Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos o SEGUINTE: apresenta Alex Peixe. Ele segue sempre seguiu os passos do pai, Carlinhos, e agora desbrava seus próprios caminhos.
Cedo da manhã, a dona Neida abre o portão de casa, na rua Janete Clair, nas Águas Claras, e logo começa a romaria de vizinhos.
– O cafezinho da mãe é famoso! – conta Alex Peixe.
Ali, há 41 anos, o pai dele, Carlos Medeiros, foi um dos desbravadores daquela região, para os mais bairristas, a ‘Grande Morada do Vale’.
– A casa do pai sempre foi uma referência. Hoje, a minha também é – diz, apontando para uma rua vizinha, a Vinícius de Moraes.
Peixe é o herdeiro político de Carlinhos, líder comunitário do bairro e vereador por quatro mandatos.
– Somos fieis a nossa comunidade. Nunca viramos as costas. Dia e noite atendemos quem nos procura, seja com problemas de saúde, atrás de emprego, para ganhar nenê e até para dar apoio na hora da morte de um ente querido – conta.
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Em família
Esse sentimento de comunidade permeia quem cerca os Medeiros. No gabinete de Peixe na Câmara está, por exemplo, Juliano Rocha, com quem ele jogava bola na infância:
– Até hoje o Peixe joga muito. Muito porque joga todo dia! – brinca o amigo, sobre o gosto do vereador colorado por futebol, que o fará disputar mais uma vez este ano o Veterano pela Amovale.
Outra assessora, Marilú Rosa Espíndola, é amiga da família há quatro décadas:
– Conheci o Alex bebê de colo. A mãe dele cuidou dos meus filhos. E, há 22 anos, quando adotei oito crianças, elas ficaram na creche que o pai dele ajudou o bairro a conseguir – conta.
– Somos todos irmãos, uma família – emenda Peixe.
Esse jeito de fazer política terá sequência neste ano com a candidatura da esposa de Peixe, Rosicler, como sua sucessora na Câmara.
– Nossa família é um porto seguro da comunidade. Ela é uma indicação de todo nosso grupo e está preparada – diz o vereador, sobre a pedagoga e mãe de seus filhos Thainá (19) e Valentina (2).
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Vice em novo partido
Peixe não concorre à reeleição porque é pré-candidato a vice de Daniel Bordignon, que como ele, trocou o PT pelo PDT do advogado Cláudio Ávila, mentor do impeachment da prefeita petista Rita Sanco em 2011. Ao sair, apesar de licenciado, Peixe era o presidente eleito do, até ali, único partido de sua vida.
Em 2014, ele foi cabeça de chapa numa articulação que tirou a hegemonia partidária do grupo de Bordignon, ao vencer a disputa contra Cristiano Kingeski, à época ao lado do velho companheiro.
– Eu, como o pai, estou na política para tentar fazer as coisas para a nossa comunidade. Nosso bairro é de classe média-baixa, precisa do básico. Na Câmara, me sinto no meio do caminho, não tenho ferramentas para atender às pessoas. Muitas coisas dependem da Prefeitura, e fui oposição durante todo esse governo. No Executivo, vai dar para ir lá e fazer – argumenta Peixe.
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Diferente do pai
Ser oposição foi uma das diferenças do mandato de Peixe em relação aos 16 anos consecutivos em que o pai foi vereador. Carlinhos sempre esteve ligado aos governos de sua época. Já Peixe foi uma das principais vozes da oposição na Câmara. Talvez tenha sido o vereador que mais falou durante os três anos e pouco da atual legislatura. É raro não vê-lo ao microfone, usando seu tempo de inscrição ou pedindo um aparte para dar sua opinião entre manifestações de outros parlamentares.
– O pai participou de governos que atendiam a cidade. O prefeito (Marco Alba, do PMDB) que está aí não faz para os dele, quem dirá para a oposição. Por isso sempre procurei apontar os erros – argumenta.
: Quando junta os dois microfones na tribuna todo mundo sabe que Peixe é capaz de falar sobre o que for
Legado na tragédia
Na ‘grande Morada’ e no meio político, a indicação do filho para sucessão de Carlinhos parecia questão de tempo. E ela veio da pior forma possível para a família. Pouco depois do meio dia de 15 de março de 2012, Peixe estava em casa preparando a campanha de reeleição do pai, quando recebeu a ligação do Padre.
– Sofremos um acidente grave. Teu velho está mal – foi o que disse o assessor, que dirigia o carro que recém tinha batido em um caminhão na ERS-118, no caminho para a Câmara.
Para retirar Carlinhos dos destroços, as ferragens precisaram ser cortadas pelo Corpo de Bombeiros com um equipamento chamado desencarcerador. O resultado: 15 dias em coma, 18 coágulos no cérebro e a necessidade de mais de um ano de repouso e observação.
Hoje, mesmo com dificuldades, Carlinhos consegue se locomover sozinho e sofre apenas com alguns lapsos de memória. Mas segue o mesmo vizinho sorridente e interessado em reunir as pessoas em torno de si.
– No dia do acidente, e nos dias seguintes, houve uma comoção. Centenas de pessoas foram até o hospital. Isso deu muita força para o pai viver – emociona-se Peixe, ao lembrar.
