O Solda é um poeta muito bem disfarçado de cartunista, entre outras lides artísticas. Vive e atua em Cutiriba/PR, e isso quer dizer que gerencia um dos melhores tambores culturais da cidade, o blog Solda Cáustico. Ninguém sabe se a ruidosa audiência é consequência só dos talentos dele ou se da generosidade dele em promover talentos alheios. O que se sabe é que cada vez que ele publica um poema seu, ou de algum dos seus muitos amigos poetas, o blog todo estremece de emoção, mais do quando publica um cartum (aí o blog ri discretamente). Como o 3° Neurônio acha que não se vive sem poesia – há quem discorde, mas é uma discordância nada lírica – inauguramos a seção com três poemaços brotados do seu peito ou da sua cabeça (nem ele tem certeza de onde vêm). Até a próxima fornada de versos.
#1
chuva pra ser chuva
tem que cair todas as chuvas
chuvas sujas
chuva de pedras
chovendo onde o vento
faz a curva
chuva pra ser chuva
tem que ser precipitada
chuva de papel picado
chovendo copiosamente
sem chover no molhado
chuva pra ser chuva
tem que sair na chuva
derramando
as primeiras chuvas
da estação chuvosa
chuva de perguntas
chovendo silenciosa
#2
quando
chegas silenciosa
ouço tua pele
produzindo queratina
teu pâncreas
exalando insulina
teu glóbulos vermelhos
cheios de hemoglobina
teus músculos cansados
de tanta proteína
quando chegas
com tuas células de messalina
escrava dos genes da disciplina
abominável albumina
dos deuses da adrenalina
tua carne
transforma minha alma
em carnificina
#3
é preciso que se morra
mas que se morra aos poucos
devagar
dentro do horário
com cautela
sem onerar o erário
é preciso morrer
na disciplina protocolar
parar de respirar
sem nenhum comentário
morrer
é muito particular
Para conhecer a poesia, as artes e o humor do Solda, acesse Solda Cáustico. É só o começo da admiração por ele.