Primeiro suplente de deputado federal, Jones Martins esteve prestes a assumir o mandato por duas vezes nos últimos meses – e teria mais uma chance na semana que vem se confirmado o impeachment da presidente Dilma Roussef
Vale o alerta: essa é uma "não-entrevista" com Jones Martins.
Por dois dias o SEGUINTE: tentou contato com o ex-vereador. Ele está em Brasília. Lá, o momento da República toma o tempo – e a atenção. O trabalho no Ministério da Saúde ocupa o dia e entra a noite. A filha Helena, de três meses, vê o pai quase só nos finais de semana. E em meio a tudo isso, o celular toca, toca, toca… Jones não atende.
Se ele anda ocupado por lá, outros, por aqui, tem mais tempo para especulações. E são elas a matéria-prima da pauta do SEGUINTE: que publicamos hoje.
As chances de ser deputado
A primeira chance de Jones assumir o mandato foi entre janeiro e março deste ano. Terceiro suplente da bancada do PMDB, era o próximo na linha sucessória – Mauro Lopes assumiu a vaga de Giovani Feltes, secretário da Fazenda do governo Sartori e José Fogaça a de Márcio Biolchi, chefe da Casa Civil.
Fogaça teve problemas coronários no final do ano e iniciou 2016 afastado das atividades legislativas. Chegou a ensaiar uma licença, mas o regimento da Câmara dos Deputados dá ao parlamentar o direito às faltas com um atestado de saúde, sem a necessidade de convocação do suplente, por até 120 dias.
O ex-prefeito de Porto Alegre se recuperou a tempo de votar, em 17 de abril, a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo plenário da Câmara. E, agora, não sai mais.
A segunda chance começou a ser especulada nos bastidores ainda durante os dias em que o impeachment tramitava pela Câmara. Com a possibilidade real de afastamento da presidente no horizonte o rompimento formal do PMDB com o governo, o vice-presidente Michel Temer começou uma longa série de conversas com parlamentares e líderes políticos para as tratativas sobre composição de um eventual ministério. Na Saúde, cogitou o nome do deputado federal gaúcho Osmar Terra, do PMDB.
Se Terra assumisse, abriria vaga para Jones – o que agradaria também o mais fiel aliado de Temer, o ex-ministro Eliseu Padilha, responsável pela indicação de Jones no Ministério da Saúde.
Terra acabou descartado por conta da adesão do PP ao futuro governo Temer. Raul Cutait, professor da USP e cirurgião do hospital Sírio Libanês, deve ser confirmado no cargo caso o impeachment avance no Senado no início da semana que vem.
Além de Osmar Terra ficar na Câmara, outro fator afasta Jones da Câmara – pelo menos por enquanto. Uma fonte do PMDB revelou no início da semana que Márcio Biolchi pensa em deixar a Casa Civil e voltar ao mandado. A conversa com Sartori já teria acontecido, mas o governador teria pedido mais tempo ao deputado para encontrar um substituto para o posto.
Confira, nas numeradas, o que a política deve oferecer a Jones nos dias seguintes a votação no Senado que pode afastar a presidente da República.
1.
Jones fica onde está. Hoje, o ex-vereador é o chefe de gabinete de Alberto Beltrame, secretário de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde. Ambos foram indicados sob a confiança de Eliseu Padilha, que deve ser o chefe da Casa Civil num eventual governo Temer – e Padilha não mexeria nos postos de Beltrame e Jones, que contam ainda com o apoio político da bancada federal do PMDB do Rio de Janeiro.
A hipótese – improvável – de deixarem o ministério só aconteceria se Temer entregasse a Saúde do PP de 'porteira fechada', ou seja, com todos os cargos de assessoria e confiança da hierarquia, o que Padilha já disse que não acontecerá.
As bancadas dos partidos, aliás, preferem indicar nomes para escalões inferiores onde podem ter acesso à execução dos programas e projetos do governo e não apenas às chefias, onde a atuação é institucional e limitada. Além disso, Beltrame é reconhecidamente um nome técnico para a função – em 2010, chegou a ser cogitado para titularidade do Ministério da Saúde se o PMDB mantivesse o domínio sobre a pasta, mas acabou preterido pelo PT, que indicou Alexandre Padilha para o cargo.
2.
Jones volta para concorrer: a vereador ou a vice-prefeito. A ideia existe e é pensada tanto por Jones quanto por seus aliados. O prefeito Marco Alba teria sugerido a Jones uma candidatura à Câmara como uma espécie de puxador de votos e como atrativo para ampliar a bancada peemedebista na próxima legislatura.
Jones, por outro lado, tem vontade de concorrer na chapa majoritária – agora, como vice, ou no futuro, como candidato a prefeito.
O acordo político que tem com Marco Alba o inibe de uma articulação mais ostensiva em relação à indicação de vice: se o plano é manter o governo, a posição deve necessariamente ser discutida com os partidos aliados, que podem reivindicá-la para si.
A decisão de Jones sobre um ou outro caminho deve acontecer somente no final do mês de junho, quando os rumos da eleição terão contornos mais definidos. Até lá, as conturbações da República devem estar mais estabilizadas e podem dar a Jones segurança sobre o futuro político a seguir.