Jornalista tem fama de bêbado, tanto que "minha cachaça" é o bordão principal para os 'fofoqueiros' descreverem sua paixão pela profissão.
E, dos mandamentos básicos do jornalismo, entre o 8º e 9º, está o que exige que cada Redação tenha seu boteco de estimação.
Humilde, único, com assinatura, porque barzinho badalado é coisa de advogado.
Eu e o Rodrigo Becker também temos nosso bunker do Seguinte:, o 'escritório B', o 'after 18' (ou não), onde pautas são discutidas e tentamos resolver os problemas da humanidade.
É o Solano's, que frequentamos desde a época do nosso velho Correio de Gravataí, em que meus fios de cabelo ainda não eram brancos e o RB ainda os tinha.
Pois o dono do bar, o Arlindo, é candidato a vereador. Solano, discretíssimo, mas sobrenome e grife de 30 anos nas paradas da Dorival.
Sexta publicamos a lista dos 35 candidatos que o Seguinte: considera com mais chances de eleição para a Câmara. O Solano do Bar, nome artístico que ele usará na campanha, não estava no ranking da 'palpitaria'.
Nem ele, nem outros 200 e poucos. Entre os que ficaram fora, muitos já com cancha na política, ex-vereadores e ex-secretários municipais inclusive. E tantos outros candidatos de primeira viagem, como nosso herói.
Satisfazendo uma curiosidade pessoal, que compartilho com os leitores, o objetivo dessa reportagem é contar um pouco da história de um cara comum que bota a cara nas urnas. E, antes que máquina de sacanagem comece a funcionar, alerto que não tem nada a ver com não pagar a conta do bar!
Acontece que, 20 e poucos anos depois, pela primeira vez chamei o Solano para a mesa e pedi que me contasse sua história. E fiz isso após ele me consultar, e foi a menos de uma semana do início da campanha, sobre se poderia botar o nome 'Solano do Bar' em camisetas da academia onde a companheira de dia e noite Mariluci, a Lúcia, é das mais animadas atletas.
NÃÃÃÃÃÃOOOOO PODE, alertei.
Mas me chamou atenção a simplicidade como encarava a campanha. Era como um cara da várzea lançado para estrear num Brasileirão entre jogadores profissionais. E, então, voltei à vida real, refletindo sobre quantos são como ele. O Solano tem o perfil de muitos e muitos candidatos. Cidadãos, que colocam seus sonhos para serem testados pela madrasta das urnas.
Bebi vinho, branco e seco, de garrafão. Ele não tomou nada. Cometi a corrupção de pedir para fumar de vez em quando naquele ambiente fechado. Ele deixou.
E aí vamos nós:
– Sou daqueles candidatos de sangue doce – reconheceu o comerciante que dia desses financiou seu aniversário político vendendo convitinhos simples, escritos a mão, a um preço que não pagava a maionese.
Arlindo Severe Setim Solano tem 53 anos e mora há 40 em Gravataí. É pai da Angela (39), do Alex (36) e do Vitor (18). Em sua Porto Alegre de nascença, vivia com a mãe-pai Genoveva e o irmão um ano mais velho Aurélio, no Sarandi, onde começou a trabalhar vendendo picolés, depois puxava um carrinho de mão de verduras "da chácara dos japoneses" até, finalmente, galgar o posto de atendente no balcão de um bar que era conhecido como 'boca do lixo', por reunir boêmios e mariposas ao amanhecer do dia.
E ai se saíssem da linha com a braba cozinheira dona Genô.
– Trabalhava, estudava e tinha que deixar a casa arrumada, louça lavada, piso encerado – lembra.
– Hoje só agradeço, porque isso me fez um homem trabalhador e do bem. Já morava em Gravataí e, depois da aula, pegava um pinga-pinga para ir a Porto Alegre trabalhar no bar, onde não tinha hora para terminar.
Com quase três décadas de 'faixa', realizou o sonho do primeiro negócio ali na 63, dando uma Caravan para ter o ponto onde hoje funciona seu Solano's Bar.
Morador da Planaltina, "a vontade de ajudar aos outros" fez com que participasse da associação de moradores e, mesmo sem nunca ter se filiado a um partido, acabasse eleito delegado do Orçamento Participativo e fosse bater de porta em porta convidar as pessoas para votar nas obras prioritárias para o bairro.
– O pessoal sempre cutucava: por que tu não concorre? Aprovamos obras aqui e ninguém nunca fez. Tínhamos que ter alguém para cobrar pela gente – conta, recordando que finalmente aceitou um convite feito pelo PSD do Dr. Levi, ano passado.
Entre os pilheiros da aventura, além dos vizinhos, os taxistas do ponto ao lado e os apreciadores do almoço e notívagos do jukebox e do karaokê de quase todas as noites.
– Não prometo nada, só trabalho. Digo que não quero ser um político, e sim alguém da comunidade, um dos nossos lá – sonha, contando que a sobrinha Patrícia Fernandes, braço direito da campanha, já tem postado algumas coisas sobre ele no Facebook (onde quer saber como troca o nome para 'Solano do Bar' e bota o número 55063 – 63 da parada onde fica o point).
Provocado, o cara de fala mansa, boa gente, daqueles que dá para ver que faz de tudo para agradar as pessoas, garante:
– Ah, não! Não vou lá para ficar viajando para pegar dinheiro. Isso é uma das coisas que meu povo mais me pergunta, mais me cobra. Eu digo que vou fazer diferente, não vou aparecer só a cada quatro anos – empolga-se o cara que desde cedo da manhã, até as madrugadas, está gerenciando o pequeno comércio.
– Nunca onde trabalhei faltou um centavo. Não será representando o povo que vou me corromper. Eu tenho vergonha na cara.
Era isso que eu entendi dos meus garranchos. Até hoje, ao sentar para almoçar meu cardápio especial, e o Arlindo me alcançar um papelzinho escrito a mão, atrás de uma nota de ferragem.
Dizia assim:
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