Presidente da Câmara em exercício fez visita ao presidente do TRF4 e abriu uma noite de cogitações sobre o que um disse ao outro
Gilson Oliveira (Avante) tem o mesmo tempo de presidência da Câmara que Cris Moraes (PV) tem de prefeito: assumiu o cargo na esteira do afastamento de Jairo Jorge e na assunção de alta repercussão do colega ao governo. Tem feito uma agenda de impacto, para dizer o mínimo.
Lembro aqui que partiu dele a iniciativa de oficiar a Prefeitura e pedir o livro ata de registros de posse – aquele que disseram que sumiu e que sempre esteve no lugar de sempre. Não levou, mas o movimento ‘chacoalhou’ os aguapés. O telefone de Gilson nunca tocou tanto quanto naquela sexta, 24. E daí foi um ‘tu-estás-do-lado-quem’ para lá e para cá, pressão dali e de acolá para tomar alguma iniciativa ou fazer o que o rei da Inglaterra, Charles III, faz de melhor – que é não fazer nada.
Nesta sexta, 8, Gilson fez.
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Ele esteve visitando o gabinete do presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o TRF4, desembargador Fernando Quadros da Silva – é no TRF4 que atualmente correm os processo da Copa Livre, a investigação que resultou em novo afastamento do prefeito Jairo Jorge. Gilson e o desembargador Quadros da Silva se conheceram e almoçaram juntos em um evento promovido pela Aeronáutica na Base Aérea de Canoas há pouco mais de três semanas. Foi lá que o vereador tirou a pitoresca foto dentro da cabine de um caça que cindiu as redes sociais como as aeronaves fazem sobre o bairro Niterói, de segunda a segunda. No evento, enquanto os comandantes militares apresentavam a força brasileira e o potencial de ataque/defesa do país no caso de uma hipotética guerra, Gilson e o desembargador trocaram cartões – e combinaram um visita do vereador ao tribunal para conhecer a glamurosa vista do gabinete da presidência para o Guaíba.
Pronto. O ‘sextou’ desta vez foi de especulações correndo soltas: o que ele foi fazer lá? O que disse para o desembargador? O que ouviu dele?
Nada disso e muito antes pelo contrário
“Foi uma visita de cortesia, só isso”, garantiu Gilson, em uma conversa com o blog. “Claro que falamos da situação de Canoas, é notícia para todo mundo, mas não tratamos disso. Ele havia me convidado para visitá-lo e agora, no exercício da presidência da Câmara, aceitei”.
Políticos costumam desconfiar até da própria sombra e interpretaram a agenda de Gilson com o desembargador como muito mais do que um ‘passeio para ver o Guaíba da janela’. Pessoalmente, não tenho motivos para desconfiar das intenções de Gilson. E como por vezes o sempre atacado jornalismo é que precisa trazer razão aos debates, recomendo algumas impressões sobre a visita.
A primeira – e mais óbvia -, é que o desembargador não trata sobre os processos de JJ e, se tratasse, não poderia discuti-los com alguém que não faz parte do ‘feito’ – que é o processo em si. A segunda: o principal interessado no afastamento de Jairo Jorge, Nedy, já tem seus advogados atentos aos andamentos da Copa Livre. Rodrigo Schmitt, amigo e número 1 do vice, sempre que pode dá um pulo no TRF4 – e tem podido mais nestes últimos dias. Ele, inclusive, denunciou a participação de Jairo na pré-convenção do PSD no sábado passado, dia 2, o que considerou uma quebra das regras da cautelar imposta pela 4ª Seção do tribunal, embora a defesa do prefeito garanta que, desta vez, a medida de afastamento não vem acompanhada de outras restrições como as impostas anteriormente.
Para o bem e para o mal, Gilson está fazendo seu papel na titularidade do cargo que ocupa, pelo tempo que ocupar. Tem esperança e torce para que o acordo sobre a presidência da Câmara, firmado sob o aval de Jairo Jorge e Nedy em 2021 seja mantido e o conduza de forma definitiva ao posto em 2024 – o que, às vezes, preciso dizer, parece tão distante quanto o que a vista alcança da janela do desembargador Quadros da Silva.
A favor de Gilson, no entanto, pesa essa política de cabeça para baixo que estamos vivendo: de repente, a virada de mesa será fazer o que espera que seja feito – e nada mais do que isso.