Eduardo Leite (PSDB) quer uma liberação dos gaúchos da palavra que empenhou na campanha eleitoral de não pedagiar a ERS-118.
No Tá na Mesa, evento da Federasul, o governador falou pela primeira vez sobre o estudo em curso para instalação de um pedágio no sistema free flow, cuja cobrança se dá por quilômetros rodados; polêmica que tratei nos artigos Bomba do pedágio na ERS-118 explode na Câmara de Gravataí: “Se deu palavra e assinou, sou contra 10 vezes mais”, diz vereador e presidente do partido do governador, O que diz o ‘embaixador de Gravataí no governo Leite’ sobre pedágio na ERS-118; O malabarismo verbal, o free flow gourmet e o sabor agridoce da responsabilidade em pautas-bomba, Bomba do pedágio na ERS-118 explode na Câmara de Gravataí: “Se deu palavra e assinou, sou contra 10 vezes mais”, diz vereador e presidente do partido do governador e Bomba do pedágio na 118: “Confio na palavra do governador”, diz Zaffa, prefeito de Gravataí; O jovem, a camponesa, o chefe ardiloso e o servo trapaceiro.
Reproduzo as palavras do governador e, abaixo, sigo.
“Na 118, o compromisso é: não vamos colocar praça de pedágio na 118. A 118 integra um bloco de rodovias, que entendemos precisa ser alvo de investimentos robustos, e que entendemos o melhor caminho é através da concessão. Bom, agora o que se reabre é a discussão de qual é o modelo econômico que vai viabilizar esses investimentos. Não será com a instalação de praças de pedágio. Nós vamos abrir a discussão com a comunidade, se é o caso de avançarmos, por exemplo, no free flow, ou se vamos para uma política de aporte. Só que o aporte público também é limitado. É sempre dinheiro que deixa de ir para um lugar para ir para aquele. Em segundo lugar, mais limitado na perspectiva que apresentei aqui, que perdemos arrecadação, o que limita a capacidade de investimentos nos próximos 4 anos. É importante lembrar que até 2029, quando se encerra o Regime de Recuperação Fiscal, o Estado do Rio Grande do Sul não pode acessar financiamentos, operações de crédito. Ou seja, todo investimento que vier a ser feito no Estado tem que ser com a nossa própria capacidade financeira. Sempre que nós decidirmos: ó, vamos pegar esse dinheiro e colocar onde a gente poderia eventualmente ter investimento em uma parceria com o setor privado, numa modelagem adequada que não venha a punir regiões, tanto melhor porque a gente consegue liberar recursos para investir em outras frentes e ampliar a nossa competitividade. Isso tem que estar claro para todos nós”.
Para quem quiser assistir, está em 1h45min no vídeo. Sigo abaixo.
Já houve reação do Movimento RS-118 Sem Pedágio, que entre o primeiro e o segundo turno, após entrevista exclusiva de Leite ao Seguinte:, EXCLUSIVO | Eduardo Leite diz que 118 não terá pedágio em Gravataí caso seja eleito, colheu a assinatura do então candidato em documento que dizia textualmente “dessa forma compromete-se com o não pedagiamento da ERS-118 os candidatos a goverandor do Estado do Rio Grande do Sul”; o que reportei no artigo ‘Efeito Seguinte’: Leite e Onyx assinam documento garantindo que ERS-118 não terá pedágio em toda sua extensão; Leia o compromisso.
Reproduzo o que postou o coordenador Darcy Zottis, em manifestação oficial no grupo de WhatsApp do Movimento. Abaixo sigo:
“Movimento RS 118 Sem Pedágio
No Tá na Mesa da Federasul de hoje 08/03, o governador Eduardo Leite disse que não colocará praças de pedágio na 118, mas que discutirá a modelagem free flow na rodovia com as comunidades.
Ora, com praças físicas ou cobrança automática por pórticos (free flow), é sempre pedágio. Muda apenas o sistema de cobrança.
Acontece que no Tá na Mesa de 19/10/22, em campanha eleitoral, o governador se comprometeu, inclusive assinando documento, em não pedagiar a rodovia.
A discusssão não é ouvir a comunidade, esta já se manifestou, inclusive formalmente: moradores, vereadores, prefeitos, Granpal, associações empresariais e da sociedade organizada, e são contrários a qualquer formato de pedágio na 118. Foi inclusive criada uma Frente Parlamentar na Assembleia Legislativa, que está sendo retomada.
O que está em jogo é se o governador cumpre com o que fala, e assina, ou não.
Coordenação Movimento RS 118 Sem Pedágio“.
Sigo eu.
Inegável é a interpretação de que o governo abusa da retórica para fugir do compromisso que assinou, e busca uma saída honrosa, ao esperar que as comunidades da Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Viamão aceitei o free flow em troca de investimentos que, do caixa do Governo Estado, não devem vir logo.
“Nós vamos abrir a discussão com a comunidade”, anunciou o governador na Farsul. Como será a ‘consulta’, aguardemos. Por plebiscito, como os que prometeu e não fez para as vendas da CEEE e Corsan? Em audiências públicas de verdade e não as esvaziadas para privatização da Corsan?
Certeza apenas que o Movimento RS Sem Pedágio e associações comerciais, como a Acigra, de Gravataí, já se manifestaram contra.
Concluo como no último artigo, mesmo que compreenda a dificuldade do Estado investir mais na 118; o que já era sabido em setembro quando o candidato Leite deu entrevista ao Seguinte: e assinou documento do Movimento RS 118 Sem Pedágio, e também foi postado vídeo pelo secretário de Infraestrutura Juvir Costela (MDB), às margens da rodovia, chamando de fake news as informações sobre pedágio na 118: a partir do compromisso firmado na campanha com o povo gaúcho, não deveria nem ter estudo sobre o pedágio, seja no modelo tradicional ou free flow.
As ‘verdades múltiplas’ sobre o pedágio me lembraram uma do Millôr:
“Da inverdade, apanhada na hora, diz-se que é uma mentira deslavada. Um ano depois talvez seja considerada apenas uma outra faceta da verdade. Se persistir, dentro de dez anos será um rapto de imaginação da pessoa que a pronunciou. Um século depois já ninguém mais se lembrará de quem disse a mentira e ela será parte fundamental da sabedoria popular, se transformará em fantasia, em canto, em ode, em épico, em conceito geral de eternidade filosófica”.
Ao fim, não deveríamos estar tratando disso porque o governador eleito disse na campanha que não teríamos pedágio.
Qualquer outro multiverso da verdade é a política se suicidando; e criando monstros que recém saíram debaixo de nossas camas.