Qualidade de vida, espírito aventureiro, tempo disponível e condições financeiras. Se o leitor colocar todas estas poções num caldeirão vai encontrar o empresário José de Jesus Teiga Júnior, 53 anos, um apaixonado por motos que já percorreu tantos países que nem lembra quantos.
— Não sei mesmo, mas já fui a muitos. Já viajei, por exemplo, desde o ponto mais ao Norte da América do Norte, no Alasca, até Ushuaia, na Argentina, que é a cidade mais ao Sul da América do Sul. Passei por todos os países — conta.
Teiga Júnior, pai de José Roberto, de 21 anos, e Gabriel, de 17, realiza estas viagens de aventura duas vezes por ano, cada uma com períodos de duração entre 20 e 30 dias. Já viajou em grupos grandes, com vários motociclistas, mas prefere andar com mais dois ou três companheiros. E já viajou sozinho, por até 19 mil quilômetros, pela América do Sul.
É que, com menos gente, fica mais fácil conseguir acomodação em hotel, a logística é agilizada, abastecimento é mais rápido, tudo acaba facilitado. Ou seja, a viagem flui com maior desenvoltura possibilitando percursos maiores ou visitação a mais pontos turísticos.
O fisioterapeuta e administrador de empresas por formação acadêmica, com especialização em Logística de Transporte, é filho de um dos fundadores – José de Jesus Teiga – da empresa Sociedade de Ônibus Gigante Ltda, a Sogil, lá no distante ano de 1954, e está na empresa desde 1976.
Em 2008 ele e o sócio, Sérgio Pereira, decidiram por um modelo de gestão diferente. Optaram por contratar um profissional gabaritado para tocar os negócios e assumiram o Conselho de Gestão da Sogil. Com isso, passaram a ter mais tempo para “pensar” a empresa, participando de reuniões mensais e – mais amplas – trimestrais.
Representação
Foi quando Teiga Júnior assumiu sua versão motociclista e, com um sócio, conseguiu uma concessão das motos Kawasaki do Brasil, em Porto Alegre. Ele e Alexandre Müller compraram uma loja multimarcas, estruturaram o novo negócio e, logo em seguida, começaram a realizar viagens de turismo pela América do Sul.
— A partir daí comecei a andar, a rodar por aí, e me joguei nessa ‘brincadeira’ de viajar! — recorda ele.
Essa brincadeira, além das três américas, já rendeu viagens por toda parte ocidental da Europa (Portugal, Espanha, Itália, França, Suíça, Inglaterra, entre outros). Mais recentemente passou pela Noruega, Suécia e Dinamarca.
Antes ele e amigos estiveram na Austrália e Nova Zelândia, e na África pilotou sua BMW GS Adventure de 1.200 clindradas pelo Marrocos, África do Sul, Tanzânia, Quênia… Sobre a moto, ele garante que é o modelo mais equipado para o tipo de turismo que realiza.
E a próxima aventura já tem data agendada e roteiro definido. Vai ser em janeiro que vem pela Tailândia, Laos e Vietnã. A preparação, toda ela registrada, envolve não apenas pontos turísticos a serem visitados, mas a cultura do povo, a gastronomia e até modo de vestir e se portar, de forma a não cometer gafes ou quebrar as regras do país.
Mas Teiga Júnior tem mais duas máquinas além da sua potente BMW 1.200: uma nos Estados Unidos, na casa de um brasileiro que é parceiro destas empreitadas, também BMW e igualmente modelo Adventure, mas de 800 cilindradas. No Brasil, aliás, em Gravataí, tem só mais uma, “bem simplesinha”: uma BMW Scooter 600.
Assista ao video:
A viagem ao Glacial Perito Moreno, na Argentina.
Não olhe pro guarda!
Uma das viagens mais emblemáticas empreendidas por Teiga Júnior foi ao Monte Everest, pelo lado do Tibet, que é menos comum, onde o governo da China dificultou ao máximo a visitação por parte do grupo do qual fazia parte. Várias vezes os motociclistas-turistas-aventureiros foram interpelados pela polícia.
Eles, e Teiga Júnior junto, eram colocados em salas minúsculas enquanto os guardas revistavam equipamentos e verificavam mochilas, registros fotográficos e filmagens. Em Lhasa, capital do Tibet, foram alertados para que sequer olhassem para os militares.
