BLOG DO RODRIGO BECKER

CANOAS | Reforma de JJ é aprovada por 18 a 2: o novo centro político, a nova oposição e a tese da ‘bola pune’

Mário Cardoso, secretário de Relações Institucionais: em nome do governo, ele explicou a reforma aos vereadores e orientou a política na votação do projeto. Foto: Divulgação/CMC

Votação expressiva revela apoio à Jairo Jorge no plenário da Câmara e da indícios de quem ficará do outro lado do balcão, na oposição

A Câmara de Canoas aprovou há pouco, na fria noite desta quinta-feira, 20, véspera de feriado prolongado, a reforma administrativa proposta pelo Governo Jairo Jorge. Por 18 votos a 2, os vereadores derrubaram a lei aprovada em fevereiro sustentada pelo então prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques. A reforma extingue as secretarias de Políticas Transversais e de Gestão Distrital, cria a de Gestão Hospitalar e retoma os escritórios de Comunicação, o de Gestão e o de Projetos. Outra novidade é a criação do Escritório de Resiliência Climática, anunciado pelo próprio prefeito no discurso em que retomou o governo, em 28 de março.

A sessão foi precedida por um Grande Expediente em que houve a apresentação das novidades da reforma pelo secretário de Relações Institucionais, Mário Cardoso. Na sequência, o secretário interino da Fazenda, o servidor Adriano Ponticelli, explicou o impacto financeiro da medida. Segundo ele, a mudança na estrutura administrativa do governo irá gerar uma economia de cerca de R$ 16 mil por mês. Até o final de 2024, o montante acumulado beira dos R$ 380 mil.

Antes que apresentação fosse concluída, o vereador Emílio Neto (PT), líder do governo na Câmara, apresentou requerimento pedindo a inclusão do projeto da reforma na pauta do dia. O requerimento, em si, já garantia a aprovação da medida: dos 21 parlamentares, 16 haviam assinado o pedido de inclusão. Quando foi votado, o resultado não podia ser outro: 17 a 2, com o voto contrário dos vereadores Juares Hoy (PTB) e Abmael Oliveira (Solidariedade). Márcio Freitas (Avante) estava ausente e Cris Moraes (PV), presidente da Câmara, só vota em caso de empate.

Com a vitória assegurada, a bancada de apoio ao governo mediu intervenções de apoio ao projeto para não prolongar a discussão. Os vereadores Emílio Neto e Jefferson Otto (PSD) se revezaram na tribuna, tendo Juares Hoy e Abmael Olvieira como antagonistas. Com um pequeno pedido de recesso, Abmael – notório aliado de Nedy – apresentou emenda modificando o artigo 26 do projeto de lei. É o artigo que reduziu de 5 para 1 o número de assessores ligados ao gabinete do vice-prefeito. O plano havia sido classificado pelo próprio Nedy, à tarde, como uma “afronta à democracia e à legitimidade do cargo de vice-prefeito”. Ele, inclusive, recorreu à Justiça pedindo a suspensão do artigo 26 e a manutenção da atual estrutura de gabinete com cinco assessores, mas liminar foi negada.

Durante a discussão, Emílio e Otto reconheceram que houve uma quebra de confiança entre prefeito e vice, mas negaram que a intenção de corte na assessoria de Nedy seja por retaliação política. “O vice-prefeito tem uma única função: substituir o titular. Ele já foi secretário e, como tal, tinha toda a estrutura de uma secretaria para lhe assessorar. Como não será secretário, não precisa de tanta gente ao seu redor e sem função”, comentou Emílio. “Não é certo que numa cidade que é segunda ou terceira economia do Estado, como é Canoas, o vice-prefeito tenha apenas uma pessoa para lhe assessorar”, rebateu Abmael. “É preciso respeito ao cargo, independente de quem o ocupe”.

Ao fim e ao cabo, a emenda foi rejeitada por 18 votos a 2 – com os votos favoráveis apenas de Juares e Abmael. Daí por diante, seria apenas uma questão de tempo para que o projeto ganhasse também os seus números finais no placar de votação eletrônico: 18 a 2.

Comento.

Embora o projeto tivesse essa questão pontual de atrito com o vice e, portanto, uma razão para subir o tom da polêmica no parlamento, parece claro que o governo Jairo Jorge nadará de braçada com amplo apoio político na Câmara. Fez 18 a 2 na reversão da extinção do CanoasTec, semana passada, e 18 a 2 agora, na reforma administrativa. Números assim enterram qualquer perspectiva de formação de uma oposição consistente – capitaneada por Nedy ou sem ele.

A bem da verdade, em conversa com o blog à tarde, Nedy garantiu que não faria movimentos políticos pela manutenção de sua assessoria, embora classificasse a intenção do governo como ‘tentativa de isolá-lo’ politicamente.

A excessão de Abmael e Juares, que tem suas questões contra JJ e não são de hoje, a Câmara está refratária a Nedy. A dinâmica da política e a adesão quase irrestrita ao governo faz lembrar a histórica frase do treinador Muricy Ramalho, quando ainda comandava o time do Fluminense, em uma partida em que a vitória lhe escapou por entre os dedos: ‘a bola pune’. Em dezembro, quando teve a chance de assumir o protagonismo com o pedido de impeachment formulado contra JJ, Nedy recuou, confiando apenas que o afastamento determinado pela Justiça o manteria no comando do governo. “Agora nem o vento bate à sua porta”, alfinetou Jefferson Otto, sem a contestação de ninguém.

Em se tratando de política, a bola pune mesmo – e o passar dos dias, castigam. Se Nedy precisa se reinventar, a oposição também precisará se quiser sobreviver nesse cenário de quatro governo Jairo Jorge. E isso nem é tão novidade assim: a política vive de reinvenções. Afinal, como diria o professor Muricy, tem que haver um ‘friozinho na barriga’ e uma ‘tensão’ o jogo todo, todo jogo. “Quem está tranquilo que vá para casa”, repetia para o jogador que perdia o foco.

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