RAFAEL MARTINELLI

Ameaça de greve dos ônibus intermunicipais escancara desleixo do governo estadual com transporte coletivo; Candidatos não vão tratar disso? É o gari quem paga

Se a decisão ao final da reunião das 11h desta segunda-feira for por greve dos ônibus intermunicipais, não foi por falta de aviso.

Os governos Eduardo Leite-Ranolfo Vieira Jr. (PSDB) não priorizaram a negociação por subsídios para o transporte coletivo.

Arrisco que uma paralisação, que prejudicaria o povo, não desagradaria os patrões, e talvez seja didática; a pauta não resta no debate dos candidatos ao Palácio Piratini, como foi demonstrado no primeiro debate, na noite deste domingo, na Band.

A paralisação não atingiria ônibus municipais, cujo subsídio de cerca de R$ 8 milhões aprovado no governo Luiz Zaffalon (MDB) sustenta o sistema, mantém salários em dia e reduziu tarifas em R$ 1,05.

Vamos às informações.

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários Intermunicipais da Região Metropolitana (Sindimetropolitano) tem indicativo de greve devido ao atraso no pagamento integral dos salários.

O Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul (Setergs) pagou uma parte dos vencimentos na sexta e sinalizou com a quitação em 10 dias.

A paralisação pode atingir, a partir do primeiro minuto desta terça-feira, cerca de 3,5 milhões de pessoas que dependem do transporte intermunicipal em Gravataí, Cachoeirinha, Glorinha, Viamão, Canoas, Alvorada e Nova Santa Rita.

Após três rodadas de negociação entre quinta e sexta, com mediação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), patrões, cujo sindicato é presidido por Fabiano Rocha Izabel, diretor da Sogil, alegaram em nota “incapacidade de arcar com o valor integral dos salários de agosto”.

Os representantes das operadoras de transporte público metropolitano alertaram para a “gravidade do desequilíbrio financeiro enfrentado pelo sistema nos últimos anos” e reforçaram a necessidade de uma “solução definitiva por parte do governo estadual”.

De acordo com o Setergs, houve uma redução de 73% dos passageiros nos últimos 25 anos, 45% deles de 2019 para 2020. “Mesmo com a retomada pós-pandemia, o fluxo ainda está bem abaixo do patamar anterior à covid-19. Além disso, os custos com mão de obra, combustível e outros insumos dispararam”, alegam em nota.

Na convenção coletiva de 2022/23, o Setergs e o Sindimetropolitano firmaram acordo que concedeu reajuste de 7% nos salários a partir de 1º de junho de 2022. Uma segunda parcela do reajuste seria concedida a partir de 1º de janeiro de 2023, totalizando 13%.

O sindicato patronal vem solicitando a revisão tarifária por parte da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan). Após análise, a Metroplan sinalizou a necessidade de um reajuste tarifário de 19,3%.

O processo de revisão tarifária só foi distribuído ao Conselho Estadual do Transporte Metropolitano (CETM) na sexta-feira, quando o cálculo foi apresentado. A data do aumento de tarifa tinha sido estipulada para 1º de junho, mas o valor ainda não foi ajustado.

“O sindicato entende que a conta não pode ser paga unicamente pelos usuários e reafirma a necessidade de contrapartida do Estado, com aporte que possa auxiliar no custeio do sistema”, conclui na nota.

Em dezembro do ano passado, o Governo do Estado, com aprovação da Assembleia Legislativa, liberou subsídio de R$ 88,5 milhões para as empresas de transporte da região metropolitana de Porto Alegre pagarem os salários em dia.

Mas a crise continua.

O ‘bolsa-carro’ aprovado pelo governo federal não impactou o suficiente no diesel.

Relatório de comissão especial, presidida pela deputada estadual Patrícia Alba (MDB) reafirmou em julho o alerta e a necessidade de subsídio não só estadual, mas também federal – em dezembro de 2020 o presidente Jair Bolsonaro vetou a liberação de R$ 10 bilhões para o transporte coletivo em regiões metropolitanas do Brasil.

– Essa crise é do sistema metropolitano. No municipal o salário está em dia. A Prefeitura está pagando a diferença entre receita e custo do transporte público – lembrou o prefeito Luiz Zaffalon (MDB) ao Seguinte:, nesta manhã.

– Nosso governo assumiu que existe o déficit e pagou caro por isso. O Estado fez um repasse e parou. Agora o sistema intermunicipal não tem nem pro salário – lamenta.

Em Gravataí, além da manutenção do sistema, a redução de R$ 1,05 pode ser imperceptível para muita gente. Mas, para efeitos de comparação, a economia permite a um casal de trabalhadores, que usa diariamente dois ônibus, comprar um botijão de gás a cada mês.

Ao fim, apanho bastante no Grande Tribunal das Redes Sociais por apontar a necessidade da ‘institucionalização’ do subsídio, municipal, estadual e federal.

É impopular, mas inevitável – como sempre descrevo; e por isso sempre chamei ‘pauta-bomba da Sogil’, para o leitor de Gravataí entender do que se trata.

Fato é que não apareceu ainda alternativa para manter tarifas pagáveis na crise que vive o transporte coletivo desde a ‘tempestade perfeita’, que começa com a chegada dos aplicativos, explode na tragédia da pandemia e é piorada por combustíveis 65% mais caros em 12 meses.

E quem paga, e precisa do serviço, é o pobre, que não tem a escolha de ir para o trabalho de carro próprio ou uber.

Se em um ônibus tem um juiz aposentado, um estudante e um gari, é este quem paga.

E é este mesmo gari que vai precisar do ônibus que pode não chegar na parada amanhã.

O atual governador e os candidatos ao Palácio Piratini não vão tratar disso?

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