perfil Tanrac Saldanha

O tenente de Deus

Tanrac com a esposa Tatiana e os filhos Isabella e Arthur

Dando seqüência à série com o perfil dos vereadores publicada diariamente pelo SEGUINTE:, conheça a história de como um homem do interior, acostumado com a disciplina do Exército, se tornou evangélico, chegou a Gravataí e se elegeu vereador pelo PRB

 

– A primeira vez que fui na igreja (a Universal, que frequenta até hoje), achei que não voltaria mais. Minha sogra me convidou. Depois da segunda vez, nunca mais deixei de ir – conta Tanrac Magalhães Saldanha, aos 42 anos, vereador pelo PRB em Gravataí.

Ex-tenente do Exército Brasileiro e formado em administração de empresas, Tanrac foi eleito em outubro de 2012 com 1.879 votos na primeira eleição que participou. E, este ano, vai atrás da reeleição.

É casado com Tatiana Oliveira há 19 anos, pai de dois filhos: Isabella, de 6 anos, e Arthur, com um ano e meio.

A igreja e como ele se relaciona com sua fé é fundamental para compreender a história e a vida de Tanrac, sua militância e as opções políticas que fez até aqui. Antes, uma pequena advertência: o nome Tanrac tem, sim, uma explicação.

– Coisa da minha tia, Tania, que tem o mesmo nome da minha mãe. Daí dá para saber porque o 'Tan'. 'Rac' é do meu pai, que se chama Solrac, ou Carlos ao contrário, que é como se chama o meu avô – revela.

– Tanrac é a junção da primeira parte do nome da minha mãe, Tania, com o final do nome do meu pai, Solrac.

 

Tudo começou em Santa Maria

 

A trajetória do único vereador do Partido Republicano Brasileiro – o PRB – de Gravataí começa no dia 7 de janeiro de 1974 na cidade de Santa Maria, no centro do Rio Grande do Sul. Naquela época, a região já superava a era das locomotivas movidas a carvão e começava a ganhar importância como cidade universitária. Santa Maria também era conhecida como a cidade dos coronéis – até hoje, a presença militar exerce papel importante na formação social por lá.

Em meados dos anos 70, o município vinha se transformando no grande polo regional que é hoje e uma das cinco maiores cidades do Estado, ponto de convergência para jovens dos quatro cantos do Rio Grande em busca de uma carreira entre as tropas ou um diploma de curso superior.

O pai de Tanrac, o seu Solrac, era um médio empresário quando o filho nasceu. Tinha uma frota de carros e alguns funcionários que faziam o que hoje se chama 'conciliação bancária': buscavam documentos de uma agência a outra e levavam para uma central, onde tudo era processado, catalogado e arquivado. O serviço ainda hoje é um dos pilares da atividade bancária, mas os carros e os funcionários foram substituídos pela velocidade da internet. Os tempos eram outros em 1974.

Lobinho, escoteiro e sênior: a infância de fardas

Tanrac cresceu como qualquer criança de classe média em uma cidade típica do interior gaúcho: jogava bola com os amigos no colégio, bolita, osso. Aos domingos, almoço com toda a família.

Nessa época, algo em particular chamava a atenção do menino: o Grupo Escoteiro Henrique Dias, que na época ficava bem no centro da cidade, nas proximidades do Colégio Marista. Ele via as crianças de farda curta que se reuniam todos os sábados e passavam por perto de sua casa e decidiu que seria uma delas. Então pediu ao pai para ser escoteiro.

Ficou dez anos por lá: entrou Lobinho, saiu Sênior. Mais tarde, no Exército, talvez as primeiras lições de disciplina e hierarquia obtidas lá no início dos anos 80 tenham valido ao jovem tenente, mas não podia imaginar o que o futuro lhe manteria a farda e lhe trocaria as patentes.

– Nem sei o que eu queria ser naquela época. Não pensava em ser vereador, empresário, essas coisas – supõe.

 

 

: Tenente Tanrac, ao centro, com outros dois oficiais do Exército 

 

E o Exército apareceu primeiro

 

Quando terminou o ensino médio – na época, segundo grau -, Tanrac teve pela frente a chance de estudar em um núcleo da escola militar que formava oficiais para a reserva, o NPOR. Em Porto Alegre, a chance é dada a quem cursa o Colégio Militar ou se oferece para o serviço militar obrigatório já tendo prestado vestibular para carreiras médicas, de engenharia ou mecatrônica, por exemplo. Já que era preciso 'servir' ao Exército, por que não sair de lá um profissional?

Topou.

Aplicado aos estudos tanto quanto pode ser um jovem de 18, 19 anos, Tanrac pulou de soldado a tenente durante os anos que fez o Núcleo de Preparação para Oficiais da Reserva, o NPOR, em Santa Maria – braço interiorano do CPOR da Capital. E tinha a chance de passar quatro anos após completar os estudos em atividades em quartéis em que sua presença fosse requisitada ou necessária – afinal, Tanrac agora era o tenente Saldanha, um oficial do Exército Brasileiro.

