perfil Márcio Souza

Fazendo acontecer

Márcio (em pé) foi decisivo na cassação da prefeita Rita Sanco em 2011

Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos, o SEGUINTE: apresenta Márcio Souza. Sua capacidade de articulação ajudou a derrubar um governo.

 

 

O governo Rita Sanco (PT) tinha pouco mais de dois meses naquela noite de março de 2009 e Márcio Souza fez uma previsão, sentado em uma mesa da parte interna da lendária pizzaria do Pandollo, na parada 79:

– A prefeita não termina o mandato.

O exótico prognóstico do vereador, que na época ainda estava no partido do governo, se confirmou em 15 de outubro de 2011. Após um rumoroso processo de impeachment, iniciado em julho daquele ano, a professora foi cassada justamente num Dia dos Professores, por 11 votos entre os 14 vereadores.

– Aquilo mostrou a desarticulação na condução política do governo pela prefeita e seus interlocutores – resume Márcio, voto decisivo para o afastamento da prefeita do partido que ele, na turbulência do episódio, deixaria após 27 anos de militância.

Márcio não se incomoda com o título de ‘articulador do impeachment’.

– Assumo minhas responsabilidades. E é bom lembrar que, além das questões políticas, a justiça reconheceu uma das denúncias do processo: a de que a Prefeitura iria pagar R$ 100 milhões de uma dívida com a CEEE, cobrada pelo Banrisul, que já estava extinta – argumenta.

 

Oráculo dos bastidores

 

Se o impeachment é um borrão na história de Gravataí, serve para representar o retrato mais bem acabado da capacidade de articulação de Márcio, que o levou a duas eleições como vereador, quatro vezes secretário municipal, coordenador de fiscalização da Smic em Porto Alegre e assessor de Tarso Genro no Conselhão do Lula e no Ministério da Educação, além de uma ascensão meteórica à presidência estadual de seu novo partido, o PV.

Na Câmara, é comum ver vereadores de diferentes partidos buscando uma análise de Márcio sobre a votação de leis polêmicas, seja no plenário ou em conversas de elevador. Isso antes mesmo dele assumir, no ano passado, a liderança do governo Marco Alba (PMDB).

E que projetos que envolvem a estrutura da Câmara e o trabalho dos vereadores não chegam ao plenário sem uma consulta a ele, pode se considerar uma regra. 

Márcio é vice-presidente da União dos Vereadores do Brasil, uma éspecie de 'sindicalista' dos parlamentares.

 

: Márcio acompanhou Tarso em Brasília no Conselhão e no Ministério da Educação

 

Fora da linha de tiro

 

Com o dom da oratória, é craque em usar como recurso, em horas de aperto do governo frente à oposição, discursos longos e sinuosos, com o reconhecimento de feitos de ambos os lados, para amolecer o coração dos adversários.

Quem acompanha o dia a dia da Câmara sabe que é coisa rara entre parlamentares: nesta legislatura Márcio ainda não sofreu ataques mais danosos ou esteve na linha de tiro de colegas de legislativo.

 

Fogo em Roma

 

Quem vê tanta calmaria, e o perfil de estadista que ele mesmo gosta de alimentar, até esquece o passado recente onde Márcio travou uma verdadeira guerra com setores do PT – que tentaram expulsá-lo e buscar seu mandato na justiça quando ele saiu do partido em 2011.

O impeachment da prefeita Rita foi só “o fogo em Roma”, como ele costuma dizer.

A crise começou ainda na gestão de Sérgio Stasinski. O governo ainda não tinha acabado e Daniel Bordignon, que estava em um processo de afastamento crítico de seu ex-pupilo, já era apontado como candidato a prefeito. Mesmo declarando publicamente apoio ao ex-professor, Stasinski e seu grupo sonhavam com a reeleição, o que levou a uma guerra fria dentro do partido.

O rompimento definitivo veio em setembro de 2008, quando a poucos dias da eleição Bordignon teve a candidatura impugnada pela justiça eleitoral, mas mesmo assim barrou a indicação de Stasinski, articulando Rita como candidata a prefeita e para vice Cristiano Kingeski, hoje a quilômetros de distância, mas na época um de seus assessores mais próximos.

