Dando seguimento à série com o perfil de todos os vereadores eleitos em Gravataí feita pelo Seguinte:, conheça hoje a história de Paulo Silveira, o guri do Sítio Gaúcho
Quando veio no colo do pai de Porto Alegre aos sete meses de idade, o menino Paulo Silveira viu pela primeira vez a Gravataí que, 28 anos mais tarde, lhe faria vereador. A tia que o recebeu no Sítio Gaúcho, a dona Suelcy, não tinha como saber que aquele menino iria tão longe.
E ele foi.
Paulo Silveira nasceu em 22 de janeiro de 1984 em Porto Alegre. Os pais tinham vindo de Santo Antônio da Patrulha. De longe, a cidade era a esperança de dias melhores – senão para eles, pelo menos para o filho, que acabaram deixando para a tia criar quando o pequeno Paulinho tinha apenas sete meses de vida.
Suelcy recebeu o menino e o criou como filho ao lado do marido Agenor, em uma casa construída por ele no Sítio Gaúcho, em meados dos anos 80. Gravataí vivia a primeira década do Distrito Industrial e atraia gente até de outros estados em busca de um futuro melhor e com carteira assinada. O Sítio Gaúcho surgiu assim: de uma fazenda, virou loteamento para receber famílias como a da dona Suelcy, seu Agenor e, agora, do pequeno Paulinho.
: Passeio de bicicleta com o seu Agenor pelas ruas do Sítio Gaúcho
O primeiro contato com a política
Paulo Silveira tinha uns 12 anos quando ouviu uma palestra da então vereadora Tania Ferreira, do PT, em sua escola. Professora por formação, Tania falava sobre a organização dos estudantes e sugeriu algo que, de repente, tocou o coração e mexeu com a vontade de uma turma inteira: o Grêmio Estudantil.
– A gente organizou o Grêmio do colégio depois disso – conta.
Não parou mais de envolver. Aos 17 anos, filiou-se ao PT – um pouco por influência de Tania, um pouco pela proximidade com outro professor que, mais tarde viria a ser companheiro de partido no PSB: Miki Breier.
– Em 1992, quando ele foi candidato a vereador, a gente já tinha feito campanha para ele. Não sabia que mais tarde seríamos do mesmo partido.
Mesmo envolvido com o partido e a militância na Juventude do PT na época, Paulo Silveira apostou nos estudos. Sabendo das dificuldades da família, resolveu apostar em uma formação técnica e se inscreveu no curso de Contabilidade do Colégio Dom Feliciano.
– Minha formação é Contabilista – lembra.
O trabalho chegou cedo
Inscrito no programa Bom Menino da Associação do Bem-Estar de Gravataí, a Abemgra, Paulo ganhou uma chance de estágio na Pirelli. O programa era destinado a jovens de famílias de baixa renda que recebiam o auxílio para continuar estudando. Da Pirelli, foi trabalhar em um escritório de contabilidade em Porto Alegre e, depois, na Stemac.
– Não dava para parar de trabalhar. Tinha que ajudar em casa, pagar o curso no Dom Feliciano. Tive que aprender cedo o que era ter responsabilidades – resume.
No meio da jornada, Ana Luiza
Em 2003, Paulo conheceu Ana Luiza, filha do então secretário de Transporte, Celso Maza Godoy. Logo, começaram a namorar. São casados até hoje e pais de três meninos: Arthur, Caio e Victor.
Além de companheira de vida, Ana Luiza também é militante política. Formada em publicidade, foi assessora de Anabel Lorenzi já no primeiro mandato como vereadora, entre 2004 e 2008. Na época, pelo ainda PT.
– Saímos juntos do PT na crise de 2005 – diz Paulo.
: Paulo com os dois filhos mais novos
Rumo ao Socialismo
A crise de 2005 é popularmente conhecida como o escândalo do Mensalão. Parte do PT deixou o partido por conta das denúncias de pagamento mensal a parlamentares em troca de votos no Congresso entre o primeiro e o segundo governo do presidente Lula.
Em Gravataí, na época, a ruptura com o PT também se deu por outras razões. Miki Breier era casado com Anabel, vereadora em primeiro mandato e sua natural sucessora política. Miki havia sido vice-prefeito entre 1997 e 2000 e, depois, voltou à Câmara como vereador. Tinha planos de concorrer a deputado estadual, mas rompeu com Daniel Bordignon, que fez do seu vice à época, Sérgio Stasinski, o eleito por Gravataí.
Miki foi para Cachoeirinha.
Lá, também por falta de entendimento com o PT, o então prefeito José Stédile liderou a dissidência que nos primeiros dias de outubro de 2005 deixou o PT em direção ao PSB. Lado a lado com o prefeito, Miki e Luiz Vicente Pires, atual prefeito de Cachoeirinha.
– A gente, em Gravataí, ficou um pouco mais. Nos filiamos em 4 de novembro de 2005 – lembra Paulo.
Miki precisava da filiação no ano anterior para concorrer a deputado – e vencer a eleição – em 2006. Anabel, recém empossada vereadora, não teve tanta urgência já que não disputaria aquela eleição. No entanto, não tinha planos de permanecer no PT e convenceu seu grupo político a reforçar fileiras no PSB – com Paulo e seus planos de concorrer a vereador já em curso.
