Canoas registrou na manhã de terça, 26, o maior índice de precipitação desde a histórica enchente que marcou o início da década de 40. Granizo atingiu quadrante Nordeste na madrugada e bairros mais baixos estão em permanente monitoramento
Setembro de 2023 ganhou seu espaço na História.
Até por volta das 8h da manhã desta terça-feira, havia chovido cerca de 476mm em Canoas em 26 dias corridos. É o maior registro de precipitação na cidade para um único mês desde que os dados vem sendo compilados – em Porto Alegre, os dados começaram a ser pontuados em 1916, incluindo Canoas; por aqui, a instalação da Base Aérea, em 1937, abriu esse tipo de registro local. Para se ter uma ideia do que isso significa, em abril de 1941, quando uma chuvarada parecida inundou Canoas, Porto Alegre e arredores, houve 405mm de chuva em um período de 35 dias iniciados em 6 de abril daquele ano.
À tarde, o volume de chuvas já passava de 500mm – mais do que um recorde, uma calamidade.
Desde sábado, o EClima, Escritório de Resiliência Climática, está de prontidão para situações de emergência à frente de um Comitê de Crise. O comitê vem acompanhando os dados, mantendo as casas de bomba funcionando e intervindo pontualmente onde o nível de água costuma subir mais para evitar que famílias sejam desabrigadas devido às condições do tempo. Nenhuma das casas apresentou defeito nos últimos dias, mas não quer dizer que não houveram problemas. Na segunda-feira, 25, um sofá foi retirado da grade que protege o acesso à uma das bomba de recalque: o móvel havia sido jogado na vala da Rua Curitiba.
Não é, infelizmente, um caso isolado. O lixo atirado ao chão e o propositalmente abandonado em áreas inadequadas é tanto que as equipes não dão conta de evitar que tudo isso pare às portas da casas de bomba. Garrafas pet, plásticos e pneus, então… é de se perder nas contas de tantos que são. Esse problema aparece mais ao longo da vala da Curitiba e próximo aos arroios que cortam a cidade. Mas nos fundos dos bairros Fátima, Rio Branco e Mato Grande também se percebe o problema. Se não por educação, o medo da enxurrada precisa nos conscientizar mais a respeito do lixo que produzimos.
Nas áreas mais baixas da cidade, ruas e praças acumulam bastante água – mas ainda não há bloqueios permanentes. A exceção é a prainha do Paquetá. Por lá, o nível do Rio dos Sinos subiu até perto do piso das casas construídas sobre postes mais altos, também conhecidas como palafitas. A Rua da Barca e a Fazendinha estão na mesma situação. Na segunda-feira, 25, a maioria das famílias preferiu permanecer em suas residências especialmente por medo que suas propriedades fossem invadidas ou vandalizadas. A Defesa Civil permanece à disposição para remoção das pessoas com auxílio de barcos e caminhões.
Nos bairros Mathias Velho e Harmonia, há diversas ruas com água sobre a pista. Terrenos baixos também estão alagados nos bairros Estância Velha, Olaria e São Luís. Há poucos relatos de casas invadidas pela água, mas há o temor de que o ritmo de elevação dos rios do Sinos, Gravataí e Jacuí ainda possa provocar transtornos. Com a trégua que os céus estão dando a partir desta quarta-feira, 27, esse é a principal preocupação das autoridades.
Granizo na terça, risco na quarta
Há, ainda, uma alerta de ciclone, tempestade e até granizo sobre toda a região de Canoas, Vale dos Sinos e Gravataí. O alerta indica que o clima atmosférico apresenta condições para formação dos fenômenos, mas não dá certeza de que eles ocorrerão. Na madrugada de segunda para terça, o granizo atingiu cerca de 800 casas em Canoas. As regiões mais afetadas ficam no quadrante Nordeste, nos bairros São José, Igara e Guajuviras.
As subprefeituras e a Defesa Civil já distribuiu cerca de 3,8 mil metros de lona para cobertura provisória de residências.
Decreto de emergência
No final da tarde de terça, 26, o prefeito Jairo Jorge assinou o decreto 394/2023, que declara situação de emergência na cidade. O documento facilita as compras públicas para reestabelecer a normalidade dos serviços e mobilidade na cidade. A publicação e o reconhecimento pelo Estado e pela União a respeito da situação de emergência também permite que moradores de Canoas tenham acesso aos recursos disponíveis no FGTS e aos auxílios para os atingidos por calamidades.
Ainda nesta quarta-feira, o prefeito Jairo Jorge vai a Brasília tratar de assuntos ligados à Saúde, mas também tensionará o governo federal a respeito de uma ajuda específica para recuperar os estragos do temporal.
Suporte
Em virtude dos chamados da comunidade com pedidos de ajuda, a Defesa Civil de Canoas, além da sede (rua Bandeirantes, 450, bairro Nossa Senhora das Graças), concentrou a distribuição de lonas na Praça da Juventude (Rua Maria Faustino Corrêa, 618, Guajuviras) e nas subprefeituras Centro (rua Euclides da Cunha, 280), Nordeste (av. Boqueirão, 3154, Estância Velha), Noroeste (rua Candelária, 441, Mathias Velho), Sudeste (rua Marechal Rondon,100, Niterói) e Sudoeste (rua Edgar Fritz Muller, 430, Rio Branco).
Até o fim da tarde desta terça-feira (26), às 18 h, a Defesa Civil já havia atendido em torno de 3.870 famílias com a entrega de cerca de 30 metros quadrados de lona para cada. As subprefeituras Noroeste e Nordeste seguirão abertas até às 20h desta terça, com a distribuição de lonas.
Assistência social
Em torno de cinco famílias ficaram desalojadas em virtude da cheia do Sinos e das fortes chuvas e seguiram para casa de familiares. Um total de 23 pessoas seguiram a um dos abrigos disponibilizados pela Prefeitura.
Os ginásios das EMEFs Paulo VI (Av. Irineu Carvalho Braga, 2781, Fátima) e Thiago Würth (Av. Rio Grande Do Sul, 4240, Mathias Velho) estão abertos para receber famílias desabrigadas ou desalojadas.
Em caso de emergência
Casos de emergência relacionados à cheia podem ser comunicados à Defesa Civil pelos telefones (51) 3476-3400 e (51) 99322-5764, assim como ao Corpo de Bombeiros pelo 193. A Guarda Municipal (GM) de Canoas também está de prontidão no telefone 153, enquanto que os transtornos em vias podem ser comunicados à Diretoria de Trânsito, no número 156.
Com informações do ECom/PMC