Vereador apresenta pedido de informações para receber contratos e pagamentos do MACA que era comandado pelo tio da esposa, de quem agora é um notório desafeto político
A janela do troca-troca nem chegou e a Câmara de Canoas já está incendiando.
Jonas Dalagna (Novo) arrecadou primeiro cinco e, depois, nove assinaturas de colegas para um pedido de informações sobre os contratos do MACA, o Movimento Ação por Canoas, que foi dirigido pelo tio de sua esposa, o empresário Giovani Rocha. Quer esmiuçar os documentos e pretende abrir até uma CPI, se for preciso, para por o ‘ex-amigo’ sob investigação. Acredita que, se for a fundo, acha irregularidades – mas de ante-mão, não tem nada para por sobre a mesa.
A ruptura de Jonas com Giovani aconteceu ainda no ano passado. O empresário foi padrinho de casamento do vereador e sua esposa, Fernanda, trabalhava no salão que é frequentado com clientes como Taís Pena, esposa de Jairo Jorge. Ela foi, aliás, já foi presidente do MACA e, por conta da amizade com Giovani, o incentivou a assumir a direção da entidade. Fernanda é sobrinha de Giovani.
Em uma mudança repentina no salão, Giovani demitiu vários parentes que trabalhavam com ele, inclusive Fernanda. Os dois acabaram rompendo e ela o acionou na Justiça do Trabalho, mas o blog não tem informações ou detalhes do processo. Em dezembro do ano passado, Fernanda também foi arrolada como testemunha em uma investigação conduzida pela Polícia Civil a partir de uma denúncia de um ex-aliado de Giovani que o acusa de praticar ‘rachadinhas’ ao indicar nomes para compor o governo de Jairo Jorge.
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A relação que já era ruim esculhambou ainda mais. Registros policiais, ameaças, processos e bastante roupa suja lavada em público. Até um acidente de trânsito em que Jonas esteve envolvido há 16 anos foi levantado e teve de ser explicado pelo vereador em suas redes sociais, recentemente.
O pedido de Jonas para investigar o MACA e, por consequência, Giovani, tem cores de revanche? Tem, sim – não dá para negar. Mas é prerrogativa do vereador apurar quaisquer dúvidas que possam ser levantadas sobre compromissos e contratos públicos, o que dá à iniciativa do requerimento e, depois, à provável CPI um grande cobertor de legalidade. E exatamente por isso, se não encontrarem nada que desabone Giovani em seu período como presidente do MACA, o transformarão em um leão nas urnas: o cabeleireiro é pré-candidato a vereador pelo PSD em outubro.
A política sempre vê a oportunidade
Há duas semanas, desde alguns dias antes do carnaval, a base aliada ao governo Nedy de Vargas Marques vinha tentando um acordo entre si para abertura de uma CPI que atinja em cheio a gestão de Jairo Jorge. O plano, ao fim, seria impor ao prefeito afastado um processo de impeachment, mas diante da falta de maioria, líderes pró-governo admitem se contentar com uma CPI e o inevitável ‘desgaste’ que ele infringe aos investigados a poucos meses do processo eleitoral.
Nesta segunda, 19, o governo tem 10 votos de 21 no plenário da Câmara.
A briga de foice no escuro de Jonas com Giovani e a disposição do vereador em investigar o MACA para apontar o dedo ao seu algoz deu a oportunidade perfeita para a base entrar na jogada. Quando falou sobre o requerimento com seus colegas, de cara, levou quatro assinaturas de apoio: Márcio Freitas, Gilson Oliveira, Juares Hoy e um improvável Leandrinho, do PSD de JJ e Giovani.
Na sequência, também assinaram Eric Douglas, Airton Souza, Adriano Agitasamba e Abmael Oliveira. Agora, são nove querendo saber sobre o MACA – mais do que os sete necessários para abertura de uma CPI que se transformaria rapidamente em uma investigação de ‘alvo duplo’: por um lado, Giovani e, por outro, seus amigos Tais Pena e Jairo Jorge.
A política não perde uma boa oportunidade.