3º NEURÔNIO

Gal Costa: Por entre flores e estrelas

Gal Costa faleceu quarta-feira, aos 77 anos de idade. Eleita uma das melhores vozes da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, gravou mais de 40 discos. Recomendamos o artigo do jornalista e músico Jonas Tiago Silveira


Em um 26 de setembro de 1945, nascia em Salvador Maria da Graça Costa Penna Burgos. Perdeu o pai, Arnaldo, ainda aos 14 anos, mas sempre teve na figura de sua mãe, Mariah, o incentivo para as grandes conquistas de sua vida. E foi por aí, sem pensar no que foi que sonhou, que chorou e que sofreu, que em 1959 uma canção na voz de João Gilberto intitulada “Chega de Saudades” (Tom Jobim/Vinícius de Morais) chegou aos ouvidos de Gal pelo rádio. João passou e exercer grande influência musical na sua vida a partir deste ano.

Sempre acreditando no que é lindo e lembrando da canção, Gal teve um pé na música também nas primeiras profissões, quando foi balconista em uma das principais lojas de discos de Salvador. Em 1963 o destino, forte como o aço, reuniu Gal e Caetano Veloso, começando aí uma grande amizade. Em 1964 estreou ao lado de Caetano, Gilberto Gil, Tom Zé e outros grandes artistas, o espetáculo “Nós, por exemplo…”, que inaugurou o Teatro Vila Velha em Salvador.

Seu longo histórico de gravações começou com participações no disco de estreia de Maria Bethânia em 1965, seguido também em álbum de Caetano Veloso. Realmente bastava só um pouquinho de mel para adoçar os ouvintes das principais rádios do Rio de Janeiro, pois na sequência Gal já gravou seu primeiro compacto pela RCA.

De balconista de loja de discos a sucesso de vendas em todas as lojas, Gal passou a brilhar em diversos festivais de música, interpretando canções de grandes nomes como Gilberto Gil e Torquato Neto. Além dos próprios discos, também participou de grandes obras ao lado de outros artistas, como o álbum Tropicália (ou Panis et Circencis) de 1968.

Na década de 70, com o exílio de Caetano e Gil por causa da ditadura militar, Gal assume um importante papel com sua música na luta pela liberdade. Colaborador do Portal UOL, o colunista Tales Faria diz o
seguinte sobre este período: “Tem um significado político forte porque foi uma cantora que participou dos movimentos contra a ditadura militar, cantou junto com os Novos Baianos contra a ditadura e
participava de festivais fora do país, especialmente na América Latina, sempre contra a ditadura militar.”

Gal sempre teve forte atuação política. Tales menciona até posicionamentos recentes da cantora que apoiou a candidatura de Lula: “É evidente que Bolsonaro não gostava dela, como não gosta do Caetano e não sei nem se ouvia a música deles”.

Dona de uma voz e uma rima cada vez mais rara, Gal atravessou os anos de chumbo marcando toda uma geração que clamava por liberdade. Álbuns como Aquarela do Brasil e Caras e Bocas, foram grandes destaques. Após o início dos anos 80, com a popularização de transmissão de espetáculos na televisão, ela também ganhou as telas, incluindo um especial para a Rede Globo.

Com um sucesso cada vez mais absoluto, a vida de Gal Costa também ganhava as páginas das revistas e tabloides com vários tipos de especulações. A cantora, que era assumidamente bissexual, nunca foi formalmente casada e era questionada constantemente sobre seus relacionamentos. Em uma destas entrevistas, recentemente, ao ser questionada sobre seus relacionamentos, Gal respondeu da seguinte
forma: “Meu nome é Gal e não te interessa com quem eu durmo”.

Dona de uma voz e um talento único, Gal nos deixa aos 77 anos de idade, tão próxima da nova manhã, aquela que como diz a música nos faria esquecer e de mãos dadas sair para ver o sol. Entre Flores e Estrelas, nunca esqueceremos de ti e nem da canção.

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