– Eu alertava para os danos que causaria um rompimento entre o Stasinski e o Bordignon. Eu dizia que me procurassem para construir, porque se fosse para destruir, nada sobraria, nem o partido – recorda.

Márcio escolheu Stasinski.

– Acabei ficando no lado mais fraco, mas com a pessoa em quem eu mais confiava – explica.

– O PT? 20 anos depois de chegarmos à Prefeitura, está aí, sem nenhum vereador e abandonado por Bordignon.

 

: Márcio caminhando até a Prefeitura ao lado de Sérgio Stasinski no dia em que o PT chegou ao poder

 

Uma amizade, uma tragédia

 

A relação entre Márcio e Stasinski, pessoal e política, segue até hoje. O amigo desde a adolescência é indicação de Márcio em uma alta assessoria da Casa Civil do governo Sartori.

A amizade – que remonta aos primeiros passos de Márcio na política – se solidificou em uma tragédia.

Em 2008, Márcio perdeu o filho primogênito, André, de apenas 10 anos, vitimado em menos de uma semana por uma agressiva meningite.

– Nada na vida se compara a isso. Para quem só recebia sorrisos da vida, essa foi uma tristeza definitiva. Não há um só dia em que não pense no André. Na época, fiquei muito deprimido, desisti de tudo. Era secretário da Educação e pedi demissão, larguei a candidatura a vereador e fiquei 20 dias sem sair de casa. O Sérgio ia me ver todos os dias, me fazia levantar da cama, buscar forças onde não tinha – conta.

– Amigo assim a gente encontra só uma vez na vida – emociona-se, em lágrimas.

É a primeira vez que Márcio conta publicamente esse drama.

– Concorri naquela eleição e fui eleito com 3.431 votos, a segunda maior votação da história de Gravataí. Mas nunca usei isso. Pedia que ninguém comentasse. Jamais desonraria o nome do meu filho virando mais um canalha qualquer da política – lembra.

– Aprendi a ver a vida de um jeito diferente. Tanto espiritualmente, eu que não acreditava em nada, como em relação ao marxismo, que fazia parte da minha formação. Enfim, a gente começa a ver a insignificância de alguns problemas e situações que a vida nos coloca. Amadureci muito – conclui.

Hoje Márcio é casado com Joice, com quem tem a filha Sofia, 17, que está concluindo o ensino médio.

– E tem também o Ruan, filho de minha ex-esposa (Elisângela), que criei e chamo de meu filho, que tem 21 anos e cursa Direito.

 

: Márcio com os filhos: o menino à esquerda é André, falecido precocemente aos 10 anos

 

O primeiro deputado

 

A escolha pelo PV, conforme ele, teve a ver com o “novo Márcio”.

– Sai do PT, partido que eu tinha escolhido para militar, viver e morrer, para escapar do fuzilamento. Era uma questão de sobrevivência política. Não me queriam lá, e eu sentia que o partido não respondia mais às minhas convicções. Essa guerra pelo exercício do poder não me fazia bem – argumenta.

– Hoje tenho tudo a ver com as bandeiras do PV, da sustentabilidade, da atenção ao meio ambiente, o humanismo e o pacifismo, sem ranço, com diálogo à esquerda e à direita – diz.

O perfil de articulador apareceu entre os verdes na última eleição. Viajando a região e o interior, Márcio botou em curso a estratégia de ocupantes de cargos eletivos concorrerem. Se para a Câmara federal não foi suficiente (ele próprio foi candidato e fez 10.038), a votação dos candidatos a deputado estadual permitiu ao partido conquistar o primeiro mandato na Assembleia Legislativa, com o médico João Reinelli, vereador de Nova Prata.

Como fez na mesa do Pandollo, em 2009, antecipando dois anos e sete meses antes o impeachment da prefeita Rita Sanco, Márcio tinha feito essa outra ousada previsão, um ano antes da eleição de 2014:

– Vamos eleger um deputado com 10 mil votos.

Elegeu com 9.098 votos, enquanto a mais votada eleita, Manuela D’Ávila (PCdoB), fez 222.436 votos, e ficaram de fora nomes como José Sperotto (PTB), com 37.364, e Paulo Odone (PPS), com 17.442 eleitores.

