Se arrependimento matasse, precisaria ampliar os cemitérios ingleses: muita gente votou pela saída da Inglaterra da União Europeia sem imaginar que seu voto seria tão decisivo. Agora imagine a proposição de um plebiscito no Brasil para algum tema crucial. Por exemplo: aborto ou pena de morte. Nos dois casos, o risco de retrocesso seria grave: hoje, o pensamento e as ações de direita dominam o cenário político e social. A população votaria contra o aborto porque a vida humana deve ser preservada. E votaria a favor da pena de morte porque a violência chegou a um limite insustentável. Quer dizer: seriam vitórias maciças do atraso e do medo. Pode ser que na Inglaterra tenha havido poucos debates para buscar certezas na escolha nacional. No Brasil, quaisquer que sejam as propostas, os debates também poderão ser insuficientes. Porque, com ou sem plebiscito, há um sobreaviso no ar: a maioria da população brasileira já escolheu o reacionarismo. Para o bem do país, nem é bom cogitar plebiscito. Imaginem o arrependimento.