Quem cala sobre teu corpo
Consente na tua morte
Talhada a ferro e fogo
Nas profundezas do corte
Que a bala riscou no peito
Quem cala morre contigo
Mais morto que estás agora
Relógio no chão da praça
Batendo, avisando a hora
Que a raiva traçou no tempo
No incêndio repetindo
O brilho do teu cabelo
Quem grita vive contigo
Quem grita vive contigo
Essa é a letra de “Menino”, feita por Milton Nascimento e Ronaldo Bastos após a morte do estudante Edson Luís pela polícia da ditadura, durante protesto em 28 de março de 1968, no restaurante estudantil Calabouço, no Aterro do Flamengo. O assassinato covarde restou na famosa Passeata dos Cem Mil.
Como grito desde a época – mesmo que da distância e tamanho meu e de minha aldeia – contra a injustiça que levou ao suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier, aplaca um pouco a raiva ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino, tuitar neste sábado que, após o Tribunal de Contas da União (TCU) concluir que não houve irregularidade no programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vai mandar apurar possíveis abusos e irregularidades na Operação Ouvidos Moucos, desdobramento da Lava Jato, que em 2017 levou o então reitor à prisão.
Dezessete dias depois, Cancellier cometeu suicídio, no meio de um shopping. No bolso um bilhete com a explicação: “Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”.
Reproduzo o Twitter e, abaixo, sigo.
Para quem não conhece a história, que já relembrei em tantos episódios envolvendo condenações prévias e a presunção de culpa do Grande Tribunal das Redes Sociais envolvendo personagens locais, recomendo assistir o documentário abaixo, produzido pelo jornalista Luiz Nassif.
Ao fim, deixo mais um grito: teremos justiça, ou o Judiciário vai passar pano e limpar o sangue das mãos do lavajatismo, como antítese da canção, morrendo mais uma vez?
Assista ao doc