Que a praça Leonel Brizola, no centro de Gravataí, reúne uma diversidade enorme de pessoas, todo mundo sabe. Além dos homens e mulheres, de todas as idades, que usam os bancos e a beira elevada dos canteiros para descansar ou acessar a internet através do celular, tem gente vendendo de tudo à sombra das centenárias tipuanas.
Vez por outra, por exemplo, aporta pela aldeia um grupo de mulheres indígenas, de origem Kaingang, que mora na aldeia Por Fig Ga, em São Leopoldo. Lá, são 45 famílias, todas com origem entre os caingangues do município de Nonoai, no extremo Norte do Rio Grande do Sul.
Quando vêm a Gravataí, as mulheres trazem peças de artesanato que produzem para vender enquanto os homens da Por Fig Ga se dedicam ao trabalho na construção civil. Nesta sexta (4/11) eram três mulheres, e várias crianças com idades entre um e 14 anos, mais ou menos.
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A líder, Niri Ky, de 40 anos, estava acompanhada por Ky Sá, de 23 e Mefej, de 26. Enquanto a mais velha conversava com o Seguinte:, mastigando um pão e mordendo pedaços de carne assada que havia comprado há pouco, as outras duas se refestelavam com o almoço quase no meio da tarde.
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Neste sábado elas prometem estar de novo no centro de Gravataí, onde vêm vender seus trabalhos quase todas as semanas. São mandalas, de todos os tamanhos e cores, enfeites para carros feitos com penas e, agora, com a proximidade do Natal, bandejas com bolas, ninhos, árvores e outros enfeites trançados cuidadosamente com tiras cortadas de cipós.
Niri Ky não conta quanto vendem por dia. Ela desconversa.
— Dá para vender uns R$ 150,00 por dia — tenta enganar.
Uma das meninas, ao lado dela, grita:
— Eu sei quanto vende — diz a menina, e leva um safanão da mais velha.
— Fica quieta que tu não sabe nada — repreende Niri Ky.
Os ninhos são vendidos em média por R$ 10,00, já as árvores feitas com cipó têm preço médio de R$ 25,00. As mandalas variam de R$ 10,00 a R$ 50,00, dependendo do tamanho. Servem para colocar no carros ou enfeitar o quarto de crianças pequenas.
— É o que mais vende. Muita gente procura para dar de presente ou colocar no carro — conta indígena, agora se deleitando com um naco de costela gorda.
Meio ambiente
Os índios estão cada vez mais urbanizados, socializados e até preocupados com o meio ambiente. Niri Ky assegura que as penas utilizadas nos enfeites são compradas em lojas de produtos para artesanato e coloridos artificialmente, com anilina.
— A gente compra nas lojas que é para não tirar da natureza — assegura.
Sobre as crianças que acompanhavam as três mulheres, nesta sexta, ela garante que todas que estão em idade escolar frequentam as aulas, regulamente. Inclusive diz em qual série cada uma das meninas está estudando.
— Elas só vieram com a gente hoje porque não tiveram aula. Se tem aula elas vão para a escola.