– Uma questão de ordem, senhor presidente.
A característica voz e gestual agitado, conjugado com um sorriso irônico, respingavam polêmica na fala de Dilamar Soares.
– Quero pedir um acordo de liderança para colocar em votação uma moção de parabenização ao TSE pelo julgamento de hoje – instigou debochadamente o vereador na tribuna da Câmara.
Sete horas antes, o Tribunal Superior Eleitoral validara os 45.374 votos de Daniel Bordignon (PDT), confirmando-o prefeito eleito de Gravataí.
Marco Alba, neoadversário escolhido por Dilamar após seu rompimento com o PMDB e o governo, em 2015, restava derrotado àquelas 17h e poucos minutos.
O que Dilamar não sabia era que, naquele mesmo momento, o ministro Napoleão Filho assinava no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o trânsito em julgado da condenação por improbidade que suspendia os direitos políticos do ex-prefeito por cinco anos.
A eleição ainda não tinha terminado.
– Gravataí é BandNews: em 20 minutos tudo pode mudar – para usar um bordão do próprio Dilamar que bem descreve o exotismo daquela quinta-feira e seus 420 minutos que abalaram a aldeia.
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Eu já sabia!
Flautas ou encantamentos à parte, a manifestação do vereador escancarou o que os bastidores da política – e o Seguinte: – já revelavam desde antes da eleição: o PSD e o PDT de Bordignon devem estar juntos em um eventual governo.
Principal construtor do PSD, Dilamar, antes mesmo da comemoração tão efusiva quanto a do único vereador do PDT, Alex Peixe, já vinha fazendo odes ao ex-prefeito nas sessões da Câmara após a eleição.
No chazinho do plenário, mais de uma vez foi motivo de brincadeiras pela fofoca de que tem hoje um canal direto com Bordignon, em conversas telefônicas semanais e sem a interlocução do onipresente vice Cláudio Ávila – antigo desafeto seu, que até há pouco o tratava por ‘Dilamentar’ nas redes sociais.
Consta que, em um novo momento com Bordignon, Dila já teria dito a amigos que se arrepende de ter sido o único vereador a votar contra a concessão de um título de cidadão ao ex-prefeito, em 2014 – voto justificado adjetivada e histrionicamente na tribuna e registrado para o sempre nos anais da Câmara.
Em mais uma daquelas reviravoltas da política da aldeia, título esse proposto e aprovado, mas nunca entregue por Dimas Costa, seu irmão e vereador mais votado do partido, que hoje é a principal oposição dentro do PSD a uma aproximação com Bordignon – a quem credita a conspiração para esvaziar o PT e impossibilitar sua reeleição como vereador.
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O partido
Mas, se há divergência entre os filhos da Dona Margarida, a principal estrela do PSD de Gravataí não diz sim, nem não para uma aliança.
– Se o partido quiser, não serei eu a impedir – disse, há pouco, Levi Melo, 19.420 votos, quarto colocado nas eleições de outubro para a Prefeitura.
Quarenta e cinco dias após o acidente que sofreu no comitê central, Levi falou por telefone com exclusividade ao Seguinte:
Já conseguindo movimentar o pulso, mas com expectativa de tocar o pé esquerdo no chão apenas em dezembro, o médico tem saído de casa apenas para a fisioterapia diária.
Passa os dias assistindo TV e lendo artigos da medicina.
– Pagando contas também – acrescenta, com uma risadinha enigmática.
Por isso, não tem estado presente em reuniões partidárias. Mas está informado do que está acontecendo.
– Sei que há conversas. Sei o que pensa o Dilamar, o Dimas. Mas quem vai decidir é o partido, não A ou B. E me incluo entre todos, no mesmo nível. Desde que cheguei ao PSD combinamos que as decisões seriam sempre em conjunto – diz, mirando em manter a unidade de um grupo que, além de seus quase 20 mil votos, foi responsável pela mesma votação entre os candidatos a vereador, terminando a eleição como a segunda força em votos proporcionais, atrás apenas do PMDB.
– Mas não participei de nada oficial até agora. Com Bordignon e Ávila, não troquei nem bom dia, nem boa tarde desde a eleição – garante.
Tranquilo, sem mágoas e de olho em um apoio recíproco em caso de novas eleições, Levi diz que a troca de acusações entre ele e Bordignon durante debates da campanha não inviabilizam uma aproximação institucional entre os partidos.
– Aqui no PSD não temos donos. Pessoalmente, não concordo com a maneira como Bordignon levou a eleição, sabendo que em algum momento poderia ter os direitos políticos suspensos, como agora ocorreu. Mas se ele reverter isso, for o prefeito e o PSD quiser estar no governo, quem sou eu para inviabilizar a decisão do grupo?
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Seja quem for
João Portella, presidente do PSD, não atendeu a ligação do Seguinte:, mas nos bastidores é apontado como um dos mais entusiasmados com a participação no governo para fazer o partido crescer. Mesma vontade que teriam pré-candidatos a vereador, que representam a maioria dos votos no partido e nutririam a expectativa de ocupar cargos e secretarias.
– Diga-se: independentemente de quem comandar a Prefeitura, seja o Bordignon ou o Marco – sopra fonte que vive o partido, mas não tem mandato.
in bello
As próximas semanas dirão como o PDT, sabedor de que terá apoio do PSD caso chegue ao governo, se comportará caso o TSE aceite recurso do Ministério Público Eleitoral e da coligação de Marco Alba e invalide a chapa Bordignon e Ávila.
Dilamar acredita no apoio de Bordignon e dos trabalhistas a Levi, que confirmou novamente hoje ao Seguinte: que é candidatíssimo em novas eleições.
– Claro que com o ok do partido. Mas acho que sou candidato natural – disse.
Ibis redibidis non morieris in bello.
Irás voltarás jamais morrerás na guerra.
O oráculo de Delfis só colocava a pontuação depois dos acontecimentos.
Tente.