Milhares de estudantes realizaram, no último final de semana, as provas do Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM. A repercussão é sempre grande: os noticiários são tomados por matérias que dão dicas para enfrentar a maratona de provas, a Internet se inunda de memes sobre os lanches dos candidatos e o fechamento dos portões, que sempre deixam alguém de fora. Para além de tudo isso, o que quero destacar é o tema das redações, que, nas últimas duas edições, muito mais do que estabelecer uma proposta de avaliação sobre a competência linguística, chamou os candidatos à reflexão sobre a violência contra a mulher (2015) e intolerância religiosa (2016).
Espaços como esse são fundamentais para promover esse tipo de reflexão: primeiro, porque o alcance do exame é imenso. Pessoas de todos os credos, quiçá mesmo as intolerantes, tiveram de ler e – muito mais importante – expressar-se sobre o tema. Embora todas as dificuldades que os estudantes possam ter, eles precisaram organizar suas ideias em torno da não aceitação do outro: porque, afinal, violência contra a mulher e intolerância religiosa são isso mesmo. A escolha desses temas evidencia que a redação também é um espaço de construção reflexiva, e não apenas o cumprimento de normas gramaticais.
É por essa razão que não se pode dissociar escola de ideologia. Não se trata de ideologia partidária, mas de capacidade crítica. A escola é espaço de preparação e é fundamental para debater temas importantes para a sociedade, o que não significa ser doutrinador. Educação não é conteúdo, mas capacidade de refletir sobre aquilo que se aprende. E os jovens precisam ser atuantes: ler, ouvir, pensar e falar sobre essa sociedade em que vivem faz parte da aprendizagem.