Cada um interpreta como quer a arte contemporânea, provocadora por natureza. Algumas vezes não entendo nada ou não estou disposta a refletir. Ao visitar um museu em Porto Alegre, deparei-me com uma intervenção artística questionadora do que escondemos, do que deixamos à vista dos outros e dos porquês de fazermos isso.
Nas paredes da sala de exposição há portas e janelas penduradas, escancarando para o visitante o que há nos locais de onde elas foram retiradas. Sem elas separando a sala do depósito ou arquivo nos deparamos com caixas, pedaços, restos de materiais, sucatas e por aí vai. O belo e o feio estão à mostra.
Toda vez que alguma parte da minha casa está em desordem (geralmente o meu escritório) uma voz interna, aos berros imaginários, grita que a bagunça é reflexo do meu estado emocional. Acho que é pura paranoia, mas vai que seja verdade! A forma mais rápida de aparentar organização é abrir portas e gavetas de armários, jogar tudo para dentro e fechar bem depressa. Uma enganação trabalhosa, convenhamos. O primeiro objeto que precisar terei que vasculhar muito até encontrar. Antes, estava bem ali, à mão e à vista.
Há portas internas que não queremos abrir. Atrás delas guardamos pensamentos não verbalizados. Se o fossem, poderiam ferir ou colocar na vitrine desejos assustadores. Não somos bons, gentis, generosos e belos o tempo todo. Há depósitos interiores cujas portas só devem ser abertas no consultório do terapeuta! Outras, melhor perder a chave! Mas algumas precisamos abrir.
Precisamos mostrar mais nosso lado generoso.
Precisamos nos indignar com a injustiça.
Precisamos abrir mente e coração e enxergar que nossas verdades não são absolutas.
Há um mundo atrás da porta fechada e ele fica ainda maior quando ela é aberta. É preciso coragem para enfrentá-lo.
E, por vezes, é preciso aprender a guardar silêncios.