Vice recebeu servidores da Câmara para notificação sobre pedido de impeachment e falou sobre a defesa que fará: está claro como água quem Nedy tira para inimigo
Nedy de Vargas Marques é, formalmente, réu.
Denunciado em um pedido de impeachment protocolado pela eleitora Teresinha do Nascimento, ex-dirigente do PT, acolhido pela Câmara de Canoas em 25 de abril, nesta sexta-feira, 5, exatamente às 11h04, Nedy recebeu a notificação que lhe dá ciência da abertura de uma comissão processante que pode, ao fim, lhe custar o mandato de vice-prefeito conquistado em 2020. Ele agora tem o prazo de 10 dias – que começa a contar a partir de segunda, 8, e vai até 17 – para entregar uma defesa prévia à acusação de negligência por ter, de acordo com o entendimento da eleitora, atrasado propositalmente o reequilíbrio financeiro do contrato entre o município e a FUNAN, gestora do Hospital Universitário ao longo do ano de 2022. O prejuízo causado, segundo ela, é de mais de R$ 18 milhões.
Por óbvio, Nedy nega.
“Estou muito tranquilo e me defenderei com galhardia: não pratiquei qualquer ato ilegal”, rebateu, de pronto, o vice, em conversa com a imprensa. “Não existe conduta minha compatível com o diploma legal apresentado na denúncia”. Do juridiquês, traduzo: para Nedy, os atos de gestão praticados por ele no processo do reequilíbrio financeiro do HU não podem ser tipificados como crime, nem como negligência, como pretende a denúncia.
“Há dois juízes nesse caso: a Câmara e a sociedade. Preciso mostrar a prova e ela é amplamente favorável a mim”, antecipa. Na tese do vice, um julgamento de ‘um crime que não houve’ pode até ser classificado como ‘abuso do direito de julgar’, que, trocando em miúdos, ocorre quando alguém é condenado ou absolvido por conveniência e não pela prova produzida nos autos de um processo. Está tão seguro da tática para o julgamento que informou sequer ter procurado os vereadores, ao final, titulares do voto que manterá o mandato de Nedy ou lhe passará a guilhotina no posto de vice-prefeito. “Não é preciso. Como disse, preciso mostrar a prova”.
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A política, no entanto, não escapará ao impeachment, nem poderia. Nedy já ‘escolheu o inimigo’, como se diz no jargão da guerra. “Não pode um político ter desvios de conduta, usar do cargo em proveito próprio. Isso é abominável, vergonhoso. Não aguentaria olhar para minha família e para os canoenses se tivesse sido acusado de corrupção. Não sou corrupto”, afirma. “Quem está sendo processado por corrupção é o prefeito Jairo Jorge. E não sou eu quem o acusa, mas o Ministério Público, com o sufrágio do Poder Judiciário”.
Em resumo: Nedy fará um julgamento de olho na Câmara, mas também na narrativa que sustentará à sociedade; seu inimigo não é a denúncia, mas Jairo Jorge – apostaria 10 contra 1 que chamará JJ para depor, mas não sou dado a elas; a Copa Livre será trazida para dentro da comissão processante, nem que seja a fórceps.
O velho causídico dos 500 júris está afiado.