Militante da Juventude
Paulo Silveira mantinha o trabalho para sustentar a família e, nas horas vagas, a militância partidária lhe ocupava o tempo. Foi secretário da Juventude do PSB e hoje ocupa a vice-presidência do partido na cidade, além de uma vaga no diretório estadual.
Anabel se reelegeria vereadora em 2008 e foi indicada para presidência da Câmara. Ana Luiza foi junto. E Paulo acabou sendo indicado pelo partido para um cargo na Comissão de Economia da Assembleia Legislativa. Sua formação como contabilista ajudou na decisão da bancada do PSB, que percebia no jovem o crescimento político que o levaria, anos depois, a disputar e vencer a primeira eleição para vereador de que participou.
Com a cassação de Rita, uma oportunidade
Em 2011, Paulo Silveira acompanhou de longe todo o processo de cassação da ex-prefeita Rita Sanco. Tinha os informes por Anabel, a única vereadora do partido na época.
– A gente discutia no diretório. Inclusive a filiação do vereador Cau Dias, que vinha sofrendo um processo de expulsão no PT – revela.
Em 15 de outubro de 2011, um sábado Dia do Professor, a professora Rita Sanco perdeu o mandato pelo voto de 10 dos 14 vereadores de Gravataí na época – entre eles, o de Anabel Lorenzi e o recém filiado Cau Dias. Durante o governo de interino de Nadir Rocha, presidente da Câmara na época, Paulo Silveira foi indicado pelo partido ao cargo de secretário municipal de Relações Comunitárias.
A pasta não existe mais na atual estrutura administrativa do governo. Na época, cuidava das relações com as associações comunitárias e o Orçamento Participativo, também extinto pela atual gestão.
– O partido entendeu que eu podia contribuir e eu aceitei a tarefa.
A ruptura veio logo
A relação do PSB com o governo de transição instalado depois da interinidade de Nadir Rocha e comandado pelo peemedebista Acimar da Silva começou a instabilizar já nos primeiros dias de dezembro. O PMDB e o PV queriam de Anabel um compromisso de apoio à candidatura de Marco Alba em 2012 o que o partido não queria dar.
– Anabel era a nossa candidata. Depois da cassação, não entendemos porque tanta pressão do PMDB, mas já era a ansiedade para resolver logo e apoiar o Marco.
A aliança durou até meados de janeiro. Pressionado a desistir, o PSB optou por manter a candidatura de Anabel e deixar o governo Acimar. Paulo Silveira saiu junto com os demais indicados pelo partido e acabou voltando para a Assembleia, onde pensava em adiar os planos de concorrer a vereador.
– Não ia concorrer, mas foi um pedido do partido. Visitei líderes comunitários e aceitei o desafio.
Paulo Silveira tirou das urnas 1.135 votos e foi o segundo mais votado da coligação Mais que Mudança, que reuniu PSB, PCdoB e PSDB. O menino do Sítio Gaúcho havia se transformado num quadro técnico sempre atuando ao lado de figuras públicas e, agora, era vereador em Gravataí.
: Logo na primeira campanha, Paulo se elegeu vereador em Gravataí
O mandato de oposição
O primeiro desafio de Paulo Silveira foi superar a diferença de atuação como um articulador de bastidores em um homem público com mandato eletivo – e, portanto, que depende de votos.
– Sempre me dediquei à articulação e à estratégia. Então, comecei o mandato planejando minha atuação, trabalhando junto com as associações comunitárias e de bairros. Como já tinha trabalhado na prefeitura, conhecia o funcionamento da máquina e foi mais fácil.
Uma das primeiras ações de Paulo foi visitar todas as 76 escolas municipais da cidade levando as ideias da política de inclusão defendida por ele.
– Tenho sido um vereador de oposição na pior época da história da cidade. Falta muita coisa e o governo não é transparente, age pouco. E quando faz, é mal feito – critica.
Uma das ideias de Paulo Silveira é que a prefeitura use mais tecnologia na relação com o cidadão. Ele defende que a internet seja usada como uma ferramenta para impulsionar a participação popular em instrumentos como o orçamento participativo, por exemplo.
– Outra área que me incomoda bastante é a Saúde. Falta transparência, falta ação.
O discurso de Paulo Silveira pontua bem o distanciamento que o PSB de Gravataí tem do PMDB de Marco Alba e explica porque o partido tem dificuldades em uma eventual aliança com o peemdebista na eleição.
– Anabel é a nossa candidata escolhida em Congresso Municipal, conta com nosso apoio e a unidade do PSB – argumenta.
O menino do Sítio Gaúcho cresceu – para a vida e para a política.
Um arrependimento
– Não tenho. Gostaria de ter feito mais. Quando peço algo ao governo e não é feito porque sou vereador de oposição, vejo como a política pode mesmo ser mesquinha.
O mandato em uma palavra
– Muito trabalho, com dedicação e amor.
Uma personalidade política
– Eduardo Campos. Tive a chance de conhecê-lo. Era um cara genial.
Candidato a prefeito de Paulo Silveira
– Anabel Lorenzi.