Pé ante pé
Vêm todos caminhando na ponta dos pés.
Alguém morreu? Não. É mais fundo o mistério…
Chegam todos, agora, na ponta dos pés,
Para vê-lo dormir o primeiro soninho!
Viagem
O sono é uma viagem noturna:
o corpo horizontal no escuro
e no silêncio do trem, avança,
imperceptivelmente avança… Apenas
o relógio picota a passagem do tempo.
Sonha a alma deitada no seu ataúde:
lá longe
lá fora
no fundo do túnel,
há uma estação de chegada
(anunciam-na os galos agora)
há uma estação de chegada com a sua tabuleta ainda
[toda orvalhada…
Há uma estação chamada…
AURORA!
(Ambos os poemas são de Mário Quintana, em Baú de Espantos)
:
No período de dez dias, assisti a um nascimento e a um falecimento. Chegou o Artur e partiu seu avô, Iedo, que ainda teve tempo de, pelo menos, ver o netinho.
Meu pequeno dorme os primeiros soninhos, enquanto seu avozinho descansa, viaja em direção à sua aurora. Sonham sem sofrer: o relógio que picota a passagem do tempo não os alcançam.
A poesia de Mário Quintana, com seu tom de cotidiano e com a singeleza profunda de seus versos, sempre me acolhe e me traduz.
Deixo estes dois poemas em homenagem ao Iedo, ao Artur e aos sonhos.