Dos 21 aos 26 anos, Tanrac passou pelas unidades militares de Charqueadas e General Câmara – uma cidadezinha de pouco mais de 8,5 mil habitantes a pouco mais de 70 quilômetros da Capital, onde quase tudo gira em torno do quartel. O nome da cidade é uma homenagem ao general José Antônio Correia da Câmara, o Visconde de Pelotas, ministro da Guerra e governador do Rio Grande do Sul na segunda metade do século XIX.

– Lá, só tinha o quartel. Era o centro da cidade. Daí tu imaginas – diz.

Do período em que se dedicou às Forças Armadas, Tanrac trouxe o jeito regrado e a postura confiante. Nunca deu um único tiro em combate – dos tempos de guerra, só leu nos livros.

 

Entrando para o pelotão dos casados

 

O futuro vereador republicado ainda servia em Santa Maria quando conheceu a jovem Tatiana Oliveira, que mais tarde viria a ser sua namorada, esposa e mãe de seus dois filhos. O namoro foi ganhando força aos poucos e apesar dos contratempos da juventude. Além disso, as folgas no quartel eram raras e Tanrac tinha pela frente uma designação que certamente lhe tiraria de Santa Maria nos próximos anos. Jovem e menos centrado do que é hoje, admite que Tatiana teve trabalho para mantê-lo na linha.

– Eu vivia uma vida muito desregrada, bebia bastante. Teve uma vez que fomos para praia com uns amigos e comprei 20 fardos de latas de cerveja. Era um horror, um exagero, sempre. E ela lá, do meu lado, mas sabe que não foi fácil – abre o jogo.

Tatiana conseguiu enquadrar o tenente: no dia 22 de fevereiro de 1997, Tanrac e Tatiana se casaram em Santa Maria.

– Foi a melhor coisa que fiz. Tenho uma família graças a ela.

 

: Apoiando o grupo Força Jovem, da Igreja Universal

 

Do Exército para a igreja

 

A igreja Universal entrou na vida de Tanrac de um jeito diagonal. Seu sogro, que tinha uma vida muito confortável em Santa Maria, perdera quase todo o patrimônio por uma série de decisões equivocadas. Numa das tantas noites de insônia e preocupação, a sogra de Tanrac assistiu na TV os relatos de fiéis da igreja que havia conseguido vencer na vida com a ajuda da fé.

– Minha sogra convidou meu sogro e eles foram. A vida deles mudou da água para o vinho. Passaram a viver um tempo melhor, coisas que pensavam que não teriam mais – conta Tanrac.

Tatiana foi quem primeiro se contagiou pela fé, seguindo os passos dados pelos pais. Até que, um dia, visitando Santa Maria num final de semana de folga, a sogra convidou o tenente para conhecer o culto que havia mudado suas vidas. Como a mulher já havia ido, ele foi.

– Achei que nunca mais voltaria – diz.

Meses depois, morando em Charqueadas, Tatiana pediu ao marido para passar a noite na igreja em uma atividade conhecida como 'vigília' pelos frequentadores da Universal. É um momento em que os fiéis começam suas orações ao cair da noite e só terminam quando o sol se levanta. Desde que haviam casado, nunca passaram uma noite longe um do outro. Mas o tenente consentiu – afinal, era uma atividade da igreja.

– Dei uma carona para ela antes de ir para faculdade. Eu não sabia, mas ela já fazia orações para pedir que eu fosse à igreja. Com o tempo e a perseverança dela, deu certo – resume.

Em pouco tempo, Tanrac entrou para outra hierarquia: desta vez, a da igreja Universal. Seguindo os preceitos proferidos pelo bispo Edir Macedo, se tornou evangelizador e missionário. Teve a chance de ser pastor, mas sua atividade profissional e a vida em família lhe mostraram que não teria como desempenhar bem a tarefa.

– Faço meu papel como missionário, me orgulho disso e vejo que posso ajudar as pessoas assim. Nem todos podem ser pastores. A Bíblia diz que Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. Minha missão é essa – aponta.

 

Um dia, Gravataí

 

Tanrac e Tatiana viviam bem em General Câmara, mas queriam a chance de criar a família perto de Porto Alegre, onde as oportunidades são maiores do que em uma cidade pequena. Em agosto de 2002, um amigo chamado Danilo lhe ofereceu um emprego de vendedor em uma concessionária da Toyota na Capital e o então ex-tenente não pensou duas vezes.

– Vim com ele de moto no dia 1º e 2 de novembro, feriado de Finados. Eu estava em Canoas com a Tatiana e o Danilo me apresentou Gravataí. Quando vi a casa no bairro Vera Cruz, eu disse: é essa. A Tatiana gostou e, em seguida, nos mudamos para cá – resume.

