Ainda não saímos pelo alçapão no fundo do poço do saneamento: Gravataí está entre as piores do Brasil, e é a pior do Rio Grande do Sul, no ranking da cobertura e tratamento de água e esgoto entre as 100 maiores cidades do Brasil, conforme estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil nesta segunda-feira.
Vendo o copo quase, não totalmente vazio, retomamos a colocação nacional, ainda nada honrosa, de 2021, subindo de 92ª para 88ª.
Nada novo para os gravataienses, que experimentam a falta de água de todos os anos e uma longa distância das metas previstas até 2033 pela PPP, a parceria público-privada da Corsan com a Aegea: 99% de oferta de água e 90% de coleta e tratamento de esgoto.
Hoje o percentual da população atendida com água é de 87% e com esgoto 33%. E o nosso principal manancial, o rio que carrega a cidade no nome, é o quinto mais poluído do Brasil, resistindo em meio à estiagem, poluição histórica e lentidão governamental.
Para o prefeito Luiz Zaffalon (MDB), a saída é, para além dos investimentos de R$ 1,7 bilhões da PPP (meio bilhão só entre Gravataí e Cachoeirinha) prometidos para os próximos 11 anos, a sempre polêmica privatização.
– Da atual situação já sabemos o resultado. Gravataí ao mesmo tempo em que só faz crescer, convive com uma rede de saneamento medieval – lamentou ao Seguinte:, sobre os dados que mostram que metade da água tratada é perdida por conta de tubulações antigas e ‘gatos’ e apenas três a cada dez moradores têm acesso a coleta de esgoto nas piores cidades do ranking.
Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e ligado à Associação de Preservação da Natureza Vale do Gravataí (APN-VG), uma das entidades ambientais pioneiras no Brasil, não tem o mesmo otimismo.
– O esgoto já está privatizado com a PPP e seguimos na UTI. Não temos transparência nos investimentos. Qual dinheiro novo foi aplicado? Na nossa bacia, não temos notícia – denuncia o geólogo.
Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, alerta para a diferença do investimento médio por habitante em obras e serviços de saneamento verificado entre as melhores e piores no ranking.
Para efeitos de comparação, as 20 melhores cidades investiram, em média, R$ 166,52 por habitante em serviços de saneamento. Já as 20 piores investiram apenas R$ 55,46; bem abaixo, inclusive, da média de investimento nacional, que foi de R$ 82 por habitante em 2021.
Ao fim, reputo a privatização, esperança de Zaffa, um terreno na Lua. Se em alguns casos deu certo a concessão à iniciativa privada, em países europeus privatizações têm sido revistas.
É ‘pauta-bomba’ e indefinida; parada no ‘tapetão’ após venda para a mesma empresa que opera a PPP por R$ 4,1 bi, como tratei mais recentemente nos artigos O porquê da pressa para privatizar a Corsan em 2022; A água e o esgoto no tapetão e Consultoria ‘internacional’ que atesta privatização da Corsan é a mesma das Lojas Americanas; O ‘rombo’, ou ‘roubo’ que corresponde ao orçamento de Gravataí por 20 anos.
Fatos é que seguimos na UTI, medievais no saneamento, mesmo com a PPP operando há dois anos.
O estudo
O estudo, feito em parceria pelo Trata Brasil e o GO Associados, analisa os indicadores de serviços oferecidos e eficiência dos municípios que concentram 4 a cada 10 habitantes do país, usando dados de 2021, os mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.
Os principais dados da ‘desigualdade sanitária e social’ foram compilados em reportagem de Carla Velasco, no G1.
Acesso a água potável: Enquanto 99,7% da população das 20 melhores cidades têm acesso às redes de água potável, nos 20 piores municípios, o número é de 79,6% da população.
Acesso a coleta de esgoto: 97,7% da população nos 20 melhores municípios têm acesso aos serviços, enquanto somente 29,2% da população nos 20 piores municípios são atendidos.
Tratamento de esgoto: Enquanto o primeiro grupo tem, em média, 80,1% de cobertura de tratamento de esgoto, o grupo dos piores trata apenas 18,2% do esgoto produzido.
Perdas na distribuição: Entre as melhores cidades, 29,9% da água produzida é desperdiçada na distribuição por conta de tubulações antigas e “gatos”. Já entre as piores, o indicador chega a 51,3%.
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