Andava pela calçada e uma garagem aberta em prédio residencial chamou a minha atenção. Nela, um aparente septuagenário vasculhava o interior de também antiga Variant – lembram deste modelo da Volkswagen? O carro estava totalmente ocupado por caixas, papéis, jornais e objetos diversos que não deu para identificar com um olhar apressado. Tudo bem ser curiosa, Marta, pensei comigo, mas nada de intromissão demasiada na vida dos outros que isso não pega bem.
Já assisti a diversos programas de televisão sobre os tais “acumuladores”, mas nunca tivera a oportunidade de conhecer um caso concreto. Agora é real. Meu vizinho do prédio ao lado se parece com aqueles que vemos na televisão. Tudo está empilhado ou jogado pelo chão. O meu assombro com a situação foi bem egoísta. Será que estou no mesmo caminho? Voltei para casa e comecei uma sessão permanente de desapego. E está sendo muito difícil!
Cada pequeno item, foto amarelada, recorte de jornal com uma matéria que achei importante quando li, canhoto de ingresso em show, tudo isso faz aflorar uma lembrança. Colocar no lixo parece ser o mesmo que jogar fora um pedaço de mim. O que fazer com a medalha de melhor goleira de handball que ganhei no quarto ano do ensino fundamental? Angustiada com a “limpeza” em curso resolvi dar uma pausa e fui olhar as mensagens nas redes sociais. Para minha alegria, um convite de uma nova amizade amenizou o processo de desapego.
Existe o Museu das Coisas Banais! Isso mesmo! Só funciona na internet. Tiro uma foto do objeto e conto um pouquinho da minha relação de afeto com o dito cujo. Envio a imagem e o texto e ficam registrados para a posteridade, o que eu acho importante.
Talvez seja esta a solução! Meus objetos de estimação sairão de caixas escondidas no armário e poderei olhar para eles quantas vezes eu quiser, sem precisar mantê-los sob minha “custódia”. E lá se foram para a lixeira um bom punhado de papéis, marcadores de páginas e os chaveiros de “lembranças de viagem”.
Gente,acho que encontrei um caminho para me distanciar da traumática perspectiva de ser considerada mais uma acumuladora!
