o seguinte indica:

Por que você não está nem aí para as eleições (mas deveria)

Interessado ou não, eleitor tem que ir às urnas domingo

O Seguinte: reproduz a reportagem da Exame, que vale para quase toda cidade, inclusive Gravataí

 

Faltando uma semana para o primeiro turno das eleições municipais, a impressão é de que os eleitores (pelo menos nas grandes cidades) ainda não estão dando a devida atenção à corrida eleitoral — fato constatado por candidatos que parecem incomodados com a reação fria ou morna às suas campanhas.

Oficialmente, segundo o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a disputa pelos cargos municipais só começou de fato em 16 de agosto, 47 dias antes do pleito. Nesse meio tempo, o Brasil viu o encerramento da Olimpíada do Rio 2016, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a posse de Michel Temer, protestos e mais protestos, a abertura e encerramento da Paralimpíada, a cassação do mandato de Eduardo Cunha e a decisão que colocou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no banco dos réus pela segunda vez, entre outras tantas coisas.

– A crise política nacional tomou a agenda e não há mais espaço para mais nada – diz Paulo Perez, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao monopolizar manchetes e discussões que, provavelmente, sufocam o debate eleitoral, a crise política tem outro efeito: o descrédito da população diante daqueles que deveriam representá-la no poder. Em junho, 80% dos entrevistados pelo instituto de pesquisas Ipsos admitiram que não confiavam nos políticos.

– A crise política não se acabou, ela pode até se agravar. Isso tira do eleitor um expectativa de que esses candidatos irão fazer o paraíso na terra. As pessoas estão achando que eles não vão resolver nada e que vão perpetuar o status quo. Até porque houve reforma, e não mudou nada. As caras são as mesmas – afirma Michel Zaidan, coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

 

As novas regras do jogo

 

No meio de toda essa crise estrutural entre candidatos e eleitores, esse é o primeiro pleito segundo as novas regras do jogo eleitoral. Agora, o tempo dedicado às campanhas está mais curto (caiu de 90 para 45 dias), a propaganda que antes durava 45 dias só vigora por 35 e o caixa dos candidatos ficou mais magro graças à mudança no modelo de financiamento que veta a doação de empresas.

– Houve uma tentativa de tornar a eleição mais franciscana, mais desprovida de efeitos especiais, da pirotecnia dos estúdios, comícios, showmícios, distribuição de brindes, carreatas. Isso contribuiu muito para esfriar a campanha eleitoral – diz Zaidan, da UFPE.

O problema, segundo alguns especialistas, é de que esse modelo pode acabar beneficiando os candidatos mais conhecidos, mais ricos e com coligações maiores — o que renderia mais tempo na TV.

O candidato tucano à prefeitura de São Paulo, João Doria Jr, pode ser um exemplo disso. Ele é o prefeiturável com mais dinheiro em caixa (parte desses recursos doados por ele mesmo) e também o que mais tempo tem de propaganda no rádio e na TV (no total 12 minutos e 45 segundos). Conclusão: no último mês, ele subiu 20 pontos percentuais na pesquisa Datafolha e hoje lidera o triplo empate técnico da disputa pela prefeitura de São Paulo.

Se essa hipótese estiver correta, a mudança nas leis eleitorais pode endossar o desânimo das pessoas com a política já que supostamente não há espaço para o novo.

– Existe um desinteresse pela política que resulta de um longo processo de despolitização que se agrava a cada dia – afirma Rafael Araújo, professor de ciências políticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

E isso se reflete na maneira como as pessoas participam do debate eleitoral. Segundo Araújo, a expectativa era de que o internauta assumisse o papel de cabo eleitoral digital nas campanhas. Não foi o que aconteceu.

– As pessoas não estão usando a internet para aquecer a campanha – diz com base em estudos de mapeamento de redes.

 

O problema

 

Uma campanha morna e sem envolvimento da população resulta em menos debate e reflexão antes do voto — um fenômeno que só endossa as mazelas que já definem a maneira como se faz política no Brasil. Sem compromisso entre candidato e eleitor, “as pessoas não vão cobrar nada, não se pode esperar nada”, afirma Zaidan.

E um circulo vicioso se instala: elegem-se políticos sem a devida avaliação que, em muitos casos, podem cumprir mandatos seguindo interesses estranhos ao interesse público, fato que alimenta a desconfiança do eleitorado que, em quatro anos, repete a história.

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