JEANE BORDIGNON

Dezembro de ventos e estrelas

É um enorme clichê dizer que o dia precisava ter mais horas… Mas não tem mês em que essa frase seja mais verdadeira do que dezembro. São muitos eventos na agenda, muitas coisas a resolver e planejar, presentes para comprar, e ainda aquela sensação de que você precisa organizar tudo que vinha empurrando com a barriga, para virar o ano zerado.

Mês de Iansã e Oxum, como não ser intenso?

Aqui em casa dezembro sempre me pareceu de uma energia caótica. Minha mãe já começava a ficar pilhada no final de novembro, porque teria os aniversários dos dois filhos para organizar no mês seguinte. Eu no dia 5, meu irmão no dia 26. A mãe ainda não sossegava enquanto não acontecesse a faxina de final de ano, porque chegar ao Natal com os vidros das janelas e os forros sujos era quase um sacrilégio. Então todo dezembro era aquela loucura, parecia que seria o fim do mundo caso faltasse comida nas festas ou a casa não estivesse limpa.

Mas o último mês do ano também era época de reunir a família na casa da vó, saborear os bolos maravilhosos dela, trocar presentes, e às vezes até jogar umas partidas de quatrilho. Eu gostava de admirar o presépio, que na minha infância meus tios montavam com detalhes embaixo do pinheiro. Uma vez tinha até um laguinho feito com espelho! Com os anos, e os tios saindo de casa, os detalhes de cenário foram diminuindo, mas as imagens sempre estavam ao pé da árvore.

E foi lembrando desse presépio que escrevi um conto de Natal, alguns anos atrás. Esse conto saiu numa revista especializada em bebês que circulou algum tempo aqui na cidade. Talvez alguns já tenham lido, mas mesmo assim, esse é meu presente neste Natal para os leitores do Seguinte:.

Um Natal iluminado a todos, e um 2023 cheio de realizações!


Noite de Luz


Missa do Galo, ceia com a família na casa da avó, troca de presentes… todas as tradições da noite de Natal já haviam sido cumpridas. Enquanto os primos estreavam os brinquedos novos correndo pela casa, Natália estava sozinha na sala, os olhos fixos no presépio. O menino Jesus cabia em sua mão, Maria e José não eram muito maiores. Uma vaquinha, um burrinho e algumas ovelhas cercavam a família, todos embaixo do pinheiro de plástico decorado com bolinhas vermelhas… as figuras eram as mesmas de quando a mãe de Natália era criança, e naquela noite a menina se perguntava como aquele presépio podia ser o mesmo das fotos meio desbotadas e ainda assim parecer tão belo, com suas cores ainda vivas. A estrela de papel dourado estava mal presa nos últimos galhos do pinheiro, quase caindo. Natália arrumou o enfeite e ficou admirando o brilho que vinha daquele simples pedaço de papel…

O brilho foi ficando mais intenso e parecia estar cada vez mais distante de seus olhos. Ela olhou para cima e viu a estrela de Belém iluminando o céu, cercada por vários pontinhos de luz. Sem conseguir desviar o olhar, foi seguindo a estrela, que ela sabia, anunciava o nascimento do Salvador. Alguns pastores foram avisados por um anjo que o filho de Deus acabara de nascer em uma gruta perto dali, e eles avisaram toda a comunidade. A menina que seguia a estrela era um deles, com sua túnica surrada e sandálias gastas. Mas caminhava sorrindo, ia conhecer o menino Jesus.

Natália respirou fundo e foi entrando devagarinho na gruta, cuidando para não fazer barulho. Chegou diante da manjedoura, onde a criança abençoada dormia tão tranquila como se não existisse mal nenhum no mundo. E parecia envolta em luz. A menina já estava completamente maravilhada, mas o que já parecia perfeito ficou ainda mais. O menino abriu os olhos e pareceu fitar Natália, enquanto abria o sorriso mais bonito que ela já havia visto. Tão lindo que a menina não se conteve, levou a mão para acarinhar os cabelos do bebê…

– Acorda, menina! Vamos para casa! – a mãe chamava apressada – Seu pai já está no carro.

– Hã? – Natália esfregou os olhos, sem saber se tinha mesmo adormecido, não sentia sono nenhum. E as lembranças da gruta eram nítidas demais para um sonho.

Levantou-se do sofá ainda meio confusa, e antes de seguir a mãe, olhou mais uma vez para a manjedoura do pequeno presépio de resina. O menino Jesus sorriu, e Natália também.

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