O PDT vive uma disputa interna para a escolha do vice entre Alex Peixe, Cláudio Ávila e Humberto Reis. Há 20 anos, menos de meio ano antes de ser eleito prefeito pela primeira vez, Daniel Bordignon já ameaçou não concorrer em uma eleição onde o vice poderia não ser quem ele queria.
Foi em 1996. Não estava nos planos de Bordignon concorrer a prefeito. Ele já tinha ido para o sacrifício em 92, quando abriu mão de uma reeleição certa para vereador para concorrer à Prefeitura. Surpreendeu ao ficar na segunda colocação com 18.211 votos, atrás apenas de Edir Oliveira (PTB), eleito prefeito com 23.968 votos, mas acordou no dia seguinte da apuração dos votos a pé – o carro fundiu o motor – e cheio de dívidas de campanha. Então, naquele ano bissexto, no que dependesse da família, Bordignon seria candidato a vereador.
Para concorrer a prefeito, pessoas que viveram aquela época contam que ele teria feito exigências à sua corrente, a DS. Alguns dos pedidos parecem fantasia, quando testemunhamos hoje suntuosas campanhas até para síndico de condomínio. Bordignon teria pedido, não necessariamente nesta ordem:
- Uma pessoa de sua confiança, Márcio Souza, seria o tesoureiro da campanha.
- A campanha teria pelo menos um carro, que acabou sendo um Corcel II caindo aos pedaços.
- O PT daria uma ajuda de custo, já que, além de não dar aula, Bordignon teria que largar a editoria do jornal Correio de Gravataí durante a campanha.
- Ele seria ouvido na decisão sobre o vice.
As condições aceitas mudaram quando se abriram as porteiras para emancipações Brasil afora e um movimento começou a brigar para transformar o Parque dos Anjos em cidade. No bairro, a atividade industrial de empresas como a Pirelli – a GM não era de Gravataí ainda – respondia por 70% do PIB de Gravataí.
Dentro da corrente de Bordignon, Sérgio Stasinski, oito anos depois eleito prefeito, e Márcio Souza, vereador de 2004 até hoje, articularam para vice o lançamento de Alex Borba, do Sindicato dos Metalúrgicos, já de olho na possibilidade de Bordignon, morador do Parque, ficar do lado de lá da ponte no caso do bairro virar município, e Alex ser então o candidato a prefeito em Gravataí.
O PT entrou em uma disputa de dois meses. Quatro candidatos disputaram o vice: Alex Borba e os três vereadores, Miki Breier, Tânia Ferreira e Ataíde Oliveira. Alex e Miki chegaram a um segundo turno, onde Miki venceu por apenas dois votos.
: Clóvis Ilgenfritz com Bordignon ao centro e José Clóvis Azevedo, que mais tarde foi secretário de Educação do Estado
Bordignon estava certo
O principal argumento de Bordignon para defender o nome de Miki se mostrou correto. O companheiro de chapa era da Morada do Vale, e ele do Parque, que fica no outro lado da cidade. Em 94, a apuração em cédulas de papel durou quatro dias. Até as últimas 24h, José Mota comemorava a eleição. Abertas as urnas da Morada, Bordignon venceu por apenas 2.154 votos. Fez 35359 contra 33205 de Mota.
A quem estranha Bordignon estar hoje ao lado de Cláudio Ávila – autor do impeachment da prefeita Rita Sanco (PT) em 2011 e um dos que ajudou a salgar o caminho até ao atual momento de coma do PT de Gravataí – é preciso lembrar que, quando ele defendeu o nome de Miki como vice para vencer a eleição, o colega de partido tinha atrapalhado as chances dele, Bordignon, ser eleito deputado dois anos antes. Em 94, um Miki recém chegado ao PT não abriu mão de concorrer a deputado estadual, mesmo cargo que um já histórico – como chamam os petistas – Bordignon disputava.
Bordignon fez 11.016 votos, Miki 3.629. Nenhum foi eleito. Mas os 14.645 somados chegaram perto da última eleita pelo PT, Luciana Genro, e seus 17.256, deixando no campo do “se” as interpretações sobre o que aconteceria se o PT de Gravataí tivesse na época um candidato único.