Tanrac já frequentava a igreja em Charqueadas, onde também iniciou seu envolvimento político. Quando chegou a Gravataí, se apresentou aos pastores da igreja da 59, a maior Universal da cidade, e começou novamente a participar dos grupos de evangelização.

– Não quis só me transferir. Poderia. Mas comecei de novo. Ia nos cultos, participava das reuniões. Ajudava como podia, sempre que podia. E fui crescendo na igreja de novo – diz.

Hoje em dia, é difícil separar o homem Tanrac de sua vida religiosa. Do trabalho como vereador às atividades de empresário, a vida em família, hoje, compõe as diversas faces de um mesmo homem transformado pela fé.

– Salvei meu casamento, nunca mais bebi um gole de álcool e cheguei ao sucesso profissional. Faço o que eu gosto. Tudo pela fé – define.

 

: Tanrac com o deputado federal Carlos Gomes, em Brasília

 

A política pelas mãos do pastor

 

Já dedicado à igreja, em 2002, ainda em Charqueadas, ajudou a campanha do candidato a deputado estadual Carlos Gomes – hoje, deputado federal pelo PRB. Era uma militância menos envolvida, no início. Mas a capacidade de organização e a dedicação de Tanrac chamaram a atenção dos pastores que faziam a linha de frente da ação política na Universal na cidade. Se não fosse a mudança para Gravataí, Tanrac certamente teria concorrido a algum cargo político por lá.

Mudança feita, os pastores se encarregaram de levar Tanrac novamente para a ação política. Antes do final de 2002, foi apresentado ao homem que dois anos mais tarde seria seu chefe na Câmara: o pastor Robinson Luís.

– Ele concorreu em 2004 e me pediu ajuda. Eu disse: vamos embora! E percorremos todas as igrejas, todas as comunidades. Nosso trabalho foi muito bom naquela época – considera.

Tanrac foi assessor de Robinson por dois anos e, depois, a convite do deputado Carlos Gomes, assumiu uma diretoria da Corag, a empresa gráfica do Governo do Estado.

Em 2008, Robinson Luís não conseguiu a reeleição e o PRB voltou a ficar sem representante na Câmara de Vereadores. Tanrac já havia saído da Corag, em 2010, quando foi chamado novamente na igreja pelo deputado Carlos Gomes, que o pôs no compromisso de reconquistar a vaga perdida em 2008 entre os vereadores de Gravataí.

– Eu já era sócio de uma empresa em que atuo hoje. Seguia na igreja e estava levando minha vida em frente. Daí veio a missão. Lembrei de uma frase que ouvi sobre ser governado por gente que nem sempre quer o bem dos demais porque quem quer às vezes não se envolve. Daí topei – revela.

 

O desafio da Câmara

 

Entre 2011 e 2012, Tanrac percorreu novamente os caminhos que havia feito anos antes anunciando entre comunidades e fiéis da igreja a candidatura de Robinson Luís. Dessa vez, no entanto, pedia por si.

– Era mais fácil para mim porque eu não apareci de repente. Já participa das comunidades, estava presente.

Fez 1879 votos em toda a cidade.

Tanrac nem sempre é o primeiro a pedir a palavra para usar a tribuna. Sua atuação na Câmara é mais ponderada: evita o confronto ostensivo de ideias, mas não foge delas. Desde o primeiro ano do mandato, participa da mesa que dirige os trabalhos e, ano passado, cogitou-se que poderia ser o presidente – era a vez do PP indicar o candidato, mas uma manobra política acabou elegendo Juarez Souza, do PMDB.

Tanrac havia sido cotado como alternativa caso Robertinho Andrade ou Beto Pereira, ambos do PP, não estivessem dispostos a assumir a função ou participar da disputa contra um candidato que também fazia parte da base do governo – Juarez, no caso. O ex-tenente nunca reivindicou o cargo para si, mas pelo menos a bancada do PMDB aceitaria a questão – a postura reta e o compromisso permitiram acreditar que seria um presidente adequado ao momento político conturbado vivido no final de 2014.

Não deu. Juarez levou. E, a bem da verdade, Tanrac não se abalou com isso. Hoje, exerce a função de secretário da mesa – é a voz dele que se ouve sempre que há a leitura de uma proposição em plenário.

 

 

: Tanrac defende as ideias do PRB na Câmara

 

Planos para o futuro

 

Tanrac Saldanha é candidato à reeleição. Tem contra si uma escrita e uma tradição: vereadores eleitos ligados à igreja costumam não se reeleger. Foi assim com Gilberto Roxo (vereador entre 2001 e 2004) e com Robinson Luís (vereador entre 2005 e 2008).

– Isso não me assusta: atividade política deles os afastou da igreja e o eleitor viu isso. Não é meu caso. Continuo até mais do que antes atendendo nossas comunidades – explica.

 

O mandato em uma palavra

 

– Se tivesse que definir em uma palavra, acho que seria foco: nunca deixar minha base de lado.

 

Um político que admira

 

O presidente do nosso partido, pastor Marcos Pereira.

 

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