O Café com Negócios da Associação Comercial, Industrial e de Serviços (Acigra) serviu críticas ao modelo de pedágio urbano na ERS-118, divulgado ao mercado – e por quatro meses suspenso – pelo governo Eduardo Leite (PSDB)/Ranolfo Vieira Jr. (PSDB).
Compreensível.
Uma das coisas mais absurdas, neste escândalo todo, é que representantes do Movimento RS-118 Sem Pedágio, região que representa mais de 1 milhão de habitantes e o maior PIB gaúcho, só tenham recebido ‘balões’, tanto do renunciante, como do atual inquilino do Palácio Piratini.
– Há três meses negam audiência – lamentou o coordenador Darcy Zottis, que começou o movimento em maio de 2021 ao questionar pesquisadores às margens da rodovia e ouvir que levantavam dados de fluxo para o estudo de instalação de um pedágio; o que depois se concretizou com o ‘Bloco 1’, que envolve mais de 400 quilômetros de rodovias metropolitanas.
– Marcam e desmarcam. Nos sentimos enrolados –resumiu Ana Cristina Pastro Pereira, diretora da Sogil e presidente da Acigra, que coordenou a reunião online, que você assiste na íntegra nas redes sociais da maior entidade de Gravataí.
O escândalo, como já tratei em uma série de artigos, vai além de pedagiar uma rodovia urbana após R$ 400 milhões em investimento públicos. O ‘nosso’ pedágio, projetado entre Gravataí e Viamão, no entorno do que hoje é a região que mais atrai investimentos de logística, prejudica as pobres Alvorada e Viamão para bancar investimentos na região da rica Gramado ou no caminho do Litoral pela ERS-040.
As informações foram confirmadas também pelos participantes Paulo Ziegler, coordenador de Infraestrutura da Fetransul, que é a federação das empresas de logística e transporte de cargas do Rio Grande do Sul; Régis Albino Marques Gomes, vice-presidente da Acigra e representante regional da Federasul e Paulo Silveira (PSB), vereador criador da Frente Parlamentar Contra o Pedágio, da Câmara de Gravataí.
No que Ziegler bem traduziu como “um plano de negócios, não de concessões”, porque só serve para arrecadar e atrair investidores com um lucro de 20%, da arrecadação de cerca de R$ 20 bilhões em 30 anos, é prevista como contrapartida da empresa vencedora, além da manutenção da rodovia, a duplicação do trecho de 15 quilômetros entre Gravataí e Viamão, a um custo de pouco mais de R$ 100 milhões, além de, no 20º ano, a projeção de uma terceira pista.
– Chegamos ao limite de sugerir ao governo: não duplique o trecho que falta. Vamos perder empresas que atraímos após anos de caos até a 118 ter sido duplicada entre Sapucaia e Gravataí – apelou Régis Marques, que nos últimos anos testemunhou o município receber investimentos de logística e e-commerce do porte da Magalu e GLP; e, certamente, teme negociações como a que avança para um centro de distribuição da Amazon.
Como solução para custear a manutenção da 118, o movimento também já sugeriu ao Estado leiloar a construção da ERS-010, pedagiada, mas começando do zero.
– Pedágio urbano sem vias alternativas é um imposto. Em Buenos Aires, na Argentina, Santiago, no Chile, na Flórida, há pedágios urbanos, mas com a construção de vias novas, expressas, com a manutenção das antigas para quem não quer pagar – observou Ziegler.
Que lembrou do ‘Polão’, projeto de há 30 anos ameaçou criar um anel de pedágios na BR-116 e na região metropolitana, incluindo a 118, e que parecia esquecido com a construção da BR-448.
– Quando a presidente Dilma veio inaugurar falou que era impensável pensar em um pedágio urbano e a resposta a isso era a 448. Agora esse modelo volta pior para a 118, que garante 30% da arrecadação, num subsídio cruzado às avessas, onde cidades mais pobres pagam a conta.
O político do debate on-line, Paulo Silveira, que alertou para “o custo na mesa das pessoas”, já que a conta do pedágio será dividida entre grandes e pequenos, encerrou com pertinente observação política.
Se o movimento comemora ter apoio de 47 dos 55 deputados estaduais, da maioria da bancada federal gaúcha e de todos candidatos de oposição – de esquerda, centro ou direita – ao Palácio Piratini, o “plano de negócios” começou lá em 9 de março de 2021, quando com os votos favoráveis de 42 deputados e contrários de 9, a Assembleia Legislativa aprovou o modelo de concessões de Leite.
– Agora, perto da eleição, é fácil dizer que é contra. O que acontecerá depois de 2 de outubro. Eleito ou não reeleito, ninguém sabe. Esse governo terá mais três meses – alertou o vereador.
Ao fim, é tão escandaloso esse modelo que assusta até privatistas convictos, como Ana, Régis e Zottis, que fazem questão de dizer que “não são contra” pedágios e privatizações.
Esse tema sempre me lembra a clássica “there is no free lunch, o “não tem almoço de graça”, máxima popularizada pelo economista Milton Friedman como título de livro em 1975, mas que remonta aos bares do Velho Oeste norte-americano, onde era tradição oferecer comida para clientes que comprassem bebidas.
Reputo comida e bebida de graça essa concessão da 118 para algum grupo privado explorar, após mais de 400 milhões em dinheiro público, e com os pobres pagando pelos ricos.
Um negócio que não se fazia nem no Velho Oeste do Billy the Kid.
Mas, cuidado: em ano eleitoral o único cartaz seguro de empunhar é “Procura-se um mocinho”.