RAFAEL MARTINELLI

WhatsApp-bomba: presidente do MDB detona prefeito Zaffa: “O empenho da palavra não é o seu forte”; A III Guerra Política de Gravataí no Diário Oficial

Alan Vieira, vereador que preside o MDB, foi coordenador da campanha de Luiz Zaffalon à Prefeitura de Gravataí e é afilhado político do ex-prefeito Marco Alba (MDB), enviou ao prefeito um ‘WhatsApp bomba’ o detonando.

Reproduzo na íntegra o texto que o Seguinte: teve acesso e, abaixo, sigo.

“(…)

Sr. Prefeito Zaffalon, a militância do MDB merece respeito incondicional!

Na condição de presidente do MDB de Gravataí, coordenador da sua campanha, presidente da Câmara e líder do governo nos primeiros dois anos e cinco meses da sua gestão, tive a responsabilidade de coordenar a base política de sustentação na Câmara. Com isso, garantimos a aprovação de matérias relevantes, como a última fase da reforma da previdência e todos os demais projetos de leis que garantiram o cumprimento das metas estabelecidas no nosso projeto de cidade, implantado pelo ex-prefeito Marco Alba, através dos PPAS 2014/2017 e 2018/2021.

O compromisso sempre foi de continuidade desse projeto, motivo da escolha, pelo MDB, da sua candidatura para prefeito nas eleições de 2020. Tendo em vista a sua saída do partido, no início de maio do corrente ano, comunicado via Zero Hora, na página da colunista Rosane Oliveira, e a partir de todas as mudanças que vêm acontecendo para a nova composição política do governo, até então liderado pelo MDB, passo a expor o que segue.

Em 2020, nos seus 67 anos de vida, Sr. Prefeito Luiz Zaffalon, boa parte desse tempo ocupando cargos públicos confiados pelo MDB, o senhor era um agente político sem voto. Tinha méritos técnicos, mas nunca havia ombreado com a militância de rua. Convém lembrá-lo – a Sociologia que o senhor diz ter estudado explica isso – de que o espírito de uma democracia representativa reside na capacidade de mobilização de um partido político, trabalho esse feito por militantes. Tarefa que se torna ainda mais difícil e árdua quando, como foi no seu caso, o desafio é apresentar e defender um ilustre desconhecido em disputas de voto.

Talvez os fatos de hoje ajudem a entender porque até 2020 nunca havia lhe sido dada a oportunidade de concorrer. Justamente porque eleição é um pacto de palavra empenhada. É coisa para homens honrados e lição de casa, de boa educação. Esta é a única explicação razoável para o fato de o Senhor, hoje, estar retaliando e expurgando do governo aqueles que o elegeram. No lugar desses, chama antigos adversários políticos seus e do MDB, em uma total inversão de valores.

Em resposta à colunista política de Zero Hora, que o denominou de “poste”, sua alegação é de que estaria saindo do MDB para que o debate político ficasse de fora do governo. Mais uma vez o Senhor deu provas de que o empenho da palavra não é o seu forte. Em verdade, desde então, todos os seus movimentos são exclusivamente no sentido de garantir que o Senhor seja candidato à reeleição. Em nome disso, passa por cima daqueles que o ajudaram. Desrespeita e assedia moralmente, cobrando lado político, pessoas que sempre cumpriram com suas responsabilidades.

O Senhor, hoje, pode sim estar à frente de um governo que tem legalidade, mas que prescinde de legitimidade. O arranjo e as acomodações políticas que o senhor tem feito, em favor de um projeto pessoal de candidatura, descaracterizaram por completo a ideia de um governo de respeito e de valor que havíamos apresentado aos eleitores. Em meio aos seus movimentos de busca por partido e por aliados de ocasião, os emedebistas, assim como a bancada de vereadores na Câmara, seguiram sendo leais e responsáveis pelo projeto vencedor que implantamos em 2013, sob a liderança do ex-prefeito Marco Alba, com o qual o senhor assumiu, perante os eleitores de Gravataí, o compromisso de manter e dar continuidade àquele modelo de comportamento político, de gestão e do governo.

