As molecagens irresponsáveis de Fernando Pacheco (sem partido), o Deadpool, ainda vão lhe custar o mandato. O vereador cometeu mais uma postagem em suas redes sociais onde dissemina pânico e joga usuário contra a equipe médica das UPAs de Gravataí.
Em 2021, aos 10 meses da atual legislatura, fiz o primeiro alerta em Fernando Deadpool age como um Boca Aberta de Gravataí; Um vereador a cliques da perda do mandato. Hoje, pelo que apurei, medidas são estudadas por parlamentares para investigar uma suposta quebra de decoro, e também pelo governo Luiz Zaffalon (MDB), junto à Santa Casa de Misericórdia, que administra o Hospital Dom João Becker e as UPAs.
Reproduzo o post do vereador e, abaixo, sigo.
Sigo eu.
Como já escrevi anteriormente, é difícil alguma pessoa não se sensibilizar com um suposto mau atendimento a uma criança. Mas a cobrança não pode ser feita de forma moleque, irresponsável, ainda mais por uma figura pública, e com mandato eletivo.
As palavras tem força. Matam, inclusive.
A postagem do vereador, que não cita a identificação do médico, coloca sob suspeita todos os profissionais das UPAs.
Além do potencial pânico, arma os espíritos das famílias que procuram atendimento pelo SUS. E ninguém vai passear em uma UPA com sua criança. As pessoas já chegam na emergência abaladas, com humores diversos. E se um pai agredir, esfaquear ou atirar em um médico?
Sabe bem o vereador que há caminhos para fazer denúncias. O Ministério Público é o principal, caso considere que os canais da Prefeitura e da Santa Casa não respondam adequadamente.
“Esse cidadão precisa sair de Gravataí!! Na minha cidade eu não aceito médico sem vergonha!!”, posta o vereador.
Pergunto:
O senhor é o xerife da cidade, vereador?
Como vai ‘mandar embora’ da cidade o referido médico?
Até que ponto vai o seu “não aceito”? É uma ameaça que o senhor faz?
Não me surpreenderia o ano legislativo recomeçar em fevereiro com um pedido de instalação de comissão de ética para investigar uma suposta quebra de decoro do político que se comporta como ‘doutor de plantão’ e ‘juiz’ do Grande Tribunal das Redes Sociais.
Conforme o artigo 12 do Código de Ética Parlamentar, Anexo I do Regimento Interno da Câmara, o pedido de processo disciplinar “poderá ser instaurado mediante a iniciativa do Presidente, da Mesa, de Partido Político, de Comissão, de qualquer Vereador, ou de outra autoridade, bem como por qualquer eleitor, no exercício de seus direitos políticos, mediante requerimento, por escrito, à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar”.
Conforme o artigo 8°, “o Vereador que proceder de forma incompatível com o decoro parlamentar (…) sujeitar-se-á às seguintes sanções: I- censura; II- suspensão do exercício do mandato; ou III- perda do mandato”.
A penalidade definida, inclusive a cassação, precisa ser aprovada com quórum qualificado, ou 14 entre os 21 vereadores; e determina o afastamento imediato do parlamentar do cargo.
O processo dura no mínimo 60 dias.
Se o artigo 4° dos Direitos do Vereador no desempenho de suas atribuições garante, “I- exercer com liberdade o seu mandato em todo o território municipal”, o artigo 3°, dos Deveres do Vereador, prevê “XI- tratar com respeito e independência os colegas, as autoridades, os funcionários e os cidadãos com os quais mantêm contatos”.
Já o artigo 11 proíbe “III- abusar das prerrogativas, imunidades e franquias que lhe são asseguradas no exercício do mandato”.
Ao fim, concluo como em outubro deste ano, em outro alerta que fiz no artigo Calma, Fernando Deadpool! Vereador envolvido em mais uma polêmica político-policial na UPA de Gravataí.
Cuidado, vereador! Não quero aqui usar do que seria uma crítica possível, de que o senhor usa a desgraça das pessoas para se promover. Parto do pressuposto de que faz suas denúncias, sempre filmadas, gravadas e compartilhadas, por indignação. Mas colocas em risco os profissionais de saúde, ao apresenta-los como culpados pelos problemas históricos do tão necessário SUS.
Há muita gente boa que trabalha nas UPAs, se dedica ao que faz, e tem medo de agressões.
Proponho ao senhor, pelo menos como teste, mude por um mês seu jeito de agir. Documente as situações em silêncio e encaminhe para a Santa Casa – duvido o superintendente Antônio Weston não lhe receba – e, se necessário, para o Ministério Público.
A UPA, o Hospital e o posto de saúde são lugares onde todos chegam doentes; uns mais, outros menos, e cada um sentindo na sua medida, ou mesmo em desespero ao testemunhar um familiar que ama sofrendo. Mas a medida técnica disso não se resolve no achismo, no grito, na selfie ou na live. Há um protocolo científico para atendimento.
Não estou aqui dizendo que a saúde de Gravataí é o paraíso na terra redonda, e nem que a bicentenária Santa Casa, ao colocar sua grife no Hospital Dom João Becker e, a partir deste ano, administrar as UPAs, não teve, tem ou terá falhas no atendimento.
Só reputo é necessário equilíbrio na cobrança; uma dosimetria na pena dos ‘culpados’ do dia.
Sugiro uma reflexão: não coloque em risco um mandato que é popular, e nunca abandone a dedicação a uma pauta tão necessária, como a saúde. Mas leve em conta que as UPAs fazem 150 mil atendimentos por ano. Com a força de suas palavras e capacidade de comunicação, não jogue todo um povo contra profissionais de saúde usando o detalhe, nunca o todo – mesmo que, reconheço, o detalhe por vezes seja uma vida, ou uma morte.
É uma responsabilidade que o senhor precisa ter, como vereador.
Ao que parece, a tara por cliques, que move tantos heróis fake da política, para muitos é mais sedutora. Em 19h, o post do político tinha 591 curtidas, 137 compartilhamentos e 91 comentários; todos indignados, para horror de quem já trabalha com medo nas UPAs.
Fato é que, se calcular votos, entre seus apoios e desafetos, no governo e na oposição, o Deadpool de Gravataí perceberá que a coisa é complicada até para o verdadeiro Wade Winston Wilson.
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