O Lar das Crianças Peculiares
"Miss Peregrine's Home for Peculiar Children", de Tim Burton (2016). Baseado no livro de Ramson Riggs, Tim Burton adaptou a novela a seu gosto, incluindo toda a sua enciclopédia visual Burtonesca. A isso, ele realizou o seu filme mais cheio de referências de sua filmografia. É um verdadeiro filme de cinefilo: " X men", " O iluminado", "O labirinto do fauno", "Desventuras em série", "Bandidos do tempo" , "As crônicas de Nárnia" e até mesmo "Titanic". Eva Green, após protagonizar a série "Penny Dreadful", segue mantendo a linha de personagens góticos e provavelmente será uma ótima substituta de Helena Bonham Cárter no rol de personagens esquisitos. Nessa fábula macabra, Åsa Butterfield, o menino de " Hugo Cabret", interpreta Jake, um adolescente solitário que mora com o seu avô, Aby, que todos consideram ser um demente. Um dia seu avô é atacado e antes de morrer diz a Jake que ele deve ir até uma Ilha em Gales e encontrar a senhora Peregrine (Eva Green), diretora de um orfanato. Ao encontrá-los, Jake irá se ver diante de um grande desafio que irá transformar sua vida para sempre. Tim Burton continua um Mestre na criação de personagens e situações, todos adoráveis e assustadores. O elenco de primeira linha inclui Samuel L. Jackson, Jude Dench e Terence Stamp, no papel do avô. O filme mistura gêneros: drama, fantasia, aventura, suspense e romance. A trilha sonora de Matthew Margesson, que substitui Danny Elfmann, parceiro de Burton, é vibrante e emocionante. Direção de arte, figurinos e principalmente a fotografia, do Mestre Bruno Delbonnel, de "Amelie Poulain", são primorosos. Confesso que chorei bastante no desfecho.
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Aquarius
"Aquarius", de Kleber Mendonça Filho (2016). A produtora Video Filmes de Walter Salles é grande apaixonada por cineastas que falam sobre a memória. Foi assim com o chinês Jia Zheng Ke, e agora com Kleber Mendonça e seu poema sobre o passado, presente e futuro intitulado "Aquarius". O prédio que dá nome ao filme se localiza no bairro nobre de Boa Viagem, e fica de frente pra praia. Clara (Sonia Braga), é uma escritora aposentada e de classe média alta: possui 5 apartamentos e tem boa aposentadoria. Mas ela não quer sair do apartamento onde mora, mesmo que a construtora lhe ofereça uma boa soma em dinheiro. Todos os outros moradores, que saíram do prédio, reclamam com Clara, pois não podem receber o dinheiro enquanto ela não sair de lá. Mas ela se recusa: o apartamento é o seu mundo. Lá ela tem recordações da vida inteira: os fantasmas do passado, as fotos, os milhares de LPs e a companhia de sua empregada que está com ela há quase 20 anos. O filme discute o tempo todo a dicotomia velho X novo. Clara transa com um michê novo. O jovem Diego (Humberto Carrão) praticamente preside a empresa de sua família. Os filhos de Clara a acham retrógada e antiquada. Só quem entende Clara é a sua empregada, brilhantemente interpretada por uma atriz que não consegui achar o nome. Tecnicamente impecável, e com uma trilha sonora de encher os olhos (Roberto Carlos, Maria Bethânia, Queen, Paulinho da Viola, Taiguara, etc) , "Aquarius" é um bom filme que faz uma metáfora sobre o abuso do Poder e sobre a morte do passado. Reminiscentes como Clara, que briga com unhas e dentes para defender o que é seu, brigam o tempo todo com pessoas que desconhecem o sentido da palavra humanismo. O filme recentemente ficou envolvido em polêmica por causa de cenas de sexo (um pênis ereto, sexo grupal e sexo oral), e ganhou grande repercussão. Confesso que achei o filme longo e com personagens em excesso. Mesmo assim, merece ser visto. Nem que seja pela atuação irrepreensível de Sonia Braga, na melhor interpretação de sua carreira.
Assista ao trailer do filme Aquarius:
Hsu Chien é cineasta, vive no Rio. Mantém o blog Diário de um Cinéfilo. Para conhecer o trabalho de Hsu Chien no cinema e na TV, acesse seu perfil no IMDb.
A caricatura do Hsu Chien na capa é do Cado.