A ingratidão política, Senhor Zaffalon, tem um dano muito maior, para além de eventual prejuízo aos traídos. Ela, a traição, golpeia o processo político, nos faz retroceder no esforço de construção de uma política séria, em que a ética e a palavra empenhada são valores inegociáveis. Por isso, Senhor Prefeito, é que a política é do campo das ciências humanas, porque se movimenta e é feita por gestos humanos.

A militância do MDB segue altiva, firme nos seus propósitos de luta e de valores. A sua trajetória, Senhor Prefeito, está sendo escrita em uma das páginas mais tristes e nebulosas da história política do Município, cujo retrocesso político, com as práticas do toma-lá-dá-cá, iguais às de Brasília, que senhor vem implantando e afirmou em reunião da sua nova base ser “normal”, tudo isso, prefeito, seguramente comprometerá o crescimento e o futuro da nossa cidade, pois não é aceitável tamanho recuo político depois de todos os avanços e conquistas que promovemos em nossa cidade.

Diante do exposto, venho lhe informar que fique à vontade para continuar agindo e tomando as decisões ao seu modo, como tem sido desde maio, com relação às ocupações dos espaços pela brava e responsável militância do MDB. Militantes e ex-companheiros seus de partido que hoje são alvo de retaliação, perseguição e exoneração sem motivação justa. Suas razões, e isso tem sido dito aos demitidos, são de ordem política; e na maioria das vezes, de forma covarde, comunicando por meio de WhatsApp, pois lhe falta coragem para olhar nos olhos de pessoas humildes, que fizeram parte da valorosa militância que o elegeu prefeito de Gravataí.

Como não é do seu feitio o diálogo e o cumprimento da palavra, preferindo se comunicar por WhatsApp, informando a decisão tomada ou convocando para reuniões cujas decisões também já estão firmadas, não há por que nos reunirmos. Respeite o MDB, Senhor Prefeito!

Atenciosamente,

Alan Vieira

Presidente do MDB de Gravataí

(…)”

Sigo eu.

Quando Zaffa se desfiliou do MDB, o partido já tinha divulgado uma nota pesada – leia em Bomba em Gravataí! Nota do MDB é um aceite da guerra entre Zaffa e Marco Alba e III Guerra Política de Gravataí: o que diz Zaffa sobre a nota do MDB e sua desfiliação –, mas não desembarcou, nem foi desembarcado de vez do governo.

Com o WhatsApp-bomba desta quinta-feira, a permanência dos emedebistas em cargos – a ‘Situação B’, como chamo, pelo prefeito ter construído uma nova base de governo, a ‘Situação A’ – parece questão de (bem pouco) tempo.

Dificilmente vai perdurar até março, conforme acordo que havia entre o partido e o prefeito, com a distribuição de CCs conforme a proporcionalidade dos votos dos partidos na eleição de 2020.

Alan não atendeu ao Seguinte:.

Pelo que apurei, não há relação entre o WhatsApp-bomba e o vídeo que circulou ontem, também pelo zap – já identificado como “frequentemente encaminhado” –, contendo áudio do prefeito reclamando, em reunião, da repetição por CCs da Prefeitura de que ações de seu governo eram “legado” do ex-prefeito Marco Alba.

– Falando disso, daquilo, o legado… Chega de falar dessa m.! – diz Zaffa, no áudio gravado clandestinamente, onde também fala que Alan “não é o presidente do partido, é gerente da lojinha, está lá cuidando da loja”.

O WhatsApp-bomba já estaria escrito quando o vídeo circulou.

Ao fim, é a Batalha do WhatsApp, que inscreve o 14 de setembro de 2023 na III Guerra Política de Gravataí – Zaffa x Marco, pós Abílio x Oliveiras e Bordignon x Stasinski – como o dia em que parece ter terminado o armistício pela governabilidade entre o MDB e Zaffa; que já teria 11 votos necessários para aprovar projetos sem depender do ex-partido, conforme observei em Cai Coronel Flávio: Zaffa exonera mais um secretário de confiança de Marco Alba; A III Guerra Política de Gravataí e as melancias.

“Agora, isto não é o fim. Nem sequer é o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo”, diz a célebre frase de Churchill. Parafraseando, a permanência do MDB no governo parece estar mais perto do começo do fim. Se é que o ‘the end’ não aparece com demissões em massa – e não mais a conta gotas – em edição extraordinária do Diário Oficial de hoje.

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