Todo dia a realidade supera a ficção.
Tem dias que o meu maior desejo é ir morar numa ilha deserta. A propósito, essa era uma fala do meu marido, quando começamos a namorar: “Vamos viver de cocos e amor em uma ilha deserta?”. Descobri, logo em seguida, que era só uma frase de efeito para chamar a atenção para si. Nunca me levou para uma ilha, sequer habitada. Coco não é a fruta favorita dele. Amor, isso sim, é um sentimento que ele sempre demonstra. É nesse porto seguro (do afeto) que me refugio quando a realidade afronta com sua crueza. Mas, em certos momentos, a sensação de impotência diante da vida é assustadora.
Já consternada com as notícias internacionais sobre pessoas lutando por suas vidas em arriscadas travessias por mar na fuga de uma devastadora guerra na Síria, fico impactada também com a brutalidade aqui, em nosso país. O abalo foi tão grande que o antigo convite para uma viver em ilha deserta saltou das memórias antigas.
A divulgação sobre o caso de violência contra uma menina no Rio de Janeiro por dezenas de criaturas e de outro, no Piauí, por cinco sujeitos, passou do limite da compreensão. A que ponto, nós, os humanos, chegamos? Li absurdos comentários jogando para as vitimas a responsabilidade do que lhes aconteceu. Não, não posso crer que haja justificativas aceitáveis.
Infelizmente não são apenas esses dois casos. Os dados disponíveis mostram que no Brasil ocorrem cerca de 50 mil estupros por ano. Aí, você soma a violência no trânsito, que mata ou mutila milhares, a guerra do tráfico, crueldades com animais etc e se interroga: quando chegará o tempo da civilidade? Nem espero mais que se realize a era Paz e Amor, mas não posso aceitar que a vida seja banalizada. Um pouco de humanidade, por favor! Respeito à vida, por favor!