, um sentido e um objetivo bastante peculiar. É preciso estar atento.

 

Em minha provável última semana de gestação, espero para ver o rosto do Artur, meu segundo filho.

Espero para ver o rosto do Augusto, meu primeiro filho, conhecendo o rosto do meu segundo filho.

Escrevo enquanto espero.

 

O mundo em 16 de outubro:

Domingo, carro, chuva, flor, assalto, parque, filme, livro, ensaio, almoço, pavê (ou pracumê?), cachorro, gato, roupa, varal, viagem, pneu furado, futebol, amigos, sol, quarto, cama, prova, ônibus, bolo, cerveja, sono, televisão, pátio, acidente,  banho, pijama, ressaca, internet, notícia, voto, tédio, texto.

Vida.

O meu mundo em 16 de outubro:

Artur.

Vida.

 

Não se educa com mero controle, mas sobretudo com vigilância e diálogo.

 

A escola é espaço de preparação e é fundamental para debater temas importantes para a sociedade, o que não significa ser doutrinador. Educação não é conteúdo, mas capacidade de refletir sobre aquilo que se aprende.

 

As escolhas dos links, piadas e imagens que compartilho dos outros, os comentários feitos nas postagens alheias (e quanto podemos nos horrorizar ao ler certos comentários), o que curto, amo, entristeço ou critico em relação ao que publicam denuncia muito sobre minha visão de mundo.

 

Uma tragédia de grandes dimensões como a que ocorreu com a Chapecoense foi capaz de causar uma comoção também de grandes dimensões. Um país inteiro chorou. A solidariedade de tantos outros países chegou até o Brasil. Todos nos reconhecemos na única certeza que nos iguala como seres humanos: a morte.

 

Crianças são atentas e observam muito. Não precisam de explicações profundas, mas não devem ficar sem resposta. Cada fase tem um nível de maturidade, e é muito importante esse diálogo. Qualquer assunto é possível.

 

Nós criamos expectativas e as lançamos ao encontro da primeira aurora de janeiro, na intenção de que cada dia do ano que começa guarde consigo sua parcela de contribuição à realização de todos os nossos sonhos, sejam eles palpáveis ou não.

 

***

 

Este é um texto meio doido, feito de pedaços de todos os textos (e fatos, e ideias, e sentimentos, e conhecimentos) que compartilhei com vocês neste ano.

 

Obrigada a todos os leitores do Seguinte:, por estarmos juntos, entre palavras, em 2016!

 

E que nossas expectativas se tornem realizações em 2017!

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