Gravataí tem uma vida perdida, centenas de animais mortos ou desaparecidos, 8 mil pessoas que perderam algo, muito ou tudo com o ciclone, mas o furacão na política é o Jeep Commander – que dá para chamar de ‘carro de luxo’, por ser avaliado em mais de R$ 250 mil – alugado ao custo mensal de R$ 10 mil para uso do prefeito Luiz Zaffalon (sem partido).
A construção da abertura deste artigo parece uma defesa de Zaffa, né? Não. É só um exercício de lógica que cometo para tentar chamar à realidade quem quiser sair daquela matrix que precisa de ‘deus e diabo’ para culpar os políticos por tudo.
Começo antecipando que acho a contratação do carrão um erro. Por mais que Gravataí seja a quarta economia gaúcha, há muita pobreza e o próprio prefeito admite, quando diz, a cada rua que asfalta em seus 200 milhões em investimentos, que não é “uma a mais”, mas “uma a menos”.
Dos Grandes Lances dos Piores Momentos, Zaffa – que desde os anos 2000 usa a expressão “petralhas” e que não considera o presidente “inocente”, como já divergimos em Lula é inocente, prefeito Zaffa! – sofre hoje um dano à imagem como no início deste mês aconteceu com Lula: no Grande Tribunal das Redes Sociais já comparam o ‘carrão do Zaffa’ com o ‘avião do Lula’.
Fato é que, como Lula recuou da compra de um novo avião, Zaffa também vai mudar o contrato da Jeep Commander.
Foi o que o prefeito informou nesta manhã ao Seguinte:. Instado a se manifestar, o ‘sincericída’ não decepcionou quem confia que nem Tulio Milmann o dobre.
– Claro, sou transparente e sincero – disse, ao ser questionado se falaria sobre a ‘denúncia’ feita pelo vereador Paulo Silveira (PSB) na sessão da Câmara, na noite de ontem.
Reproduzo a resposta de Zaffa pelo WhatsApp, com exclusividade para o Seguinte:, e, abaixo, sigo.
“(…)
Eu ando pela cidade toda. Já sofri numa propriedade rural por andar com carro simples. Sábado entrei no Itatiaia porque ando numa 4×4. Preciso de um carro assim que suporte 5 pessoas com algum conforto. Quando fui a Passo Fundo buscar a São João, fomos em cinco amassados. Foi horrível e isto ocorre todas semanas.
Mas o carro não é o problema. Vou trocar por uma camionete que permita acessar qualquer ponto da cidade e não é de luxo. Pode até ser mais caro. Um carro de 250 mil virou de luxo?
Seria represália pelo sistema de controle de frota implantado? Justamente pelos secretários Mauro Bosle e Maicon Siota a meu pedido. Mauro, alvo de ataques há poucos dias. Contrariei alguém ou algum interesse? Milhões de economia com GPS em patrolas, máquinas, caminhões, carros… Ou ninguém nunca viu? Ou era interessante não ver?
Mas como você diz: bem-vindo a política. Como não vivo disto e estou aqui, E VOU CONTINUAR, por querer o melhor para nossa cidade, discordo um pouco do “modus operandi” da política tradicional. A cidade quer transparência e comigo é 100% neste quesito.
Que belo assunto foi trazido à baila. Quando meu governo descobre o erro vai lá e a gente corrige. Tem tantos outros que já arrumei e vou continuar fazendo.
Não aguentar um governo com 89,7% de aprovação e que tem resposta pronta até para ciclone deve ser horrível. Só me dão mais força.
Implantei GPS em tudo, obedecendo até lei do Bombeiro Batista, que trata disto há anos e não era cumprida. Implantei hora produtiva e improdutiva, que embora estivesse no contrato não se cumpria. Todas horas eram produtivas.
O carro? Vou trocar para uma camionete.
(…)”.
Sigo eu.
Perguntei a Zaffa se tinha uma estimativa da economia com o GPS.
– Mais de 200 mil por mês. Logo divulgaremos os dados consolidados – disse.
Ao fim, crime não é o aluguel do jipe, como suspeito poderia ser veículos ou máquinas operando 24 horas por dia – lembro o caso de Cachoeirinha, onde as operações do Ministério Público, que afastaram o prefeito Miki Breier, corroboradas pelo Tribunal de Justiça, atestavam que a varrição da avenida principal seria correspondente a uma viagem até Tramandaí.
Ok, se não é crime, absurdo é o ‘carrão’? Não é para tanto. Desnecessário, talvez. Melhor: sim. Desnecessário talvez seja a crítica correta; muito mais política do que orçamentária, já que o custo é zero vírgula zero e mais inúmeros zeros no orçamento bilionário de Gravataí.
Inegável é que pegou mal. Tanto que vereadores da base do governo – como Demétrio Tafras (PSDB) que inclusive convidou Zaffa e o vice Dr. Levi para se filiar ao partido que preside – manifestaram-se constrangidos na sessão da Câmara; e o próprio prefeito confirma agora ao Seguinte: a alteração no contrato de locação.
Mas, voltando ao exercício de lógica que abre este artigo, considero oportunismo – como o fiz em Ciclone foi uma das maiores catástrofes da história de Gravataí: prefeito Zaffa faz o que pode, comunidade faz ainda mais; O rio que corre contra o oportunismo político – trazer este contrato de 19 de maio como ‘denúncia’ justamente no momento em que sobrevivemos à maior tragédia da história de Gravataí.
Conhecem aquela dos ‘2 Ts’? “Toda verdade tem dois Ts: tom e tempo”. Acerta Zaffa, após o que reputo erro, ao cancelar o aluguel do carrão, porque o tom e o tempo de hoje são de ciclone e devastação; e os políticos, como servidores públicos, precisam estar atentos aos humores e às mazelas de quem os coloca nos palácios.
Inegável é, também, que a III Guerra Política de Gravataí – Zaffa x Marco Alba, pós Abílio x Oliveira e Bordignon x Stasinski – resta mais declarada do que nunca.
Convençam-me do contrário, mas Zaffa, em sua resposta ao Seguinte:, parece ao menos desconfiar de que é alvo de ‘fogo amigo’, ou ‘ex-amigo’.
Meus 26 anos de cobertura política da aldeia me permitem desconfiar que o prefeito identificou que a ‘denúncia’ do carro partiu do grupo de seu ‘Grande Eleitor’ de 2020, Marco Alba, que, quando prefeito, usava o símbolo dirigir e abastecer a velha – e própria – caminhonete.
“Contrariei algum interesse?”, “Discordo um pouco do modus operandi da política tradicional”, “E VOU CONTINUAR”…, são, inclusive nas letras maiúsculas, manifestações de Zaffa.
Certeza apenas que, com o perdão de usar estas expressões em momento de tragédia, na política de Gravataí experimentamos hoje um ciclone, um tufão, um tsunami, um terremoto e, conforme as eleições de 2024, o meteoro.