A testemunha das previsões sou eu.

 

: Márcio comemora a eleição do primeiro deputado estadual do PV durante sua presidência

 

Um pouco da história – e das histórias – do Márcio:

 

Nascido em Porto Alegre, em 30 de novembro de 1969, Márcio Souza viveu no bairro Santo Antônio até vir para o Bonsucesso, em Gravataí, com o pai, Arlindo Bom Fim da Silva, o Baby, e os irmãos Marcelo e Michel, após a separação da mãe Salete – que no segundo casamento deu a Márcio mais um irmão, Maurer.

Baby era um dos mais conhecidos cantores da noite porto-alegrense. Na época, o dono do palco na boate Gruta Azul, como barítono do Conjunto Melódico Norberto Baldauf.

 

 

O feminismo e a Lua

 

Os horários do pai faziam com que Márcio, o primogênito, e os irmãos, administrassem a rotina da casa.

– Já vivíamos o feminismo. O pai sempre dizia: “Tarefa doméstica não faz cair o pinto” – diverte-se.

– Mas mesmo trabalhando à noite, o pai sempre foi presente. Ia nos levar na escola, conversávamos muito. E uma coisa que não esqueço era quando trazia empadas quentinhas e nos acordava. Que sabor tinha aquilo!

Caseiro, jogador de botão, o garoto fã de ficção científica, cuja primeira palavra foi “bua”, influenciado pelo nascimento no ano em que o homem pisou na Lua, achou sua turma no colégio Tuiuti.

 

: O pai – que canta até hoje e tem por nome artístico Baby – era conhecido crooner da noite porto-alegrense

 

Com Nero e Cleópatra

 

Uma lembrança da infância, do tio Euclides Figueiredo trazendo santinhos políticos para ele brincar, despertou quando Márcio foi convidado pelo colega Sérgio Stasinski para ser seu vice na chapa vencedora para o grêmio estudantil da escola.

– “Diretas Já, de diretor a presidente”, era nosso slogan. Vivíamos uma efervescência dentro da escola e entre os jovens, era época de reabertura, de expectativa por uma eleição direta à presidente da República, que só veio acontecer em 90 – recorda.

Foi num diálogo mais ou menos assim que, à época, se filiou a um PT ainda ‘subversivo’ e na clandestinidade, recém saído do MDB.

– O que defende?

– O socialismo.

– Quem participa?

– Não posso revelar.

– Onde é a reunião?

– Não posso dizer.

Todos tinham codinomes:

– Coisas tipo Nero, Cleópatra – lembra Márcio, despistando sobre o seu:

– Quando eu entrei já não era mais necessário.

 

: Márcio na época da escola estadual de ensino médio Tuiuti, do bairro Bonsucesso

 

Filando batatinha

 

A história de sua adolescência se mistura com campanhas eleitorais.

– Lembro 88, quando Claudio Salgado foi o candidato a prefeito, e o PT elegeu os primeiros vereadores: Daniel Bordignon e Ataíde Oliveira. Escolhíamos lugares como o Tropicana, na 67 e o Blooming, no Centro, conversávamos com outros jovens, apresentávamos nossas ideias, filávamos uma batatinha e mostrávamos os santinhos. Só que como tínhamos poucos, levávamos o material embora. Pedíamos que as pessoas anotassem os nomes dos candidatos!

– Acredito que muitos votavam por pena – brinca.

Numa época de jornadas políticas a pé ou num Corcel I 1971, o “Fumbica”, emprestado a Stasinski pelo pai, Márcio recorda que um xis à vezes era divido em quatro para alimentar o grupo nas madrugadas.

– Quem pagava era o Stasinski, que era trabalhava na seção de hortifrutigranjeiros do Nacional – recorda, citando também como um dos integrantes da trupe o até hoje amigo Calebe Guimarães.

 

: Márcio com o amigo de todas as horas Sérgio Stasinski (D) em 96, na época candidato a vereador

 

Guri de dois empregos

 

Mas a vida não era só política. Começou a trabalhar aos 15 anos, na Hertz Medicamentos, em Porto Alegre, e chegou a ter emprego em dois bancos ao mesmo tempo.

