crônica

O tempo não passa. Atropela.

Quem nunca sentiu aquela vontade de fazer tempo parar? Tudo passa tão rápido, intenso, que nos sentimos atropelados pela urgência. Quando chega segunda queremos pular para sexta, na sexta, queremos o sábado à noite, no domingo já lamentamos porque passou tão rápido. Em novembro queremos logo as férias de verão, nas férias queremos avançar para o carnaval. No carnaval enjoamos do calor. No frio desejamos acabar logo aquele ano exaustivo. 

Já não conseguimos mais fracionar o tempo em memórias por anos. Parece que 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016 foi um grande e cansativo ano. Temos tido pouco tempo de olhar para o lado, apreciar quem está à volta. Quando vimos, nosso pai envelheceu, nossa mãe se aposentou, nosso avô partiu, nosso amigo mudou, e assim é com os filhos.

Quando nascem queremos logo que comecem a engatinhar. Se engatinham já torcemos pelos primeiros passos. Quando falam, queremos logo que soltem as fraldas. Quando soltam já queremos vê-los lendo. Quando entram na escola sonhamos com a formatura, quando se formam já têm uma nova vida, outras pessoas, possivelmente outra casa. A saudade vai apertar, mas queremos os netos, vê-los andando, falando nosso nome. E nessa loucura frenética de desejar o próximo passo, a vida passa feito aquele trem que ignora as estações e vai direto ao terminal final.

Talvez o que nos falte seja respirar um pouco mais, apreciar o sorriso dos filhos, as rugas dos pais, os ensinamentos dos avós, as festas com os amigos. Desejar menos avançar, e viver mais o hoje. Poder parar o tempo num abraço de reconciliação, num olhar fraterno. Ligar para aquele amigo que os desígnios da vida afastou, correr atrás de um novo amor, amar novamente a mesma pessoa que está ao lado.

O tempo passa e, feito um bebê, cresce, desabrocha, amadurece. E é tudo tão rápido que um dia você dorme dando mamadeira pro seu filho, no outro se pega admirando as suas primeiras palavras, e quando vê, eles já não dependem mais de você, e então, voar ao encontro do seu mundo particular é uma questão de tempo. E cá voltamos ao tempo novamente. Ele passou mais um pouco enquanto estamos lendo, e eu sugiro que você o pare num gesto improvável, afetivo. Não deixe para admirar o tempo por fotos do passado. Elas não têm cheiro, nem um sorriso banguela, tampouco as rugas e a expressão cansada que um dia você vai sentir tanta falta.

 

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