Vitória do vice antecipa discussões entre aliados, consolida os desaliados e novas conexões para 2024 – assuma isso Nedy ou não
A vitória de Nedy de Vargas Marques que soterrou na quinta passada o impeachment contra o vice-prefeito ainda terá desdobramentos. O primeiro deles, por imediato, será a conformação de uma nova oposição e, quem sabe, um candidato para 2024 com a proposta de ‘peitar’ a parceria Jairo Jorge/Luiz Carlos Busato nas urnas.
Se este nome é Nedy, ainda estamos por descobrir.
A vitória contundente do ‘homem dos 500 júris’ na quinta o colocou numa inédita condição de vice-prefeito líder da oposição. Especialmente pelo discurso que sustentou durante todo o processo de impeachment de era JJ e não a proponente Terezinha do Nascimento o principal interessados em afastá-lo do paço e garantir uma linha sucessória do mesmo grupo majoritário que hoje tem hegemonia da política da cidade. Ao contestar JJ, Nedy inevitavelmente se transforma na grande asa da mamãe ganso que protege sob si os descontentes de toda natureza – dos mais antigos, Juares Hoy (PTB), Cézar Mossini (MDB) e Abmael (Solidariedade); aos mais recentes, Márcio Freitas (Avante) e Maria Eunice (PT).
Numa rápida conversa com o blog no dia seguinte ao fim do julgamento, com a rouquidão na voz de quem comemorou a quinta até que sexta já fosse, Nedy negou que pensa em ser candidato. Disse o mesmo para uma entrevista que concedeu ao Diário de Canoas e, em seguida, ao colega Marco Leite. Disputar uma eleição tem um pouco de decisão pessoal, por certo, e acredito que a respeito disso Nedy tenha se manifestado com franqueza. Mas ser candidato também é uma espécie de imposição coletiva, fruto do amadurecimento político de uma proposta ou da condição peculiar que alguém representa. Disse dias atrás e repito agora, que com ou sem impeachment, o calendário da eleição começava depois da votação sobre a cassação do vice. Começou. E Nedy, queira ou não assumir isso, virou protagonista para 2024, para o bem e para o mal, seja ele estilingue ou vidraça. Nenhuma vitória será impune – e Nedy, logo, terá de enfrentar essa nova condição.
O núcleo político do governo sabe disso. Ainda na quinta, com a absolvição de Nedy ainda sendo comemorada no carpete surrado do plenário da Câmara, já se tratava no paço da demissão de assessores ligados a vereadores que ‘roeram a corda’ ao se comprometerem com o grupo majoritário e, depois, emprestarem apoio ao requerimento que enterrou o impeachment do vice. Na sexta, outros 30 também deram adeus ao Executivo, sumariamente. É certamente um recado. O governo precisa da Câmara e terá que construir sua maioria com os vereadores que ali estão, mas considera aproximar-se daqueles que, pelo menos, enxergam 2024 sob um ponto de vista de proximidade. Cada vez mais fica claro que serão mantidos os aliados que se comprometerem com a continuidade do próprio governo – o que leva necessariamente às urnas, lá em outubro do ano que vem.
Nesse quadro esquisito, em que o vice é o líder da oposição e ela se fortalece com um ‘não’ a um impeachment sem crime imposto como necessidade política, em que parceiros se tornam ‘desaliados’ por necessidade de sobrevivência ou vontade política, está a nossa cidade.
Observemos – e torçamos por maturidade.