– Fazia supletivo a partir das 7h, de tarde trabalhava na Caixa e de noite no Itaú. Para ganhar mais, ia até a madrugada trabalhando na compensação. Dormia 3, 4 horas por noite, mas ainda militava em Gravataí. Bom é que, na época, fiz um pé de meia e não precisava mais dividir o xis – diverte-se.

 

: Márcio na época em que, nas campanhas, até o xis era dividido

 

Nos subterrâneos com Fidel

 

Uma das histórias que mais gosta de contar é o encontro com Fidel Castro, em 5 de fevereiro de 2005, quando era chefe de gabinete de Tarso Genro e o Brasil era o país homenageado na Feira Internacional do Livro.

A logística do momento histórico com o mítico líder da Revolução Cubana só poderia estar envolta em mistério e paranóia.

– O encontro foi confirmado um dia antes e às 17h nos buscaram na Casa Consular. Circularam com a gente por uma hora até nos levarem a Fidel, que estava a uma quadra, numa repartição secreta em um subterrâneo de um hotel – conta.

– Fidel contou toda história da Revolução Cubana, mas, durante a conversa de cerca de seis horas, não citou nenhuma vez Che Guevara – surpreendeu-se Márcio, percebendo ali, entre o comandante maior, e o ideólogo e ícone romântico dos guerrilheiros de Sierra Maestra, uma das brigas de beleza tão comuns aos mais reles mortais da política.

– Ele dedicou uns 20 minutos a mim porque o Tarso me apresentou como ‘comissário do partido’, uma das funções mais importantes nos partidos comunistas – lembra Márcio.

 

: Márcio em seu tempo sozinho com Fidel numa audiência de mais de seis horas com Tarso Genro

 

OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO MÁRCIO:

“Como vereador, considero o principal projeto a Lei da Ficha Limpa para Câmara e Prefeitura, que impede que ocupem cargos públicos agentes políticos condenados por qualquer tipo de crime em tribunais de colegiado. O deputado Miki Breier (PSB) se inspirou em meu projeto para apresentar lei na Assembleia, e mais de 800 cidades me pediram cópias e adaptaram o projeto. Mas me orgulho de ter participado, no Ministério da Educação e no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, da criação de programas como o ProUni, o Universidade para Todos e o Minha Casa, Minha Vida. Essa experiência me ajudou agora e colaborar com o prefeito para não perdermos a escola técnica no Santa Rita e o projeto habitacional de mais de 2 mil casas na parada 103, onde também serão reassentadas famílias das margens da duplicação da ERS-118 e de áreas de risco de alagamentos. Como secretário de Educação, trabalhei muito pela formação dos professores e servidores, e conseguimos 48 escolas abertas. Para este ano, temos um projeto em parceria com a Fundação Herbert Daniel, do PV, para conscientização ambiental, e resgate e monitoramento do Rio Gravataí”.

 

UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:

“De nada me arrependo. A soma de meus acertos e erros fazem o que sou hoje. Nunca tive nenhum processo na vida pública, tenho ficha limpa e forneço meu CPF para quem quiser procurar”.

 

O MÁRCIO PELO MÁRCIO, EM UMA PALAVRA:

“Persistente”.

 

OS PLANOS DO MÁRCIO:

“Concluir o curso superior em Gestão Ambiental, chegar ao doutorado, ter um negócio de soluções para o meio ambiente e ensinar em universidade. Acho que assim posso ajudar a construir um mundo melhor, de pessoas melhores, aproveitar para influir positivamente na criação de consciência ambiental, num momento em que o adolescente está na passagem à vida adulta”.

 

O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:

“Não se informe apenas pela TV, porque ali só aparece o que da política é nojento, ilegal e desprezível. Tem muita gente que faz política para o bem, que não se envolve em coisas ruins. E, se a política é o ato de acreditar, é ter esperança, acredite se informando. Hoje com a internet é muito mais fácil. Em resumo, escolha bem seu candidato”.

 

UM POLÍTICO ADMIRADO PELO MÁRCIO:

“Tarso Genro”

 

O CANDIDATO A PREFEITO DO MÁRCIO:

“Marco Alba”.

 

 

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade