Hoje eu te escrevo porque não estou mais conseguindo acreditar.
Não queria te importunar, embora te imagine prostrado de joelhos naquela goleira do gol mil toda vez que perco a fé no time. Há exatos dez anos, nos dava o mundo de presente. Ontem sonhei contigo. Era aquela cena em que aparecia abraçado aos demais jogadores com semblante circunspecto, sério, mas, acima de tudo, confiante! De branco, com a camisa nove e a braçadeira amarela. Ainda consigo fechar os olhos e lembrar as palavras de ordem que proferia com segurança, pedindo para acreditar, atentando ao tamanho e qualidade do Inter. E olha que o jogo era, simplesmente, contra o melhor time do mundo. E, com tua liderança emblemática, um misto de qualidade pujante com amor à camisa, tu fez com que os teus companheiros acreditassem ser possível.
Tu era, dentro de campo, o que cada um de nós queria ser. E nos fazia acreditar junto. Me fez acreditar, mesmo que minha infância tivesse sido forjada nos dolorosos anos 90. E fez o mesmo com aquela menina que recém começava a acompanhar futebol. Com aquele senhor que já não repunha mais as pilhas do rádio, tamanha era a desilusão com o Inter. Com aqueles meninos que eram zombados em sala de aula. Tu fez o Gabiru incorporar o teu futebol para te substituir e nos dar o título. Tu fez tanto por nós que me dói até hoje ter partido tão cedo.
Mas hoje eu te escrevo porque preciso acreditar de novo. Preciso acreditar que estará no Beira-Rio sábado. Que a tua força aí de cima vai empurrar o Inter a sair desse lugar que não nos pertence. Faz dez anos, lembra? E nós precisamos de ti fardado novamente. Vem de branco, capitão, com os cabelos esvoaçantes e a braçadeira que será para sempre tua, e nos faça acreditar novamente.
Seca as lágrimas, não chore mais. Nós vamos sair dessa. Já me fizesse começar a acreditar de novo.