Na ressaca crônica da eleição que nunca termina em Gravataí, o artigo do Seguinte: que desvelava uma aliança do PDT de Daniel Bordignon com o PSD de Levi Melo, colocou fogo na sessão da Câmara de Vereadores.
Reproduzimos abaixo trechos dos principais embates entre parlamentares, para tentar colocar lá dentro da arena – e das entrelinhas – o leitor que não assistiu.
LEIA TAMBÉM
EXCLUSIVO: Levi fala sobre aliança do PSD com o PDT de Bordignon
Dilamar contra a mídia
Dilamar Soares, que confirmou as pretensões de ser candidato a deputado federal em 2018, abriu a sessão fazendo o que os (quem sabe) futuros colegas adoram fazer em Brasília: bater na imprensa.
– Os jornalistas são mães Diná. Às vezes não estão aqui e saem escrevendo o que querem – disse, lá pelas tantas das críticas que fez ao Seguinte: e ao Jornal de Gravataí.
O vereador contestou as projeções de que a cúpula e a base do PSD tenham como estratégia participar de qualquer futuro governo, para fazer o partido crescer.
– O PSD não é uma prostituta – disse na tribuna, tão furioso que chegou a trocar palavras, dizendo que a mídia fazia “elucidações”, em vez de “elocubrações”, e que, para os leitores, “passam sempre por verdades”.
Bordignon, pior gestor de contas
Dilamar também tentou desconstituir a reportagem que percebia uma aproximação entre ele e Bordignon.
– É mentira que me arrependi de ter votado contra o título de cidadão para o Bordignon. Votaria contra de novo – disse, citando trecho da matéria e explicando não concordar com honrarias para políticos ‘na ativa’.
– E, como disse à época, entendo que Bordignon foi um péssimo gestor para contas públicas do município – reafirmou, lembrando uma das justificativas de quando foi o único vereador a votar contra o título para o ex-prefeito, em 2015.
Se não Levi, Dilamar a prefeito
– Se Bordignon quiser apoiar ao Levi (Melo), ou me apoiar a prefeito, apoio e voto não se nega – emendou Dilamar, citando apenas os dois nomes como possíveis candidatos a prefeito pelo PSD em caso de uma nova eleição.
Para Dilamar, um dos principais construtores do PSD, o objetivo do artigo foi o de “plantar cizânia” e “rachar o partido” nas articulações pela Presidência da Câmara, que será decidida em 1º de janeiro, com a posse dos novos vereadores.
– Saímos das urnas como a segunda força em votação.
O vereador disse que abriria o sigilo telefônico para provar que não troca ligações com Bordignon.
– Falei com ele na janta do Inter, mas o assunto foi futebol – garantiu.
– E já me colocaram até como possível secretário de Educação… – reclamou, dizendo que não parou de atender ao telefone após a publicação das especulações.
Com Cláudio Ávila, jamais!
No calor da tribuna, querendo ou não, Dilamar bateu uma porta com o PDT. E não uma porta lateral, mas uma daquelas de tranca ‘doberman’.
– Todo mundo sabe que o vice Cláudio Ávila (PDT) é meu desafeto. Jamais sentarei com esse sujeito, como não sento mais com o alcaide Marco Alba (PMDB), que quer ser prefeito nomeado – afirmou.
– Mas nosso presidente (João) Portella pode falar. Ele está autorizado a isso – disse, mantendo uma fresta aberta.
Zete e o jornalista no lixo
Ao classificar como “mentira” projeção postada no perfil pessoal deste jornalista, de que pré-candidatos a vereador sairiam do PSD caso o partido não participasse de um futuro governo, Dilamar só tirou da lista dos fiéis a empresária Zete Bhlem.
– Ela sim tem interlocução com Marco Alba. E isso não me serve.
– E o jornalista jogou 20 anos de profissão no lixo – avaliou, dizendo que não fala mais para a mídia e que vai montar sua própria web TV.
Arquiteto da unidade
Dilamar disse querer ser o “arquiteto de uma nova eleição”, buscando a união das oposições, onde citou PSB e PDT, “para derrotar o continuísmo”.
– Temos que cruzar as diferenças e buscar um nome de consenso – sugeriu, não dizendo se o nome poderia ser o dele próprio, mas revelando que o presidente do PSD já teria sido procurado por Anabel Lorenzi, candidata a prefeita pelo PSB.
Peixe e a rejeição ao Marco
Alex Peixe pediu um aparte onde disse que Bordignon e o PDT ainda não trataram de um futuro governo, e de eventuais alianças, como a com o PSD, por respeito a uma decisão final do TSE.
– O que sabemos é que Bordignon pode ser prefeito, o vice pode ser prefeito ou podemos ter novas eleições. Mas o Marco, rejeitado por 70% da cidade, não será.
Dimas e o último a saber
Dimas Costa (PSD) se disse aliviado com a fala de Dilamar:
– O PSD foi colocado numa prateleira. Eu não estava acreditando. Não reunimos o diretório depois da eleição. Se alguém está conversando e entregando o PSD de bandeja, não fala por mim.
– Se isso acontece, terei sido muito traído. Seria como aquela história… eu seria o último a saber – disse, arrancando risos dos parlamentares.
Levi como candidato natural
Dimas defendeu que o PSD teve Levi como candidato na eleição e, em caso de novo pleito, o médico deveria ser o candidato natural a prefeito novamente.
– Tem meu apoio. Acho que do partido também. Na hora difícil estava lá, até caiu, se machucou. Não concordo com tudo que foi feito na campanha, mas isso é coisa para discutir com o partido.
