Parar, Cauby nunca parou. Parar, ele só parava para atender aos fãs, com amabilidade que nenhuma outra majestade tinha a oferecer ao público. Nunca parou de cultivar seu estilo popstar, do figurino extravagante à postura profissionalíssima em cena. E nunca parou de exigir dos seus dons musicais, e por isso sua voz e sua interpretação se tornaram únicas.
Sem parar de se apresentar e gravar por seis décadas, acumulou uma discografia de mais cem títulos, entre originais e coletâneas. Só parou domingo, 15 de maio, em SP. E não estava parado: recém havia se apresentado, 3/5, em meio a turnê 120 Anos de Música, parceria com Ângela Maria, comemorativa dos 60 anos de carreira de cada amigo.
Para Cauby, a busca do sucesso sempre foi vital, desde a estreia na fama, aos 25 anos: sua entrega artística nos auditórios e palcos era, para não fugir do tom de sambas-canção, baladas e boleros do imenso repertório, plena e intensa. Da histeria das fãs no início ao reconhecimento a seguir, os aplausos o acompanharam em todas as fases e épocas, em todos os espetáculos e lugares. Com uma exceção: em meados dos anos 50 fez excursões aos EUA, onde gravou em inglês com o nome Ron Coby.
: Para ouvir as 11 faixas do disco Cauby! Cauby! que marcou a renovada na carreira do artista nos anos 80, acesse o YouTube ou clique na imagem acima.
Como as palmas não ecoaram, a carreira internacional acabou não acontecendo. Melhor para os brasileiros. Privilegiado com voz personalíssima, que dominava ambientes e arrebatava plateias, Cauby enfileirou sucessos inesquecíveis – Conceição, Bastidores, Babalu, Gente Humilde – e permaneceu atração onde quer que aparecesse: além de 14 filmes entre 55 e 97, foi tema de livro, de musical e homenageado pela escola de samba Águia de Ouro no desfile paulista de 2012. Cauby, estrela.
: Para se emocionar com o encontro entre Diogo Vilela (que em 2006 viveu o cantor no musical Cauby! Cauby!) e Cauby Peixoto no Jô Soares, acesse o YouTube ou clique na imagem acima.
Repercussão da perda de Cauby
Com a sua morte, a mídia abriu espaço para seus méritos como um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos. Nas redes, as manifestações em memória do ídolo ressoaram carinho, admiração e respeito. Na ZH de 3ª feira, em diferentes partes do jornal, Cauby recebeu tratamento desigual. Em artigo na capa do 2° Caderno, Juarez Fonseca destaca a dignidade da carreira e a importância musical do eterno Cauby, e, ao final, homenageia o já saudoso artista: Morre o homem, fica a lenda.
Para ler a matéria do crítico musical Juarez Fonseca a Cauby Peixoto, acesse ClicRBS.
Em contraste, na página 39 da mesma edição, David Coimbra publicou crônica onde o título já revela sua insensível visão da vida e da arte: Saiba apodrecer. Não quis ou não soube respeitar o morto no momento delicado da despedida. Deve, porém, saber a fundo sobre apodrecimento. Há muito tempo, em tudo que escreve, David Coimbra demonstra, inclusive ideologicamente, que se acha o dono da verdade. E essa, quem reflete um pouco percebe, é uma das formas mais evidentes de podridão mental.
Para ler a crônica Saiba Apodrecer de David Coimbra sobre Cauby Peixoto, acesse ClicRBS.
Para ler sobre a emoção popular quando Cauby Peixoto esteve em Campina Grande, na Paraíba, acesse a crônica de Braulio Tavares no blog Mundo Fantasmo.
: Para assistir ao trailer do documentário Começaria Tudo Outra Vez, de Nelson Hoineff sobre os 55 anos de carreira de Cauby Peixoto, acesse Vímeo ou clique na imagem acima.
Para conhecer se atualizar sobre a carreira, turnês e shows de Cauby Peixoto, acesse seu site oficial e também o Facebook Fã Clube.
Para saber mais sobre a trajetória do ídolo Cauby Peixoto, acesse a Wikipédia.
Para interesse pelo livro Bastidores Cauby Peixoto – 50 Anos da Voz e do Mito, de Rodrigo Faour, acesse a Estante Virtual.
DUAS CANÇÕES, DUAS LETRAS
Bastidores / Chico Buarque
Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim
Tomei um calmante, um excitante
E um bocado de gim
Amaldiçoei
O dia em que te conheci
Com muitos brilhos me vesti
Depois me pintei, me pintei
Me pintei, me pintei
Cantei, cantei
Como é cruel cantar assim
E num instante de ilusão
Te vi pelo salão
A caçoar de mim
Não me troquei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que tu nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar
Cantei, cantei
Nem sei como eu cantava assim
Só sei que todo o cabaré
Me aplaudiu de pé
Quando cheguei ao fim
Mas não bisei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar
Cantei, cantei
Jamais cantei tão lindo assim
E os homens lá pedindo bis
Bêbados e febris
A se rasgar por mim
Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
Conceição / Dunga e Jair Amorim
Conceição
Eu me lembro muito bem
Vivia no morro a sonhar
Com coisas que o morro não tem
Foi então
Que lá em cima apareceu
Alguém que lhe disse a sorrir
Que, descendo à cidade, ela iria subir
Se subiu
Ninguém sabe, ninguém viu
Pois hoje o seu nome mudou
E estranhos caminhos pisou
Só eu sei
Que tentando a subida desceu
E agora daria um milhão
Para ser outra vez Conceição