– Devo minha eleição naquele ano ao trabalho da vida dele, da família, dos amigos, e a confiança da nossa comunidade. Tenho muito orgulho do pai e me espelho em seu legado, simples e honesto. Foi eleito vereador em 1996 e saiu em 2012 morando na mesma casa, com um carro e uma casinha na praia, enquanto muitos enriquecem na política – orgulha-se.
: Peixe se orgulha do pai Carlinhos que "não usou a política para enriquecer"
Um pouco da história – e das histórias – do Alex Peixe:
Alexander Almeida de Medeiros nasceu em 7 de agosto de 1973 em Porto Alegre, filho de Carlos e Neida, irmão de Cristiane e Simone. Com um ano, a família, que até então vivia em Cachoeirinha, se mudou para Águas Claras, em Gravataí. O pai, carpinteiro, foi trabalhar na construção das primeiras casas do loteamento da Guerino.
– Somos do primeiríssimo grupo de moradores – recorda Alex Peixe.
Carlinhos fundou o time pioneiro do bairro, o Atlético, construiu uma sede, e mobilizou a vizinhança para reivindicar a construção de uma creche e o asfaltamento das ruas.
: Na única foto que localizou na infância, ao lado da Susi
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Sempre junto, Peixe testemunhou inúmeras conversas do pai com os políticos ‘donos da caneta’. Uma delas, com prefeito pedetista José Mota (1989-92), aconteceu embaixo de uma figueira na rua Carlos Drummond de Andrade.
– O pai colocou, em cima do Chevette velho do Mota, um papel todo riscado, que era para ser uma ‘planta’ da construção de uma sede para a associação de moradores. E o pai também levou um livro-ata para fazer o prefeito assinar e se comprometer com a obra.
– Para nossa surpresa Mota disse que ali o bom seria construir um posto de saúde. No mesmo minuto o pai fez ele escrever no livro-ata que faria o posto. E o posto foi feito! – diverte-se Peixe.
O quinto mandato
Após bater na trave em 1992, a liderança comunitária e a conversa macia de Carlinhos o fizeram ser eleito o quarto vereador mais votado, em 96, com 1.286 votos. Foi reeleito em 2000 (1.477), 2004 (o mais votado da cidade, com 2.940 votos) e 2008, com 3.222 votos, até o acidente tirá-lo de combate.
Peixe, o braço direito do pai, manteve viva a dinastia ao fazer 2.150 votos e conquistar o quinto mandato consecutivo dos Medeiros.
– Eu sempre o ajudei, hoje ele me ajuda – resume.
O primeiro trabalho, ainda menino, já foi ao lado de Carlinhos, na sede do Atlético. Exerceu também a atividade de auxiliar de gráfica, serviu ao Exército, na Cavalaria, e foi por 10 anos cobrador da Vicasa, entre 92 e 2002, até ocupar cargos públicos na bancada do PT e no gabinete de Bordignon na Assembleia Legislativa, e também na Prefeitura, como subprefeito da Morada do Vale e secretário substituto de Trânsito e Transportes.
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O apelido Peixe
Um dos orgulhos da família foi sua formatura em História, pela Ulbra, que o deu também a experiência de dar aulas nas duas escolas públicas do bairro em que estudou, a Augusto Longoni e a Anita Garibaldi.
E foi na Longoni, ainda criança, que ganhou o apelido de Peixe, num episódio bem ‘à moda antiga’.
– Eu matava aula para ir pescar e nadar no açude do Zizo, que ficava perto da escola. A diretora foi lá e me trouxe pela orelha, dizendo que eu parecia um peixinho, que não queria sair da água. A turma viu e começou a tirar sarro. Como eu ficava brabo, aí é que o apelido pegou!
– Hoje, se falar Alexander, ninguém conhece. Se falar Peixe, o pessoal sabe quem é – ri.
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OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO PEIXE:
“Posso falar da multa moral, para quem ocupa vaga de pessoas com deficiência; da preferência para alunos especiais em escolas próximas de casa; do teste do coraçãozinho, que funciona como um teste do pezinho; da necessidade das empresas que vendem online agendarem o horário da entrega com o comprador; da cirurgia plástica para mulheres vítimas de agressão; da semana de incentivo à leitura; e da cota de 2% para negros e pessoas com deficiência nos cargos de CC da Câmara e Prefeitura”.
UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:
“Admito: não estou contente. O legislativo é muito limitado. Queria poder fazer mais pelas pessoas”.
O PEIXE PELO PEIXE, EM UMA PALAVRA:
“Determinado”.
OS PLANOS DO PEIXE:
“Para este ano, ajudar nosso projeto a voltar à Prefeitura com Bordignon, para resgatar a auto-estima dessa cidade, além de, com a candidatura de minha esposa, manter o espaço de nossa comunidade na Câmara. Mais para o futuro, e se a comunidade achar que é a hora, tenho o sonho de fazer parte da nova safra que disputará eleições para deputado e prefeito”.
O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:
“Apelo para que participe mais da política, mesmo que seja apenas para criticar. Desistir da política ajuda apenas aos maus políticos. Não participar faz com que sempre os mesmos mandem na política”.
UM POLÍTICO ADMIRADO PELO PEIXE:
“Meu pai, Carlos Medeiros”.
O CANDIDATO A PREFEITO DO PEIXE:
“Daniel Bordignon”.