lição de criança

O que fizemos pelos nossos amigos?

Passei alguns meses da minha vida circulando um ambiente mórbido como é o setor de oncologia de um hospital, quando minha mãe teve leucemia, há quinze anos. Se, ver um adulto entregue impotente a um leito de hospital já é triste, imagine uma criança. Aqui perto, recentemente, ficamos sabendo do caso de um menino de seis anos, o Matheus, acometido de um câncer no cérebro. Sua mãe, aos finais de semana, ajudava na limpeza e organização da casa dos meus avós, que já passaram dos 90 anos. E o Matheus, seu filho, o acompanhava.

Tenho um sobrinho e afilhado da mesma idade. O Nickolas. Um menino esperto, falante, inteligente. Alguns sábados pela manhã, ele ia para a casa dos bisavós brincar com o Matheus. Meu pai, há quase dez anos, participa de um grupo de terço chamado Peregrinos de Maria. Além de rezar, eventualmente, fazem algumas ações beneficentes. E, dessa vez, resolveram ajudar a família do Matheus. Marcaram um terço para a sua casa e pediram para os membros do grupo levarem alimentos, roupas, doações, afinal, a família fica destroçada. A mãe teve de abrir mão das atividades profissionais para acompanhar o pequeno nas sessões de radioterapia.

O Nicko soube da enfermidade do amigo e pediu para dar algo a ele, assim como todos os demais membros. Passou horas debruçado sobre uma folha de papel fazendo um desenho. Não terminou a tempo de ir à escola e pediu à professora para seguir desenhando em aula, pois o terço seria à noite. No desenho, uma nave e um avião, a qual ele se referiu como a primeira brincadeira que os dois tiveram, há muito tempo. Cuidadosamente, desenhou os dois amigos, ativos e brincando, como faziam naquelas manhãs de sol. Junto do desenho, deliberadamente, pegou dois dos brinquedos que mais gostava, e pediu para o avô – meu pai – entregar ao Matheus. Naturalmente, como a maioria das crianças, o Nicko morre de ciúmes dos brinquedos.

Uma criança não tem bens, carro, casa, tampouco dinheiro para comprar comida ou roupas. O Nicko deu tudo o que podia. À mão, um desenho colorido, aquilo que melhor ainda sabe fazer. Da sua caixa de brinquedos, dois dos seus preferidos. De tudo o que ganhou, foram os presentes que o Matheus mais gostou. Uma lembrança de quando não precisava lidar com problemas de adultos e dois brinquedos que o fazem lembrar da ludicidade da sua idade, embora enfrente o seu problema com a coragem dos super-heróis.

De toda essa história, que, se Deus quiser, haverá final feliz para o pequeno Matheus, fica uma reflexão: o que nós, adultos, fizemos pelos nossos amigos quando eles mais precisam?

 

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