Julho.
PSDB e o PSB iam para os finalmentes do que ninguém pode negar foi um ‘casamento de conveniência’ para disputar a Prefeitura de Gravataí.
O vereador Beto Pereira, que seria indicado vice, balançou o relógio dourado no pulso, pegou o celular e ligou para Anabel Lorenzi.
– O que eu sei de ti, me contaram. O que tu sabe de mim, te contaram. Está na hora de nos conhecermos de verdade.
Discreta e avessa a conversas políticas fora das instâncias partidárias, uma Anabel já relaxada marcou um encontro privado em um café em Porto Alegre. Afinal, a troca de alianças já estava sacramentada e tinha data, 31, e altar marcado, o CTG Aldeia dos Anjos.
Ela e Beto terminaram aquela manhã, se já não amigos, identificados com a simplicidade que cada um tem. Convergiram em muito, mesmo com ideologias tão antagônicas: ela uma esquerdista, ele um liberal, ela falando em direitos do funcionalismo, ele falando em privilégios e etc.
Os dias e meses seguintes até a eleição mostraram que, finíssimo no trato e com um jeito contagiante de ver a vida, como só tem aqueles que conseguiram superar grandes tragédias pessoais, o ‘seu Beto’ conquistou a todos pela empolgação com que, aos 64 anos, se jogou na campanha.
Tirou até parte do protagonismo que todos esperavam do vice-prefeito Francisco Pinho, construtor do PSDB, que tinha aberto mão das dezenas de cargos e levado o partido do governo Marco Alba (PMDB) para a aliança com os socialistas que tinham lhe feito oposição nos últimos três anos e sete meses.
Contornando a cidade, da periferia até chegar ao Centro, Anabel e Beto começaram a fazer duas caminhadas com pré-candidatos a Câmara e apoiadores, além de reuniões diárias, que estreitaram a intimidade e convivência.
Com urnas na mão, ouviam das pessoas propostas para o governo, numa estratégia permitiu fazer uma pré-campanha que era apontada como uma das – se não a – mais organizadas da eleição.
– Ela vai ter gás para chegar assim até o fim? Isso é campanha de reta final! – alertavam analistas experientes da política da aldeia, principalmente quando os caminhões de som começaram a se cruzar pelas ruas.
A campanha realmente pareceu minguar e, abertas as urnas, a vitória não veio.
Chegou a hora da DR.
O “porquê”, “se” ou “talvez” identificados pelos partidos para o fracasso na eleição, o Seguinte: não conseguiu tirar nem de Anabel, nem de Beto, nas entrevistas feitas após o pleito.
Mas, nas leituras gerais cavocadas no meio político, a percepção mais forte é a de que não colou, como em 2012, o discurso do ‘voto útil’, onde Anabel, com a insegurança jurídica da candidatura de Daniel Bordignon (PDT), aparecia como a alternativa ao prefeito Marco Alba.
A professora caiu de 40.045 para 25.756 votos, dividindo o papel de novidade com Levi Melo (PSD), 19.420. E viu Bordignon, mesmo novamente enrolado com uma candidatura indeferida, vencer nas urnas com 45.374 votos (4 mil a mais do que fizera em 2012), superando os 33.420 de Marco.
Inevitável que, no imaginário político, muitos tenham ouvido o estourar da ‘bolha de votos’. Em outras palavras, o sopro de que Anabel nunca tivera os 40 mil votos de 2012.
E é nessas horas que até alguns amigos mais próximos demoram um pouco mais a telefonar.
Arrastamos o leitor até aqui para revelar que Beto ligou para Anabel.
Nesta quinta-feira, almoçaram juntos.
Se assim ficarão numa nova eleição, caso o TSE invalide os votos de Bordignon e não diplome Marco prefeito, nada definiram e nem teriam força para fazer sem o sim de seus partidos.
O que os dois amigos sabem é que, separados publicamente desde já, pulverizariam instantaneamente o legado da campanha numa sucessão testamentária que já está em disputa por inúmeros herdeiros interessados.
Anabel parecia isolada. Beto foi hoje o seu fiador.
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