— Na chegada já nos colocaram dentro de um ônibus e nos levaram para fora da cidade, para um centro de condução, onde ficamos por umas três horas. Nos falaram sobre como devíamos nos comportar em território chinês e ensinaram como conduzir para nos dar uma habilitação provisória — conta o aventureiro, que também é escritor.
Segundo ele, em uma cidade os militares chineses não queriam permitir nem mesmo que entrasseM na área urbana. Como o grupo estava com toda documentação em ordem, foi-lhes permitido pernoitar, com um compromisso: às 6h da manhã deveriam, todos, estar fora da cidade.
— No outro dia, na hora marcada, eles abriram todas as portas de onde estávamos dormindo e já mandaram a gente sair. Tivemos que tomar um café meio que na correria e no pátio mesmo.
Acidentes
Teiga Júnior fala dos acidentes com moto com a maior naturalidade, como se fosse algo absolutamente normal. E deve ser, para quem roda por tantos e diferentes tipos de estrada, desde asfalto, cascalho, no gelo ou na neve.
— Já tive acidentes, mas nada grave. Teve um na Cordilheira (dos Andes) que fraturei três costelas. Já quebrei as duas pernas, mas também pouca coisa.
São acidentes que ele sofreu em estradas de chão.
— Pilotar em off-road exige muita perícia — alerta o motociclista que pilota desde os 13 anos, há 40 anos, portanto.
Assista ao video:
A subida ao Monte Everest pelo lado tibetano, na China.
País mais bonito
Na opinião de Teiga Júnior um dos países mais bonito de todos que já visitou é a Noruega. Tanto que recomenda não apenas aos motociclistas-aventureiros, mas a todos que têm disponibilidade e vontade de viajar a turismo.
— E é um país muito seguro, Isso é uma das coisas que mais gosto.
Outro lugar que ele destaca é o Sul do Chile, aqui na nossa América mesmo, especialmente a “carretera austral” (estrada) por, segundo explica, conter o que chama de mistura daquilo que pode ser visto mundo afora.
— É um lugar que ainda não sofreu tanto com a interferência do homem. Tem paisagem, oferece aventura, rios, gelo, tudo de bom.
Assista ao video:
Lugar especial
Mas pelo menos um lugar Teiga Júnior considera especial e diz que, quem puder, deve visitar e conhecer, que é São Pedro do Atacama, no Norte do Chile.
— É um dos lugares mais lindos e diferente de tudo. Recomendo para qualquer viajante. Para um motociclista, então, andar lá em cima é fantástico.
Lembranças X cuecas
Na sua casa, em Gravataí, o diretor da Sogil e amante das motos BMW diz que tem um altar no qual guarda as lembranças que traz das viagens. Ele conta que pode ser uma simples pedra, ou uma peça de artesanato, mas que sempre procura guardar algo dos lugares por onde passa.
Geralmente são lembranças pequenas, porque os bagageiros da moto não comportam objetos maiores. O espaço deve ser aproveitado para as roupas e acessórios de proteção, meia dúzia de camisas, meia dúzia de cuecas, três pares de meia, botas, tênis, calça de brim, não mais do que isso.
O livro = A internet
A experiência como motociclista e aventureiro motivou José de Jesus Teiga Júnior a escrever um livro – Motociclismo, Planejamento e Execução em Viagens de Aventura – que foi lançado em agosto passado.
Na obra, publicada pela Teigadventure Editora – que montou para edição deste e outros livros que está planejando – ele fala desde o planejamento do sonho de realizar uma viagem desta natureza, dá referências sobre modelos ideais de moto, o que deve ser observado na hora do checklist, documentos, cuidados mecânicos…
Fora o livro, Teiga Júnior mantém na rede mundial páginas e grupos no Facebook além de blogs nos quais publica suas viagens, fala das dificuldades e faz recomendações e alertas para quem está na estrada.
Na internet
https://www.facebook.com/jose.junior.923?fref=ts
https://www.facebook.com/groups/437093266327183/
http://teigadventurescandinavia2016.blogspot.com.br/
http://teigadventureeua2016.blogspot.com.br/
http://teigadventurenovazelandia.blogspot.com.br/