A oposição de Paulo Silveira
Paulo Silveira (PSB) falou a seguir e defendeu que, caso não haja novas eleições, e o prefeito seja Bordignon ou Marco, o partido fique fora de qualquer governo.
– Sempre respeitei as instâncias partidárias. Mas dentro do PSB minha opinião, e de muitos, é clara: perdemos a eleição, não podemos estar no governo.
Ele disse que nos próximos dias o diretório vai tomar uma posição oficial.
– Mas sou daqueles que entende que qualquer interesse individual ou vontade pessoal não se sobrepõe ao partido – disse ele, vereador mais votado da sigla em que é vice-presidente.
Carlos Fonseca + Dila
Carlos Fonseca (PSB) se associou a Dilamar na crítica à imprensa.
– Temos que nos colocar contra o poderio da mídia. As pessoas acham que tudo é verdade.
– Nós é que temos que pautar a mídia, não a mídia nos pautar. Somos a maioria, 11 vereadores de oposição – disse, defendendo a aproximação de seu PSB e o PSDB, aliado na campanha, com o PSD e o PDT.
Beto Pereira, ex-avalista
Beto Pereira (PSDB) não confirmou a manutenção da aliança com o PSB.
– Já apareci na mídia como avalista da Anabel. Mas foi porque estivemos juntos na campanha. Agora, estamos abertos a conversar, mas cada um com suas bandeiras.
Alan e Miss Colômbia
Alan Vieira (PMDB) foi para o deboche ao aproximar o celular do microfone e apresentar trecho da cerimônia onde a miss Colômbia perde a coroa após minutos de reinado.
– O jogo só termina quando acaba. Naquele “Bordignon bota o casaco, Bordignon tira o casaco”, muita gente se revelou.
– Logo após o julgamento do TSE, tínhamos aqui um líder do governo de direito, o vereador Alex Peixe, e outro de fato, Dilamar. Isso que saiu na mídia eu falei publicamente a vossa excelência – provocou, lembrando que Dilamar “defendeu o adiamento da votação do financiamento do 13º salário para consultar antes o prefeito Bordignon”.
– Uma pena que o trânsito em julgado saiu sete horas, e não dois dias depois, quando teríamos o secretariado montado – ironizou.
Só a favor
Alan, que tem sido algoz de Dilamar nas sessões, aumentou a confusão:
– Quem disse, Dilamar, que seu presidente não conversou com meu prefeito? Mas aí para o senhor não vale né. O senhor só fala em partido quando converge com o que o senhor quer.
Pegando o boné
Dilamar respondeu dizendo que tentou “mudar por dentro” o governo Marco, o qual foi líder do governo.
– Mas não combino com Marco.
– Se meu partido optasse por estar com ele, me recolheria. Pegaria meu boné e iria para casa – disse.
Alianças fulanizadas
Marcio Souza (PV), alertando para a “imprevisibilidade” do resultado das eleições, criticou a “fulanização” das conversas políticas:
– É não quero, não gosto, vou para casa – lamentou, observando que tudo não passa de especulação antes da definição de quem será o prefeito.
– Mas acho que Pinho (Francisco, vice-prefeito, do PSDB), não estará com Anabel em uma nova eleição. E algum partido que estava com Marco pode não estar e outro que estava na oposição pode estar – arriscou, deixando a todos curiosos.
O mico.gti
Beto Pereira respondeu:
– Pinho está com o PSDB e o PSDB com Pinho. Saímos fortalecidos da parceria com a Anabel, mas o cenário muda.
– O que sei é que precisamos de uma definição breve. A cidade parou. Gravataí está pagando mico. A quarta economia não merece isso. Daí vem a descrença dos eleitores. Qual a segurança de quem vai para as urnas?
No telão, Dilamar 2015
Juarez Souza (PMDB) também chegou, chegando em Dilamar:
– O senhor fez a defesa do Bordignon como nenhum líder do governo faria. Quando líder do governo Marco, na sua humildade característica, o senhor também dizia que era o único que podia defendê-lo.
– Todo que viu a sessão achou. Por isso saiu no jornal – concluiu e colocou no telão da Câmara vídeo de Dilamar anunciando voto contra o título de cidadão de Bordignon.
– O Dilamar de 2015 não é o mesmo de 2016. O de 2015 dizia que Bordignon quebrou a cidade e não andaria junto com ele. O de 2016 já era líder do governo, ou andava louco para ser – disse, provocando risos e a ira do colega.
O ocaso de Juarez
– O senhor vive seu ocaso parlamentar. Uma pena que Bordignon não será prefeito, ou faria o senhor engolir suas palavras, pois veria minha postura. Eu não estaria no governo – bradou Dilamar.
– Reitero: considero o senhor Daniel Bodignon responsável pela desordem das finanças em Gravataí. Mas se Bordignon quiser votar em mim, aceito. Aceito até seu voto, senhor Juarez – disse, reforçando restrições com Marco Alba, “que cuidou bem do dinheiro, mas errou na política”.
Briga com o pai
No microfone e fora, os dois começaram a trocar acusações.
Dilamar disse que Juarez “faltava com a verdade”. Ouviu que estava “desequilibrado”.
Dilamar disse que Juarez tinha sido eleito presidente da Câmara “de forma obscura”. Ouviu que fora o principal responsável pela articulação da eleição.
O auge da tensão foi quando Juarez falou fazendo menção ao Bombeiro Batista, vereador eleito pelo PSD para o primeiro mandato.
– Esse é o Dilamar que você vai conhecer. Me chamava de pai. Abri para ele meu gabinete. Ele saiu de lá levando meu assessor para concorrer.
A seguir cenas dos próximos capítulos
Se você acessar o site da TV Câmara, na sessão que está no ar agora, a novela continua.