Se Jorge Amado criou alguns dos personagens que melhor descrevem o comportamento do povo brasileiro, Marco Alba (PMDB) é um especialista em analisar a política da aldeia. E o prefeito parece apostar numa polarização entre ele e o ex-prefeito Daniel Bordignon (PDT), ou já não esconde aquele que não quer que ganhe a eleição deste ano para a Prefeitura de Gravataí.
Quem acompanhou a entrega da duplicação da avenida que leva o nome do escritor de Tenda dos Milagres, testemunhou.
– As pessoas tem liberdade de escolha. Podem até buscar uma renovação, mas não com o velho.
– Que renovação seria essa com quem acabou com a cidade, com o pior que Gravataí já teve? – disse, ao lado da esposa Patrícia, em cerimônia na gelada noite de sexta, logo após as luzes de led terem sido acesas naquela que, R$ 3 milhões e um ano e meio depois, 3.320 metros, duas pistas de seis metros e ciclovia é uma das principais vias de transição entre o Centro, a Estrada do Itacolomi e a ERS-118.
– Acham que ele vai melhorar Gravataí? – disse, usando o pronome pessoal, sem precisar citar o nome do único candidato que já governou a cidade antes.
– Nós preferimos cuidar das pessoas, outros preferem uma cidade bonita – comparou, relacionando slogans de governos dos dois.
– Foi-se o tempo do líder messiânico – disse, subindo o tom frente às pessoas que acompanhavam a inauguração da avenida que leva o nome do autor de O Cavaleiro da Esperança.
– O que o governante faz é obrigação. Não precisamos de salvadores da pátria para serem amados. Ninguém nos deve nada, não devemos nada para ninguém – concluiu, sob os aplusos de uma centena de pessoas, do deputado federal Jones Martins (PMDB) e de sorridentes e empolgados vereadores da base do governo, antes dos alto falantes começarem a tocar o Tema da Vitória, aquela música instrumental tocada pelo Roupa Nova e composta por Eduardo Souto Neto a pedido da Rede Globo para as transmissões da Fórmula 1, que ficou associada ao multicampeão Ayrton Senna.
O Seguinte:, que estava lá, tenta colocar o leitor no clima da noite, listando 15 coisas que o Marco disse.
1.
“O orçamento para 2016, que poderia ser de R$ 1 bilhão é de R$ 700 milhões. Entre 2003 e 2011 crescíamos 10% ao ano, ganho real, acima da inflação. Hoje a inflação passa dos 8% e não crescemos mais que 6%. É um crescimento negativo. Nos quatro anos de governo tivemos R$ 300 milhões a menos de receita. E pagamos mais de R$ 150 milhões em dívidas. São R$ 450 milhões a menos. E a casa não caiu. Desafio qualquer um que governou Gravataí antes a administrar com R$ 450 milhões a menos e entregar uma cidade melhor do que temos hoje”.
2.
“Há muito a fazer, mas o que plantamos durante esse governo fica. Foi o pior ano do Rio Grande do Sul, o pior ano do Brasil, mas em Gravataí as coisas estão começando a acontecer.
3.
“Nos preparamos desde o primeiro dia. Todas as obras foram planejadas e estão no Plano Plurianual que entregamos à Câmara em 2013. São obras que, em circunstâncias normais, poderiam estar sendo inauguradas, mas muitas estão apenas iniciando. Vivemos uma crise de dois anos, que gera desemprego e diminuiu a receita dos municípios. Não é uma crise que você vê só no Jornal Nacional. Sentimos no supermercado, em todo lugar”.
4.
“Como acham que Temer vai tapar o rombo de R$ 160 bilhões? Só fechando a torneira, não dá para fabricar dinheiro. E aí dói na população. Em Gravataí já se fizeram coisas boas no passado, mas gastar o dinheiro dos outros é fácil, difícil é investir mantendo o equilíbrio, as contas em dia”.
5.
“Eu sempre me expresso errado, falo “eu paguei”, mas na verdade quem pagou R$ 150 milhões foi a população. Em dívidas que não fez e que meu governo também não fez. Dava para construir umas 80 Jorge Amado por toda cidade”.
6.
“Para diminuir o gasto, acabar com o endividamento e o desvio que tínhamos em Gravataí, deixamos de fazer obras, diminuímos muitos serviços e faltou manutenção. Mas garantimos os investimentos em educação, saúde e no social. É como numa casa, onde se a renda é de R$ 3 mil e cai para R$ 1 mil, você vai pensar primeiro na comida, no remédio e na roupa”.
7.
“Entregamos uniformes escolares a 27 mil alunos, garantindo igualdade. Na mesma escola possivelmente tem um buraco na frente. Padronizamos o material didático, para que o mesmo currículo seja ensinado em todas as escolas. Era preciso mudar. Sabiam que 50% das crianças rodam no terceiro ano em Gravataí? Se não é importante corrigir isso, se o governante tem que achar normal, sou um anormal. E não tenho medo de ser anormal. Não trabalho com a lógica da próxima eleição”.
8.
“Qual o resultado dos que pensaram só em votos? Olhe para a cidade. Chove e qualquer lugar vira uma piscina. Por 40 anos se aprovaram loteamentos sem nenhum cuidado. E aí é caninho pra cá, caninho pra lá e todos os caninhos para lugar nenhum”.
9.
“Em Gravataí vivemos por anos a cultura política de fazer asfalto, fazer obras custe o que custar, e pague quem quiser, ou puder. O que importava era render votos”.
10.
“Nenhuma escola de Gravataí tinha PPCI, plano de prevenção a incêndio. Teriam que ser todas fechadas. Foram anos e anos de puxadinhos, que tornaram ambientes inadequados para estudo. Metade das escolas já regularizamos”.
11.
“Semana passada assinamos a ordem de início da creche Raio de Sol, para criar mais 100 vagas. Quem vê as crianças no prédio onde estão, certamente se sente mais agredido que ao ver um buraco na rua. Quando ficar pronta, dá para passar uma patrola por cima do prédio velho”.
12.
“Neste sábado assinamos a ordem de início da unidade de saúde São Vicente. Mas dia 25 inauguramos a da Cohab C, onde o prédio antigo também poderia passar uma patrola por cima. É um posto modelo, um ambiente adequado para saúde, e não um prédio alugado do amigo do prefeito ou do secretário”
13.
“Erramos na comunicação, mas não temos vergonha de nada do que fizemos”.
14.
“Gravataí não aguenta sem um falar do outro. Aí dizem “sou bom porque o outro não presta”. Então é essa a régua? Basta estar a um centímetro do pior? Nunca quiseram ajudar, unir forças. E sabemos bem o que já fizeram em Gravataí, no Estado e na União”.
15.
“Agradeço aos vereadores da base de governo. Tiveram coragem de dar sustentação política, que Dilma não teve, porque foi incompetente, para fechar a torneira do gasto, do endividamento e do desvio que tínhamos em Gravataí”.
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