Sei impopular, mas reafirmo a crítica que faço desde 2021, em Vereador de Gravataí doar salário é bom para escolas e ruim para política: Thiago De Leon (PDT) agora doar parte do salário é bom famílias atingidas pelo ciclone – assim como é bom para as escolas públicas que ajuda e, por obvio, para sua imagem –, não é para a política.
Antes da análise, vamos às informações.
Há uma semana, o político postou em sua conta no Instagram a doação de R$ 4.166,26 – metade de seu subsídio líquido – em alimentos, produtos de higiene e limpeza.
Cumprindo a promessa que o ajudou na primeira eleição, em 2020, a ser eleito aos 25 anos como o mais votado da história do partido na cidade, com 1.683 votos, o cientista social também já doou para escolas públicas mais de R$ 100 mil desde janeiro de 2021.
Concorreu a deputado estadual em 2022 e recebeu 16.733 votos, 12.365 deles em Gravataí, também com a promessa de doar metade do salário, caso eleito; leia em #DasUrnas | Thiago De Leon foi a grande surpresa da eleição em Gravataí; E em um partido em extinção.
Agora vamos lá fazer o rio Gravataí correr para cima? Insisto: não é crítica pela crítica. São os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos.
Ou nunca passou pela sua timeline, no Grande Tribunal das Redes Sociais, uma petição para políticos receberem salário mínimo ou nada?
Reputo não ser papel de vereador fazer doações. Fiscalizar e legislar é a obrigação, o que, registre-se, De Leon também faz – e bem para um estreante de 27 anos.
Mas eliminar a remuneração dos políticos, ou exigir pela pressão na campanha que doem parte dos vencimentos, afasta da política quem não tem condições financeiras de se manter sem o salário.
Uma política só das elites não faz bem à democracia.
Pior: pode fazer com que o político, para se manter com esse tipo de política assistencial, pague de bonzinho doando de um lado e, de outro, morda os assessores na rachadinha de salário que, conforme o ministro do STF Alexandre de Moraes, é crime com enriquecimento ilícito e danos ao erário – o que configura ‘ficha suja’ e, em caso de condenação, inelegibilidade por 5 anos.
Ou mesmo dependa da ajuda de poderosos, que depois vem buscar a alma – ou o voto, como queiram.
Como sempre, reforço: não há nenhum relato ou indício de que De Leon esteja envolvido nisso; e nem é seu perfil, arrisco ser fiador. Investigados até hoje foram outros. Nenhum processado ou condenado.
Ao fim, se aplaudo De Leon por doar parte do salário para flagelados do ciclone, e para escolas públicas, em vez de comprar uniformes para clubes de futebol ou distribuir dinheiro para eleitores em troca de votos, também critico por, no que considero o mundo ideal, colaborar com o Zeitgeist, o espírito do nosso tempo, que não permite aos políticos nada além da presunção de culpa.
De Leon pode doar todo o salário e ainda viver bem. Assim como o vice-prefeito e médico Dr. Levi (Republicanos), que repassa todo seu salário para o Banco de Alimentos. Os dois tem dinheiro e moram na Paragem Verdes Campos, um dos condomínios nobres de Gravataí.
Não é justo exigir o mesmo de um político da periferia. E, inegável e infelizmente, é o que os feitos de De Leon e Levi induzem o eleitor.
O vice-prefeito ao menos parou de divulgar a bondade nas redes sociais.